Sai Bosaipo, entra Bosaipo ou Bosaipo ou Bosaipo

Sinceramente não sei o que é pior: se a relação dos nomes de três deputados estaduais para a vaga do conselheiro aposentado do Tribunal de Contas (TCE) Humberto Bosaipo ou se a naturalidade como a Imprensa trata essa possível sucessão que é uma das versões para o ditado popular – seis por meia dúzia.
Pobre Mato Grosso sem voz onde o casamento do jornalista com o leitor facilita o mosaico político atual, mas que vigora há alguns anos.
Nem mesmo a Assembleia Legislativa em sua legislatura anterior, com mais da metade dos deputados enrodilhados em escândalos e com dois presos no exercício do mandato foi tão devastada moralmente quanto o TCE. Dos sete conselheiros, cinco foram afastados judicialmente em setembro de 2017, acusados de receberem R$ 53 milhões em propina do ex-governador Silval Barbosa – que em delação homologada pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF) sustenta que o quinteto recebia propina para não perturbar seu governo – e olha que os conselheiros aprovaram todas as suas contas. Antes desse grupo formado por Sérgio Ricardo, Valter Albano, José Carlos Novelli, Antônio Joaquim e Waldir Teis, o TCE concedeu aposentaria precoce a Bosaipo, que a requereu para que os processos a que responde, baixassem para a primeira instância e assim ele ganhasse fôlego na tramitação. Restou um conselheiro, Campos Neto, que ora preside aquele órgão de contas da Assembleia. Mas, Campos Neto tem seu nome relacionado na lista de supostos mensaleiros denunciada em juízo pelo ex-deputado José Riva, que controlou a Assembleia por 20 anos.
Com o TCE na lama, o mínimo que se poderia supor é que a Assembleia, a quem caberá indicar o conselheiro que assumirá a vaga que foi de Bosaipo, indicaria um nome sem macula, que não esteja sob investigação, delação e realmente tenha conduta ilibada, como requer a regra para o preenchimento da função vitalícia naquele suntuoso órgão técnico de contas.
Não. A Assembleia, corporativa e quase tão enlameada quanto a legislatura anterior, ventila os nomes dos deputados reeleitos em 2018, Guilherme Maluf (PSDB), Sebastião Rezende (PSC) e Eduardo Botelho (DEM) – que a preside. Em nome da presunção da inocência, formalmente nenhum dos três tem culpa em cartório. É nesse corredor do oportunismo que as peças do xadrez do poder se movimentam. Sai Bosaipo e entra um deles. É a troca do seis por meia dúzia.
O desencanto toma conta da parcela da população que não engole esse tipo de manobra. O descontentamento íntimo do cidadão não encontra eco na Imprensa, salvo em alguns veículos, poucos veículos. A ciranda do poder se esbalda. Os que estão na disputa se dão bem com o espelho. Repórteres íntimos do poder tratam de dourar a pílula. Empresários da Comunicação sabem que plantam em terreno fértil.
Essa corrida do ouro acontece desde ontem, 4, depois que o ministro do STF, Edson Fachin, derrubou uma cautelar do final de 2014, que travava a escolha de conselheiro pela Assembleia, que à época tentou nomear a ex-secretária de Estado Janete Riva, mulher de Riva.
Onde falta a verdadeira cidadania em sua plenitude prospera parlamento e órgãos técnicos de contas iguais os de Mato Grosso. Onde a Imprensa emudece a injustiça floresce.
Triste espetáculo da decomposição dos insepultos cadáveres da vida pública mato-grossense.
Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes
FOTO: Marcos Bergamasco (TCE) em arquivo
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