Boa Midia

Quando a música abraça dezembro

Manoel Izidoro*

CUIABÁ

Dezembro tem um som próprio. Basta o mês começar para que a cidade mude de ritmo: as ruas ganham um movimento mais apressado, as pessoas carregam urgências que não existiam antes e o clima parece carregar uma mistura de nostalgia e esperança. No meio disso tudo, a música surge como um abraço, costurando memórias, aliviando o cansaço e dando sentido ao que às vezes nem conseguimos nomear.

É curioso como cada família, cada casa, cada pessoa tem uma trilha sonora que define esse período. Uma canção antiga que lembra alguém, um repertório que marca reencontros, um coro improvisado que transforma o simples em especial. A música tem essa capacidade rara de reunir o que a rotina separa. Em dezembro, ela une gerações, resgata histórias e cria pontes que o tempo, sozinho, não construirá.

Na Escola IGC, acompanho de perto o efeito que a música provoca nas pessoas. Mesmo quem chega tímido encontra, aos poucos, um espaço onde pode respirar diferente. Dezembro intensifica isso. O aluno que passou o ano se superando percebe como evoluiu. As apresentações ganham outro brilho. E há uma sensibilidade no ar que lembra, suavemente, que a arte não é apenas técnica, é vida atravessando vida.

A música também cumpre um papel social importante neste mês. Em um período em que tantas pessoas enfrentam solidão, saudade ou ansiedade, ela se torna refúgio. Uma canção pode devolver coragem, trazer calma ou simplesmente oferecer companhia. Por isso dezembro se transforma em um momento para ouvir com mais atenção, para sentir com mais profundidade, para estar mais presente.

Além disso, é a música que ajuda a contar a história da cidade. Ela acompanha celebrações, ilumina espaços públicos, humaniza os encontros e devolve identidade às comunidades. Em um mundo cada vez mais acelerado, a arte é a pausa que nos devolve humanidade. E dezembro, por sua vez, funciona como um marco que nos faz recordar que todos nós precisamos dessa pausa.

EnQuanto o ano termina, a música nos lembra que ciclos são como melodias, começam, se transformam e se encerram para dar lugar ao novo. É um processo natural, bonito e necessário. E quando permitimos que a arte participe desse ritual, o recomeço chega mais leve. Que dezembro seja, então, um mês para ouvirmos mais: os outros, nós mesmos e o que a música tem a nos ensinar.

*Manoel Izidoro é professor e proprietário da Escola de Música IGC de Cuiabá

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