40 Anos – PIB revela Mato Grosso de riqueza e pobreza
Transcorridos 40 anos da divisão territorial, o agronegócio, carro-chefe da economia mato-grossense, criou bolsões de prosperidade. Alguns municípios crescem além da média nacional, outros também avançam, mas há um grupo que se distancia dos demais. Enquanto em 17 o Produto Interno Bruto (PIB) é acima de R$ 1 bilhão de reais, um bloco com 13 não alcança sequer R$ 50 milhões. Entre os dois extremos há outros que se aproximam dos primos ricos e os que tentam se afastar dos primos pobres. A riqueza nasce da força da iniciativa privada. A pobreza atesta a incompetência do governo em criar políticas públicas para gerar emprego e renda no lado mais negativo desse indicador econômico.
Retrato de um Estado dependente da iniciativa privada para se desenvolver: onde o empresariado não se o empresariado não investe o caos se estabelece, porque o governo é incompetente.
Mato Grosso convive com a dualidade entre bolsões de prosperidade e de pobreza. Com 141 municípios, a diferença entre o maior PIB municipal, o de Cuiabá, de R$ 20.525.597.000, e o menor, de Araguainha, de R$ 14.285.000, é muito grande: R$ 20.511.313.000.
À exceção de Cuiabá e Várzea Grande, o grupo dos ricos é formado por municípios do agronegócio, 11 foram emancipados após a divisão territorial para a criação de Mato Grosso do Sul em 11 de outubro de 1977; e entre eles estão os 10 mais populosos.
Menores e maiores PIB dos municípios
No bloco dos menores nenhum tem seis mil habitantes e seus indicadores sociais são baixos, principalmente no tocante ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) apurado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e medido numa escala de zero a um. Porto Estrela com IDH 0,599 e Nova Nazaré com 0,595 têm classificação “baixo”, inferior a 0,600; esses dois municípios integram o quarteto mato-grossense com o pior IDH, que se completa com Barão de Melgaço (0,598) e Campinápolis – o pior, com 0,538.
Os 13 integrantes do bloco dos primos pobres enfrentam graves problemas provocados pela falta de infraestrutura. Neles, o paciente que necessitar de atendimento médico de média ou alta complexidade tem que se valer de ambulância para chegar ao hospital de referência regional. Quem mora em Nova Nazaré bate às portas do Hospital Paulo Alemão, em Água Boa; moradores de São José do Povo buscam o Hospital Regional Irmã Elza Giovanella de Rondonópolis ou a Santa Casa de Misericórdia daquela cidade. Os demais se socorrem no hospital regional mais próximo.
Para agravar a situação, a Atenção Básica prestada pelos municípios capenga, por conta dos recorrentes atrasos dos repasses por parte do governo estadual.
Segundo números da associação dos prefeitos (AMM), em 2016 e neste ano o Palácio Paiaguás deixou de transferir R$ 68,2 milhões aos municípios para os programas Atenção Básica, Farmácia Básica e Diabetes, e Regionalização.
O represamento dos repasses afeta principalmente os primos pobres. Essa dinheirama que não chega às prefeituras é lamentada por prefeitos em conversas com jornalistas, mas os mesmos pedem a omissão de nomes por temerem retaliação do governador Pedro Taques.
A única voz que se levanta é a do presidente da AMM, Neurilan Fraga, que sempre tem uma crítica na ponta da língua contra aquilo que ele define como “caos na saúde”. O governo se defende, apresenta sua versão e usa seu peso publicitário para amaciar a mídia.
Luciara, Novo Santo Antônio e Serra Nova Dourada são municípios do Vale do Araguaia, no polo de São Félix do Araguaia.
Os três enfrentam o problema da falta de acesso pavimentado e não há nenhum projeto real para a reversão desse gargalo.
O resultado do isolamento é o pior possível: Luciara, diante da Ilha do Bananal no lendário Araguaia, tem um dos maiores potenciais turísticos do Brasil Central, mas sua população está em queda; em 1980 tinha 8.159 habitantes; em 1991 esse número despencou para 5.604; e em 2006 ficou reduzido a 2.419.
Enquanto a riqueza empurra os primos pobres, a falta de infraestrutura emperra os primos pobres, a começar pela saúde, tão distante de sua gente quanto à prosperidade do Mato Grosso do agronegócio.
EDUARDO GOMES/blogdoeduardogomes
Foto: Eduardo Gomes
Infografia: ÉDSON XAVIER
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