Qual a melhor escola para os meus filhos?
Todo começo de ano, imagino quantos pais formulam a pergunta: “Qual escola tornará meu filho ou minha filha pessoas melhores, mais capazes, mais preparadas para o futuro?” Penso que a resposta mais adequada para essa importante questão é: “Você que sabe, logo, você quem escolhe!” Como assim? Esse artigo não vai dar nenhuma dica, nenhuma orientação sobre como escolher a escola “certa”? Calma, vou tentar explicar.
Várias pesquisas demonstram que o principal fator no sucesso escolar de um jovem é a sua família. Particularmente a presença e a formação escolar da mãe. Um jovem cujos pais têm nível superior e são presenças ativas na sua formação tem uma chance absurdamente maior de igualmente chegar ao nível superior e se tornar um influenciador de seus filhos. Ou seja: o componente familiar e a herança cultural dos pais são os maiores fatores de distinção social que existem. E qual o papel das chamadas boas escolas? Objetivamente, elas não fazem mais do que buscar ampliar essa formação, aprofundando as melhores qualidades que já vêm de casa. E que qualidades são essas? Respeito pelo aprendizado, foco na tarefa a ser cumprida, exemplos vindos dos adultos, boas práticas de respeito e camaradagem, estímulo à curiosidade e ao questionamento, solução de conflitos pelo diálogo e pelo consenso, entre outras.
Observem: o componente cultural e a presença dos pais é o fator preponderante de uma boa formação. A chamada boa escola é aquela que amplia essa referência, constituindo-se em ambiente de oferta e acompanhamento da formação desses jovens. A boa escola tem, portanto, um papel suplementar. Pais que realmente se comprometem com o futuro dos filhos, escolhem escolas que ofereçam propostas de ensino e ambientes que emulem o próprio ambiente doméstico e reforcem a ideia de formação cultural que os pais usaram para si próprios, sendo bem sucedidos por isto. É razoável que pais seculares e liberais procurem uma escola com perfil mais aberto e estimulante. Por sua vez, pais de perfil mais religioso ou tradicional, vão procurar escolas que atendam e ofereçam esse modelo em suas aulas e ambiente escolar. Não tem segredo. Os pais devem escolher a escola que dará continuação à formação dos filhos e filhas.
Há aqui um grande desafio para os agentes públicos. Nem todos os pais podem escolher a escola que querem para seus filhos. E o mais grave: muitos pais não sabem o que escolher. E o que ainda é mais desafiador: muitos jovens não têm pais ou têm pais que não assumem essa tarefa de orientá-los. Por isso, se o Estado assume para si a tarefa de garantir educação de qualidade, a escola pública deve buscar oferecer um ambiente de convivência e aprendizado que seja capaz de compensar a ausência e deficiência da presença e estímulos dados pela família. Caso contrário, ocorrerá na educação pública um processo de defasagem crônica na formação dos jovens e de distanciamento cada vez maior das chances desses jovens realizarem no futuro seus projetos profissionais e cidadãos.
Nos resultados apresentados pelos questionários respondidos na Prova Brasil e no Enem, fica claro que a falta de suporte familiar, quando não compensado por uma escola que ofereça profissionais altamente qualificados e treinados e ambientes desafiadores e, ao mesmo tempo, acolhedores, não proporcionarão resultados expressivos capazes de posicionar estes jovens, de maneira vantajosa, no cruel e insensível mercado de trabalho. É um fato e é o grande desafio público do nosso Estado Democrático de Direito para as próximas décadas.
Quanto aos pais que podem escolher e que acreditam que uma boa escola garante uma boa formação, o conselho é simples e direto: fiquem mais tempo com seus filhos, conversem mais com eles, viajem mais com eles, participem de atividades culturais com eles, debatam as questões nacionais e mundiais com eles, leiam livros com eles, façam cursos junto com eles. A escola que você escolher, a boa escola, vai apenas dar continuidade a essa formação. O sucesso deles será mérito dele e de vocês, principalmente.
Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica pela UFPR e professor no curso Positivo de Curitiba
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