Um banco pra Pedro Taques – o dos réus

Na sexta-feira, 14 deste março, boa parte da Imprensa em Cuiabá abriu manchetes e desdobrou reportagens sobre a confissão do ex-secretário de Educação de Mato Grosso, Permínio Pinto, à juíza Ana Cristina Mendes, da 7ª Vara Criminal da capital, de que recebia um montante por fora para exercer o cargo para o qual o governador Pedro Taques o nomeou. O noticiário versava também sobre o empresário Alan Malouf, que seria o cofre nesse esquema, mas o nome de Taques foi preservado.
Esse é o típico jornalismo de superficialidade, que em nada contribui para a boa informação ao leitor, ouvinte, telespectador ou internauta.
Ao longo do governo Taques, a generosidade da Imprensa com ele foi a mesma que se vê agora com seu sucessor Mauro Mendes. Destronado, o ex-governador é jogado na vala do inúteis, que mesmo à frente da máquina administrativa mato-grossense desconhecia o que acontecia em suas entranhas, principalmente em sua área nevrálgica: aquela por onde se movimenta o orçamento. Por esse entendimento (ou falta do mesmo), ele não é associado aos esquemas fétidos em seu governo, que corroíam Mato Grosso.
Além de Permínio, outros figurões do governo também mamariam por fora, a exemplo de Paulo Brustolin e Júlio Modesto (o homem que mecanizava o dinheiro no comitê de Taques, na sua primeira campanha ao governo e ex- chefe da Casa Civil e secretário). No começo do mandato Taques nomeou para a Secretaria de Fazenda (Sefaz), Paulo Brustolin, que era homem forte da Unimed. Brustolin deixou o cargo em junho de 2016 e foi substituído por Seneri Paludo. Coincidentemente ou não, no período em que Brustolin esteve na Sefaz o governo encontrou uma fórmula para aliviar uma dívida milionária da Unimed com o fisco estadual.
Além de mamar por dentro e por fora no governo, Brustolin ainda livrou a Unimed da dolorosa com o fisco. À época, reiteradas vezes denunciei o fato, mas não houve repercussão na Imprensa. A Assembleia nada fez por ser a Assembleia. O Tribunal de Contas do Estado manteve sua tradição de permanecer em silêncio e de aprovar as contas do governo.
Congestionar o noticiário com fala de Malouf e Permínio deixando Taques no plano do desinformado é algo tão grave quanto o silêncio no ontem sobre as entranhas do governo que entra para a história por seus escândalos e incompetência.
Está na hora de responsabilizar Taques, que no plano regional repete Lula – que nunca sabe de nada. É preciso que o ex-governador seja levado ao lugar que seu passado lhe reserva: o banco dos réus. Réu pelo escândalo na Secretaria de Educação (Seduc), que resultou na queda e prisão de Permínio, que é réu confesso. Réu pelo escândalo Grampolândia Pantaneira, que deverá tomar novo rumo após os novos depoimentos (marcados para julho) do coronel PM Evandro Lesco e do cabo PM Gérson Corrêa – esse, operador confesso das criminosas gravações de Grampolândia.
Longe das manchetes que focalizam fatos da cintura para baixo, blogdoeduardogomes espera que a sujeira na Seduc, com superfaturamento de obras e pagamento de salário por fora a Permínio; que o crime contra a cidadania, praticado por Grampolândia; que a triangulação Brustolin, Unimed e governo; e que tantos outros escândalos sejam passados a limpo, sem excluir Taques – autoproclamado desconhecedor dos fatos tenebrosos em seu governo.
Mato Grosso perdeu muito com Taques, o governante que no início do mandato criou o programa Bom Pagador – na verdade, bom caloteiro -, o que resultou em maior volume de disponibilidade financeira para sua administração, na medida em que o Estado deixou de pagar aquilo que devia, e o montante retido indevidamente foi mantido no caixa que alimentou a corrupção em obras superfaturadas e o salário por fora de Permínio, Júlio Modesto, Brustolin e, seguramente, outros do mesmo naipe.
Mato Grosso precisa se reencontrar com o governo Taques. Não aquele governo pintado com letras douradas pela Imprensa, mas com sua realidade, que a Justiça tem o dever de nos apresentar com a clareza do sol que precisa brilhar sobre a densa névoa que o cobriu ao longo de quatro anos.
Eduardo Gomes – editor de blogdoeduardogomes
FOTO: Arquivo psdb.org
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