Boa Midia

TANGARÁ: Ao invés de água, toque de recolher

Tangará sem água nas torneiras e sem gente nas ruas

O prefeito Vander Masson (PSDB) de Tangará da Serra ao decretar toque de recolher em sua cidade, tira o foco da atenção da insegurança do sistema de captação e distribuição de água, que trabalha ao fio da navalha, e que desde 2016, nos períodos de estiagem, deixa a população parcialmente desabastecida. A solução para o problema se chama rio Sepotuba e essa palavra dá urticária em Masson, que prefere jogar para a plateia com seu toque de recolher.

 

Os 141 municípios de Mato Grosso foram atingidos pela pandemia do novo coronavírus. Tangará, com 105.711 habitantes registra 106 mortes (é o sétimo entre os municípios, em números asbolutos). Seu número de infectados chegou a 7.864 (sexto mais atingido no Estado), ontem, 5 de janeiro, mas desse total, 7.640 se recuperaram, enquanto 59 se encontram em isolamento domiciliar e 28 estão internados em leitos de enfermarias e unidades de terapia intensiva da rede pública. A taxa de letalidade em Tangará é 1,35% enquanto a mato-grossense é 2,48%.

Para enfrentar a pandemia Masson tomou uma medida estranha: em 4 deste janeiro decretou toque de recolher entre 22 e 5 horas, a exemplo do que fez, sem sucesso, seu antecessor Fábio Junqueira (MDB), em maio e agosto do ano passado.

A doença é considerada traiçoeira e a melhor forma de se prevenir e mantendo distanciamento social, usando máscara, lavando as mãos com água e sabão ou álcool.. Mas, daí a decretar toque de recolher, salvo melhor juízo, há um enorme corredor.

Dentre as grandes cidades de Mato Grosso algumas se situam distantes de rios, como é o caso de Tangará, Alta Floresta, Juína, Sinop, Sorriso, Nova Mutum, Comodoro e Primavera do Leste, o que leva as mesmas a sustentarem a distribuição de água por meio de poços artesianos. O rio Seputoba, afluente da margem direita do rio Paraguai, banha o município de Tangará, com um local considerado adequado para captação, distante cerca de 25 quilômetros da cidade.  A solução para perenizar e universalizar o atendimento à população seria a construção de uma adutora.

Nos últimos dias choveu e não cabe mais, nesse momento, o jocoso apelido que a mais importante cidade do Chapadão do Parecis ganhou em 2016: Tangará da Seca.  Mas, ainda é precoce chamá-la de Tangarágua da Serra. Ainda que ao fio da navalha e torcendo pra São Pedro mandar chuvas abundantes, Tangará da Serra dá conta do recado e garante água nas torneiras nesse começo de ano chuvoso, Quando a estiagem começar, nem Deus sabe o que acontecerá.

Masson e o toque de recolher

SOLUÇÃO – Um projeto para levar água do Sepotuba a Tangará exige, no mínimo, a construção de 25 quilômetros de adutora em terreno acidentado. Para se chegar à obra será necessário o cumprimento de um ritual ambiental e burocrático sem tamanho. Somem-se a isso a falta de recursos municipais para tanto. A prefeitura teria que recorrer aos governos federal e estadual, receber emendas parlamentares federais e estaduais, e buscar financiamento.

Superados os quesitos burocráticos e com recursos assegurados, a prefeitura terá que definir se passará a distribuir água exclusivamente do Sepotuba ou se a ela juntará o sistema de captação no rio Queima-Pé e os poços artesianos em funcionamento.

REALIDADE – O Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto da prefeitura (Samae) tem capacidade para tratar 340 litros por segundo ou 1.224.000 litros por hora ou ainda 24.480.000 litros em 20 horas de funcionamento diário, o que em média daria 237,6 litros per capita por habitante, sem considerar o consumo industrial, comercial e institucional. Porém diante da redução do volume de água represado, a quantidade tratada cai para 250 litros por segundo ou 18.000.000 diários, o que puxa a média per capita para baixo: 174, 7 litros. Esses números, arredondados, e imaginariamente apurados num sistema que não poderia falhar nem contar com vazamentos nas redes de distribuição – que atormentam todas as cidades brasileiras –  que sempre alcançam a casa de dois dígitos.

CRISE – Em 2016 uma grande estiagem provocou racionamento de água na cidade e o nível do volume do sistema Queima-Pé ficou perto de zero. Desde então a prefeitura investe em reservatórios complementares, em terrenos rurais particulares, mas com outorga do município.

A capacidade máxima de armazenamento aumentou com os novos reservatórios, mas para alcança-la será preciso que chova com intensidade na região.  Antes que se alcance o teto, o nível varia de acordo com as questões climáticas. Não há número oficial sobre o máximo da capacidade dos lagos formados pelos reservatórios.

O nível dos reservatórios varia de acordo com a quantidade destinada ao tratamento na ETA, vazão, evaporação e as chuvas na região. Nesse final de ano, caso se confirmem as previsões de chuvas intensas em dezembro e janeiro, será possível alcançar e conhecer o teto da capacidade do sistema Queima-Pé.

Sem dúvida, é mais fácil decretar toque de recolher por conta da pandemia do que solucionar a questão do abastecimento de água.

 

Redação blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 – blogdoeduardogomes

2 – Facebook de campanha de Vander Masson

 

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