Série (IX) – Em quem votar ou não votar – Eliene Liberato
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
A Série Em quem votar ou não votar, que aborda aleatoriamente os nomes que estão em pré-campanha para as prefeituras nos principais municípios de Mato Grosso, focalizou oito pré-candidatos. Nesta postagem a focalizada é Eliene Liberato (PSB) de Cáceres, que tentará à reeleição.
A série começou com Beto Farias (PL), de Barra do Garças; e prosseguiu com Lúdio Cabral (PT) e Victorio Galli (DC), ambos de Cuiabá; Mariano Kolankiewicz (MDB), de Água Boa; Teti Augustin (PT) e Adilton Sachetti (Republicanos), ambos de Rondonópolis; Miltão PSOL), de Várzea Grande; e Vander Masson (União), de Tangará da Serra.
ELA – Antônia Eliene Liberato Dias, nasceu em 26 de outubro de 1968 na cidade de Campo Grande (RN). É geógrafa especializada em ensino de Geografia e gestora pública. Professora da rede estadual desde sua formatura em 1991, Eliene Liberato começou a carreira no magistério naquele ano, mas em 11994 entrou pelo caminho da geografia política, na Secretaria de Ação Social na administração do prefeito e médico Antônio Fontes e no período de 2009 a 2011 foi titular daquela secretaria, quando o prefeito era Túlio Fontes, filho de Antônio Fontes.
POLÍTICA – Mesmo com tanto tempo militando na vida pública, Eliene insiste em dizer que relutou muito para não ser política, adotando o discurso que é chavão para muitos políticos, como uma espécie de capa protetora contra a classe que mais se envolve em escândalos em Mato Grosso.

Em 2012 o empresário Francis Maris (PMDB) queria uma mulher para compor a chapa que encabeçaria para disputar a prefeitura. A escolha recaiu sobre Eliene, então tucana, e figurinha carimbada nos meios políticos. Francis criou a coligação Cáceres no Rumo ao Desenvolvimento com o seu PMDB, o PSDB de Eliene e PP/PTB/PSC/DEM/PSDC/PHS e o PTC; Francis disputou a eleição com outros dois candidatos e recebeu 21.630 votos (49,18%); seu principal oponente Leonardo Ribeiro Albuquerque (PSD) cravou 21.318 votos (48,47%). Com o resultado Eliene virou vice-prefeita.
Em 2016 Eliene voltou a formar dobradinha com o prefeito Francis, que foi reeleito, mas pelo PSDB, na coligação Trabalho, Transparência e Resultado formada com o PR/PSC/PSD/PTB/PHS e o PROS. Francis recebeu 22.372 votos (62,9%) e seu único adversário, o ex-reitor da Universidade do Estado (Unemat), Adriano Aparecido Silva saiu das urnas com 13.189 votos (37,09%). O Solidariedade tentou disputar o pleito, mas sua chapa foi indeferida. Pela segunda vez Eliene teria pela frente um mandato de vice-prefeita.

Em 25 de outubro de 2019, com Eliene literalmente vestindo as cores do PSB, aquele partido abriu as portas para ela num ato em Cáceres, prestigiado pelo cacique nacional Carlos Siqueira, e pelo cacique regional e deputado estadual Max Russi. Sem as amarras de seu antigo partido, Eliene partia para realizar o sonho – que ela mesmo relutando em ser política – mantinha num canto do coração: ser prefeita.
Em 2020, Eliene criou a coligação De Mãos Dados com Você com o o médico cacerense Odenilson José da Silva (Repubicanos), compondo sua chapa formada pelo seu partido, o de Odenilson e o PP/PDT/MDB/PSL/PODEMOS/CIDADANIA/AVANTE/PROS/PV/PSD/ e o SD. Eliene recebeu 15.881 votos (38,16%).
Na disputa pela prefeitura Eliene venceu quatro oponentes: Engenheiro Nakamoto (PRTB), com 11.215 votos (26,95%); Paulo Donizete (PSDB), 5.457 votos (13,11%); James Cabral (PT), com 5.088 votos (12,22%) – James é irmão do deputado estadual e pré-candidato a prefeito de Cuiabá, Lúdio Cabral (PT); e Zé Eduardo Torres (PSC), com 3.979 votos (9,56%).
Paraguai, o rio que mexeu com o coração de Eliene
OXENTE – Em julho de 1987, Eliene era pouco mais que uma menininha, quando desembarcou em Cáceres para uma viagem sentimental para reencontrar parentes. Mas, assim que tocou o chão foi tomada por uma paixão arretada por aquela cidade da bexiga, tão antiga quanto sua Campo Grande, porém muito maior e com um diferencial capaz de fazer chorar de emoção até a estátua do Padim Padre Cícero: um rio; um rio, não, o grande rio Paraguai cercado pelo verde, piscoso, sobrevoado por bandos de pássaros em algazarra e de braços abertos recebendo o Sepotuba e o Cabaçal. A menina não teve dúvida: adotou a Terra de Albuquerque como sua, para sempre.
A Unemat estava logo ali e a vontade de estudar era sua parceira inseparável. Mas, nas noites cacerenses às vezes batia a saudade matadeira de Campo Grande, lá pras bandas de Mossoró, distante 270 km de Natal e com uma pequena população de 9.500 habitantes, mas que tem uma coisa em comum com Cáceres: é bicentenária e até mais antiga, pois foi fundada em 1756, portanto 22 anos antes que Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres em 6 de outubro de 1778 lançasse as sementes da agora metrópole regional à margem esquerda do rio Paraguai.
MÃOS À OBRA – A administração de Eliene não é a cereja do bolo. Seus antecessores também não fizeram muito. Cáceres é um município com 24 mil km², maior que Sergipe, mas com demandas pequenas na esfera municipal.
Excetuando-se o transporte escolar municipal, que diariamente percorre 10 mil quilômetros nos dois sentidos e o desafiador sistema de tratamento e coleta de esgoto, as demais áreas são feijão com arroz, e os grandes gargalos não passam diretamente pela prefeitura.
No transporte a prefeitura é parceira do governo estadual e nenhuma das partes se sente confortável – isso é comum aos municípios – em detalhar o que se passa no setor.
O esgoto, ou melhor, a falta dele, é um tapa na cara do cacerense. Pelo Ranking da Universalização do Saneamento da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), em Cáceres a água chega em 79,50% dos imóveis construídos, a coleta de esgoto é de 5,66% e seu tratamento não vai além de 9,48%. Esta vergonha arrasta-se há mais de quatro décadas. O município não tem disponibilidade orçamentária para a obra necessária, mas bem poderia captar recursos junto aos governos federal e estadual, e por meio das famigeradas emendas parlamentares, porém, Eliene se acomodou, e tudo que diz é que precisa (a prefeitura precisa) de 500 milhões de reais para zerar a poluição que é uma facada nas costas do rio Paraguai.
Cáceres é referência em saúde pública pelo sistema SUS numa vasta região, e recebe pacientes bolivianos de San Matias e adjacências. O Hospital Regional Universitário (da Unemat) Dr. Antonio Fontes e o agora seu anexo Hospital São Luiz prestam a assistência em saúde, mas por se tratar de modelo tripartite a prefeitura responde por uma parcela dos custos operacionais.
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O município tem bom desempenho no ensino superior – é sede da Unemat. A prisão permanece abarrotada por mulheres mulas do tráfico de cocaína, mas esse tema não passa pela prefeitura. Pela extensão do município a malha rodoviária é pequena. Recentemente foi inaugurada a Zona de Processamento de Exportação (ZPE), ainda capenga, mas que será muito importante em brave – Eliene não teve participação nesta conquista. A Rota Quadrante Rondon, lançada naquela cidade pela ministra Simone Tebet e outras autoridades do governo federal, criará uma malha internacional no contexto do Corredor Bioceânico Atlântico-Pacífico via Cáceres e Porto Esperidião, e via Vila Bela da Santíssima Trindade aos portos chilenos e peruanos – também sem nenhum mérito de Eliene.
A administração de Eliene não tem enfoque objetivo, como na área empresarial. Há inchaço de servidores e os recursos canalizados para os cargos comissionados dispensáveis poderiam ser utilizados em áreas importantes.
Eliene não tem culpa, mas a Câmara de Cáceres tem um custo elevado para o contribuinte. Via de regra os legislativos municipais são improducentes, bajulam o prefeito ou prefeita, e seu duodécimo fica pela hora da morte.
Município que figura entre os maiores da economia pecuária nacional, com um manancial turístico fabuloso, rota da ligação Acre-Rondônia com o Centro-Sul, com o rio Paraguai navegável até Nueva Palmira, no Uruguai, numa extensão de 3.342 km, com boa qualidade de vida, Cáceres, com 90 mil habitantes, no entanto fica a reboque no comparativo com os outros grandes municípios de Mato Grosso, tendo sido ultrapassado nos últimos anos por Sinop, Sorriso e Tangará da Serra.
HORIZONTE – Eliene é liderada politicamente por Max Russi, que não tem identidade com os municípios da fronteira com a Bolívia, como é o caso de Cáceres. A liderança de Max não se traduz em bons resultados práticos. Além disso, o único deputado estadual da região é Valmir Moretto (Republicanos), domiciliado em Pontes e Lacerda e que começou sua carreira política sendo prefeito de Nova Lacerda. Moretto está para Cáceres tanto quanto o samba para o chinês.
Eliene concorrerá à reeleição, mas o nome de seu companheiro de chapa está em aberto. Tanto alguém cogitado para tal poderá figurar na dobradinha com ela, quanto enfrentá-la nas urnas. Não há definição ideológica nem partidária por parte dela. Tropeços na administração ela não teve, mas terá que se explicar sobre a denúncia formulada ao Ministério Público Estadual por um grupo de vereadores, de que em 2023 a prefeitura teria desembolsado a bagatela de 15 milhões de reais para a realização do FIPe, que segundo o Guinness Book é o maior festival mundial de pesca embarcada do mundo. Denunciantes e denunciada permanecem calados.
Nordestina porreta, há 36 anos cacerense de coração, Eliene é uma peça na construção cacerense como boa parte da população, que é oriunda dos quatro cantos do mundo, e que (no ontem e no hoje) se funde e se confunde com a cidade do saudoso padre Geraldo.
Saber chamar alguém de meu peixe ela sabe tanto quanto o cacerense de berço, mas sem perder seu sotaque nordestino, o que lhe confere um charme especial.
PS – Continue lendo a série. A postagem dos nomes é aleatória e o texto não focaliza a vida pessoal dos citados.
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Postado em 29 de junho de 2024
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