UM NOME AO SENADO – Sirlei Theis
Noites e noites de tristeza no pequeno vilarejo de Santo Antônio do Rio Bonito, no Nortão, cercado pela Floresta Amazônica por todos os lados. A menina Sirlei Theis virava de um para outro lado, não por conta dos mosquitos, que eram contidos pelo protetor em forma de rede. Ela, agoniada, mas esperançosa, sonhava acordada com a volta do pai, o seo Francisco Assis Bravo de Almeida, que um dia partiu com seu caminhão para um frete em Sorriso e nunca mais voltou.
Sirlei contava horas, minutos e segundos à espera do pai, que desapareceu misteriosamente na BR-163, no Nortão, numa época em que era comum bandido render motorista, matá-lo, jogar seu corpo na mata e fugir com o caminhão para vendê-lo a madeireiros no Pará. Aquilo era uma espécie de receptação de sangue.
Os Theis em Mato Grosso

Um caminhão herdado mudou para sempre a vida de Sirlei Theis. Gaúcha de São Luiz Gonzaga, no Território das Missões, Sirlei ainda criança mudou-se com a família para Itacorá, distrito de São Miguel do Iguaçu, no Paraná. Em 1982 as águas que formaram o lago da hidrelétrica de Itaipu inundaram Itacorá e as terras onde seu avô materno Alfredo Theis cultivava.
Retirante atingido por barragem, seo Alfredo Theis pegou a estrada para Mato Grosso trazendo a família e repetindo o caminho feito por tantos outros desalojados por Itaipu, que se transferiram para Gaúcha do Norte, Novo Mundo, Guarantã do Norte e Peixoto de Azevedo. Os Theis escolheram Santo Antônio do Rio Bonito para cultivar e viver em paz. O lugar pertencia ao então maior município do mundo, Chapada dos Guimarães, e agora integra a área de Nova Ubiratã.
Em 1988 seo Alfredo Theis morreu. O pai de Sirlei, seo Francisco Assis, assumiu as funções do sogro e para completar a renda da lavoura fazia fretes com o caminhão que lhe coube por inventário.
O caminhão, herança recebida pelo pai mudou para sempre a vida de Sirlei e sua família
Nobres, Sinop e a porta do mundo
Seo Francisco nunca voltou. A mãe de Sirlei, professora Maria Dulce, enfrentava problemas para a manutenção da casa. Por essa razão e buscando alternativa para garantir sua escolarização, a entregou aos cuidados do casal Alda e Áureo Serra, ele prefeito de Nobres. Menina ainda, Sirlei virou babá, cuidando de crianças na casa dos Serra.
De Nobres Sirlei foi para Sinop, nas mesmas condições, sendo adotada pelo casal pioneiro naquela cidade, Salete e Deonildo Testa. A atividade foi a mesma: babá.
Sinop abriu as portas do mundo a Sirlei. Ali, cursou Letras, na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e pegou a estrada para Cuiabá. O tempo passou rápido e ela estudou direito na Universidade de Cuiabá (Unic), prestou o Exame de Ordem. Vivia um relacionamento e esse a empurrou ao grupo das mulheres vítimas da violência doméstica. Saiu da relação carregando dor, cicatrizes inclusive na alma – que nunca se apagam. Voltou para Sinop, onde assessorou o então promotor e agora procurador de Justiça Paulo Prado. Dali seguiu para Nova Ubiratã, a sede do município da vila de Santo Antônio do Rio Bonito, e assumiu um cartório no fórum da recém-instalada comarca.
Cuiabá povoava sua mente. Saiu de Nova Ubiratã para a capital e foi aprovada em concurso público para a Secretaria de Segurança Pública. De 2011 a novembro de 2015 foi secretária-adjunta Sistêmica de Segurança Pública. Foi o único caso de integrante do alto escalão do governo Silval Barbosa (2010-14) que continuou na mesma função na administração de seu sucessor, Pedro Taques.
Em meio a natureza
Gaúcha de São Luiz Gonzaga, no Território das Missões, ainda criança mudou-se com a família para Itacorá, distrito de São Miguel do Iguaçu, no Paraná. Em 1982 as águas que formaram o lago da hidrelétrica de Itaipu inundaram Itacorá e as terras onde seu avô materno Alfredo Theis cultivava. Nos passos seguintes viveu em Nova Ubiratã, Nobres e Sinop, cidades plenamente identificadas com a naruteza. Àssim, numa relação prática de Sirlei com o meio ambiente, sua consciência ambiental ganhou formato, e a ela se juntou outra, teórica: seu TCC na conclusão do curso de direito foi: Licença Ambiental Única (LAU). Daí para o PV foi um pulo.
O primeiro palanque
Em 2018 o senador liberal Wellington Fagundes disputaria o governo. Wellington buscava um nome feminino para sua chapa e a procurou. Os dois se conheciam desde quando Sirlei ocupava a Secretaria-Adjunta Sistêmica de Segurança Pública. “Ele sempre foi muito presente atendendo nossas demandas”, salienta. A conversa entre os dois foi reforçada pelo PV e recebeu aval “de até onde não se possa imaginar”, acrescenta.
A chapa de Wellington ficou em segundo lugar na disputa. A campanha, percorrendo municípios, ampliou os conhecimentos de Sirlei sobre a realidade, o potencial, os problemas e os gargalos estruturais e sociais mato-grossenses.
Horizonte é marco referencial
Horizonte é marco referencial, mas não barreira aos sonhos, que podem ir muito além. Assim pensa Sirlei. Para ela, passado é passado, mas ao mesmo tempo é fonte de inspiração para os passos no agora, que é onde se encontra a modelagem da têmpera do indivíduo.
Apesar do sofrimento com a perda do avô, do desaparecimento do pai, da condição de retirante e com as cicatrizes das agressões sofridas por ser mulher vítima da violência doméstica, Sirlei é a imagem da felicidade pelo sorriso de sua filha e o afago da sua mãe, professora Maria Dulce, que escolheu Nova Ubiratã para sempre.
Guerreira, Sirlei percorre Mato Grosso proferindo palestras para mulheres vítimas da violência doméstica, que um dia também a vitimou, mas não a derrotou. Sua voz ecoa forte, sem perder a doçura e o encanto de quem venceu em paz, vive em paz e sonha com a paz.
Sirlei senadora?
Vários nomes são apontados enquanto-pré-candidatos ao Senado. O de Sirlei é um deles, nessa terra onde a participação feminina na política é muito acanhada.
A citação sobre a possível candidatura de Sirlei ao Senado tem boa aceitação tanto no âmbito dos filiados ao PV quanto aos que pertencem a outros partidos ou não se fliaram a nenhuma sigla.
Na hipótese de candidatura e vitória Sirlei manteria a presença feminina na representação mato-grossense no Senado, uma vez que a eleição suplementar definida pelo Tribunal Superior Eleitoral será para o preenchimento da vaga da senadora Selma Arruda (Pode).
COINCIDÊNCIAS – Sirlei chegando ao Senado seria a terceira senadora por Mato Grosso. As anteriores, Sery Slhessarenko (PT- 2003/10) e Selma Arruda. As três nasceram no Rio Grande do Sul e seus nomes começam com a letra S.
PS – Primeiro capítulo da série UM NOME AO SENADO
Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Agência Senado – Fachada do Congresso Nacional
2 – Facebook Sirlei Theis
Vida triste de uma grande mulher e eu passei a admirar essa guerreira
Suely Vilela – professora – via WhatsApp – Cuiabá
História linda de superação que hoje nos ajuda tanto a superar e vencer nossos medos. Deus me deu nossa amizade como presente, e com O sempre digo, devo a vida a esta mulher!
Mulher forte e de muita coragem, é um nome que me representa e representa todas as mulheres. Acredito na honestidade e na coragem dela
Tive a honra de trabalhar com essa guerreira e grande profissional, mulher de garra e visão,tenho certeza que SIRLEI é um novo conceito na política ñ só matogrossense mais no âmbito nacional sem sombras de dúvidas.