UM NOME AO SENADO – Adilton Sachetti
Ailton Chacrete… Adilson Xaxete… Airton Sunchete... Anilton Só Sete… . Muitos em Rondonópolis não sabiam ao certo o nome do afilhado político do governador Blairo Maggi, escolhido candidato a prefeito pelo PPS. Isso, em 2004, com a popularidade de Blairo no alto, pouco contava. O importante era eleger o felizardo. Assim, Adilton Domingos Sachetti sob as bençãos do padrinho Blairo venceu a eleição para a prefeitura com 30.932 votos derrotando o então deputado federal Wellington Fagundes (PL), com 27.931 votos; o à época deputado estadual Zé Carlos do Pátio (PMDB), com 26.133 votos; e Carlos Ihamber (PDT), com 1.153 votos. Transcorridos quase 16 anos, bem conhecido naquela cidade e nos demais municípios, o nome de Adilton – agora com pronúncia correta – volta à cena enquanto pré-candidato ao Senado, pelo PRB.

Adilton integra um grupo com cerca de 20 nomes em busca da cadeira da senadora Selma Arruda (Pode), cassada em 10 de dexembro do ano passado, pelo Tribunal Superior Eleitoral, por 6 a 1, pelos crimes de caixa 2 e abuso de poder econômico na eleição ao Senado. Juntamente com a senadora foram cassados os suplentes Beto Possamai e Clerie Fabiana, ambos do PSL.
O primeiro passo político
Adilton mesmo apadrinhado, bateu na trave para se eleger prefeito. Para facilitar a caminhada do afilhado de Blairo, seus aliados políticos na cidade trataram de escolher um candidato a vice que tivesse cheiro de povo. Manoel Machado, o Maneco (PSL), militante comunitário em Vila Operária, se encaixou como luva no projeto. Vila Operária é um distrito com vários bairros densamente povoados, que a título de peso eleitoral pode ser comparado ao CPA em Cuiabá ou ao Cristo Rei, em Várzea Grande. Mais: aquela região é um reduto do antigo PMDB (agora MDB) por força da liderança do padre Lothar Bauchrowicz, que endeusa o cacique Carlos Bezerra – à época o avalista de Zé Carlos do Pátio, que foi um de seus adversários na disputa..
Com Blairo abençoando e Maneco quebrando a pose nobre de Adilton a campanha avançou. Certa noite Adilton seguiu para um comício numa vila, mas não sabia o caminho nem onde exatamente ficava aquela comunidade. Nas imediações de Vila Operária parou o carrão ao lado de um grupo que conversava. Baixou o vidro e sem cumprimentar ninguém perguntou onde ficava uma tal de Vila Clarion. Recebeu a informação e perdeu alguns votos.
Eleito e empossado passou a se sentir filho único da rainha da Inglaterra, que estaria doente e a poucos suspiros de lhe entregar a coroa e o reino. Sua administração teve aprovação popular, mas ele não soube viver o calor humano que é a grande marca de Rondonópolis.

Quatro anos depois de entrar na prefeitura, Adilton saiu pela mesma porta. Em 2008 tentou a reeleição pelo PR. Recebeu 46.975 votos perdendo para Zé do Pátio (PMDB), que conquistou 51.775 votos.
Naquela eleição João Antônio Fagundes (PR), filho do então deputado federal e agora senador liberal Wellington Fagundes, foi companheiro de chapa de Adilton; e Marília Salles (PSDB), mulher do ex-governador e ex-prefeito Rogério Salles, fez dobradinha com Zé do Pátio.
Na tentativa de reeleição Adilton se aproximou da população, mas não chegou ao ponto de comer pastel na Barraca da Zizi, na feira-livre de Rondonópolis. Isso, não!
Os hábitos nobres foram mantidos, mas ele cedeu ao se aliar a Wellington Fagundes, que foi seu adversário no pleito anterior, e até aceitou ser batizado por índios bororos da reserva Tadarimana, ao lado da cidade, onde recebeu boa votação em suas candidaturas a prefeito.

Durante o mandato de Adilton entrei uma vez em seu gabinete. Foi dois dias após a eleição em que Zé do Pátio o jogou na lona. O entrevistei para um balanço de sua administração; em duas ocasiões, tomado pela emoção, não conseguiu conter as lágrimas. Estava arrasado. Não era mais o homem de nariz empinado, que certa vez disse algo que está marcado junto ao povo rondonopolitano, mas que o mesmo nega sempre que esse fato é citado. Alguém perguntou se ele seria racista e se menosprezava a pobreza. “Não sou racista; o Maneco, meu vice, é preto, pobre, analfabeto e mora na periferia“. Claro que Adilton nega com convicção, e não há registro em áudio ou vídeo, mas o certo é que ainda hoje, esse espisódio far parte do cardápio político naquela cidade.
Na tentativa de reeleição Adilton estava filiado ao PR (agora PL) e o presidia em Rondonópolis. A mudança de sigla foi pra acompanhar o padrinho Blairo, que trocou o PPS por aquela sigla, quando de uma fusão partidária.
Prêmio de consolação
Como prêmio de consolação pela derrota, Blairo criou a Secretaria Extraordinária de Apoio e Acompanhamento às Políticas Ambientais e Fundiárias, que não tinha pé nem cabeça e em 2 de junho de 2009 nomeou Adilton seu titular. Essa secretaria teve sobrevida curta.
Mesmo com as asas políticas quebradas Adilton permaneceu em Rondonópolis, mas em 2009 tinha planos para Cuiabá, que iam muito além da insossa secretaria que Blairo lhe jogou no colo e que ele tocava mesmo morando em Rondonópolis. Em 18 de julho daquele ano voei de Várzea Grande a Manaus, nos dois sentidos, cobrindo um voo inaugural da TRIP (agora Azul), que acabava de incorporar o jato Embraer 175 à sua frota e o apresentou a autoridades dos dois estados e de Rondônia. Na volta, eu na última fileira, bem longe dos ocupantes nobres dos assentos, ganhei a companhia de Adilton, que me confidenciou, “o Blairo pediu pra que eu assuma uma agência que está sendo criada pra cuidar da Copa do Mundo. Vou entregar a presidência do PR de Rondonópolis ao Ananias (Martins, então vereador) e ficarei por um período em Cuiabá”.

Em 12 de novembro de 2009 Blairo empossou a diretoria da recém-criada Agência Estadual de Execução dos Projetos da Copa do Mundo do Pantanal (Agecopa), com Adilton na presidência e seis diretores: Yênes Magalhães (Planejamento e Gestão), Jefferson de Castro (Orçamento e Finanças), Yuri Bastos Jorge (Assuntos Estratégicos), Carlos Brito (Infraestrutura), Roberto França (Comunicação e Marketing) e Agripino Bonilha (Articulação Interinstitucional). Junto com a presidência o governador deu carta branca pra Adilton contratar 80 aspones graúdos, além de outros cargos menores.
Na Agecopa briga era o que não faltava. Ninguém se entendia, mas em meio a tanto estrelismo o desentendimento entre Adilton e Yuri ganhava espaço acanhado no noticiário bem atrelado ao poder. Em outubro de 2010 Adilton entregou o cargo ao então governador Silval Barbosa, que nomeou Yênes presidente interino. No adeus o ex-presidente disse que a Agecopa queria se transformar em poder paralelo.
Inelegível em 2010 por conta da Agecopa, Adilton voltou à cena política em 2014 pelo PSB e se elegeu deputado federal com 112.722 votos (7,75% do eleitorado), dos quais 47.866 em Rondonópolis – Nilson Leitão (PSDB) foi campeão de votos ao cargo com 127.749 votos.
Deputado do baixo clero, Adilton não foi destaque no noticiário da Câmara. Em plenário votou favorável ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e também pela aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do Teto dos Gastos Públicos.
AO SENADO – Adilton disputou o Senado em 2018 com os suplentes Chico Galindo (PTB) e Alessandra Nicole (PRB). Galindo foi deputado estadual, vice-prefeito de Cuiabá e prefeito com a renúncia do titular Wilson Santos. Nicole presidiu a APDM – versão feminina da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM); é mulher de Alessandro Nicoli, que foi prefeito de Santa Carmem em dois mandatos consecutivos.
A coligação A Força da União, que abrigou o PRB foi liderada pelo PR (agora PL) do senador Wellington Fagundes, candidato ao governo com a vice Sirlei Theis (PV) e duas chapas ao Senado: uma encabeçada por Adilton e outra pela ex-reitora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), professora Maria Lúcia Cavalli (PCdoB), com os suplentes Gilmar Soares Ferreira, o Professor Gilmar do Sintep (PT) e Aloísio Arruda (PCdoB), além de candidatos a deputado federal e deputado estadual. Esse grupo foi formado por 10 partidos: PR, PV, PCdoB, PTB, PP, PODE, PROS, PRB, PT e PMN.
Marionete do padrinho?

Blairo, o padrinho de Adilton, na verdade é seu amigo de juventude e compadre. As casas dos dois em Rondonópolis são divididas por um muro, mas entre elas há uma passagem ‘bandoleira’. Adilton Domingos Sachetti é catarinense de Nova Veneza e tem 63 anos; é arquiteto, empresário e produtor rural. Morava no Paraná quando mudou-se para Rondonópolis em 1983 pra trabalhar em projetos do grupo empresarial da família de Blairo – nessa condição foi autor do projeto urbanístico de Sapezal, cidade fundada pelo patriarca dos Maggi, André Antônio Maggi no Chapadão do Parecis.
Presidiu o Sindicato Rural de Rondonópolis e a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa) e foi um dos criadores do Núcleo do Algodão na Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária em Mato Grosso (Fundação MT). À frente da Ampa e também em nome da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) travou uma batalha na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o subsídio que os Estados Unidos concediam aos cotonicultores americanos – o resultado foi o melhor possível para o Brasil e principalmente para Mato Grosso, que se tornou líder nacional na lavoura algodoeira respondendo por cerca de 60% da safra nacional – e venceu. Pela primeira vez os Estados Unidos perderam uma disputa na OMC.
AO SENADO – Adilton disputou o Senado em 2018 com os suplentes Chico Galindo (PTB) e Alessandra Nicole (PRB). Galindo foi deputado estadual, vice-prefeito de Cuiabá e prefeito com a renúncia do titular Wilson Santos. Nicole presidiu a APDM – versão feminina da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM); é mulher de Alessandro Nicoli, que foi prefeito de Santa Carmem em dois mandatos consecutivos.
A coligação A Força da União, que abrigou o PRB foi liderada pelo PR (agora PL) do senador Wellington Fagundes, candidato ao governo com a vice Sirlei Theis (PV) e duas chapas ao Senado: uma encabeçada por Adilton e outra pela ex-reitora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), professora Maria Lúcia Cavalli (PCdoB), com os suplentes Gilmar Soares Ferreira, o Professor Gilmar do Sintep (PT) e Aloísio Arruda (PCdoB), além de candidatos a deputado federal e deputado estadual. Esse grupo foi formado por 10 partidos: PR, PV, PCdoB, PTB, PP, PODE, PROS, PRB, PT e PMN.
SUPLEMENTAR – Adilton está na área e se cruzarem a bola, cabeceia disputando o Senado, mas sua verdadeira costura é pra voltar a ser prefeito de Rondonópolis. Sua administração naquele município é considerada excelente e não foi marcada por escândalos. Sua derrota na tentativa de reeleição, em boa parte, tem que ser debitada ao padrinho Blairo, que àquela época começava enfrentar turbulência em seu governo. Eleitores que preferiram votar em Zé do Pátio pra prefeito em 2008 refugando o nome de Adilton, se mostram dispostos a elegê-lo prefeito novamente.
RESUMO – Adilton tem experiência administrativa e parlamentar. Seu perfil é de direita e defende o agronegócio. Mesmo em período eleitoral não consegue sorrir; é isolado e não demonstra sensibilidade – ao estilo jogador de pôquer. Sua homologação ou não pra disputar o Senado vai além de sua vontade e de seu partido – passa pelo padrinho Blairo. Dependendo do andar da carruagem, pode sair chamuscado do processo eleitoral que ora se inicia, carregando a pecha de marionete de Blairo. Isso, porque Blairo embaralhou tão bem as cartas do jogo político, que ora sorri pra um, ora pra outro virtual candidato enquanto entre quatro paredes olha no espelho e pergunta baixinho pra não ser ouvido: Espelho, espelho meu, existe alguém em Mato Grosso melhor do que eu pro Senado?
PS – Esse é o décimo capítulo da série UM NOME AO SENADO. Leiam os anteriores:
1 – UM NOME AO SENADO: Sirlei Theis
2 – UM NOME AO SENADO: Waldir Caldas
3 – UM NOME AO SENADO – Neri Geller
4 – UM NOME AO SENADO – Nilson Leitão
5 – UM NOME AO SENADO – José Medeiros
6 – UM NOME AO SENADO – Maria Lúcia
7 – UM NOME AO SENADO – Carlos Fávaro
8 – UM NOME AO SENADO – Gisela Simona
9 – UM NOME AO SENADO – Max Russi
Continuem acompanhando a série – única postagem que focaliza os virtuais candidatos ao Senado na eleição suplementar em abril.
Eduardo Gomes de Andrade – Editor de blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Agência Senado
2 – Site www.marretaurgente.com.br (Rondonópolis)
3 – Jana Pessòa – Arquivo
4 – Matusalém Teixeira – Prefeitura de Rondonópolis em arquivo
5 – Site público do Governo de Mato Grosso – Divulgação
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