Boa Midia

Pedro Taques violenta a memória de vultos mato-grossenses

Filinto Müller
Filinto Müller

Mato Grosso apaga a memória de vultos históricos ao trocar nomes de escolas estaduais por ordem do governador Pedro Taques e do secretário de Educação, Marco Marrafon. As duas primeiras mudanças acabam de acontecer. Em Arenápolis a Escola Estadual Senador Filinto Müller foi rebatizada e virou Escola Estadual Onze de Agosto. Em Luciara, a Escola Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco ganhou novo nome: Escola Estadual 10 de Maio.

Uma lei de dezembro de 2015, do deputado Guilherme Maluf (PSDB), abriu a porteira ao governador Pedro Taques e seu secretário de Educação, Marco Marrafon, para que iniciassem a mudança de nomes de escolas estaduais de vultos em outras palavras considerados historicamente incorretos, por terem cometido crimes de tortura ou apoiado governos ditatoriais.

Se levada ao pé da letra a lei mudará os nomes de praticamente a metade das escolas, outros próprios do Estado e rodovias, pois o julgamento social criminaliza todos os que não se enquadram ao chamado politicamente correto.

Na primeira canetada Taques atingiu a família do secretário de Planejamento Guilherme Müller, que é sobrinho-neto de Filinto Müller. Prosseguindo na troca também será atingido o secretário de Saúde, Luiz Soares, que é filho de Oscar Soares – Oscar foi deputado da Arena, o partido dos militares: é homenageado com a denominação de uma escola em Jaciara.  Guilherme preferiu o silêncio,continua no nababesco cargo, independentemente do que acaba de acontecer.

Presidente Castelo Branco
Presidente Castelo Branco

Mato Grosso sempre foi governista, independentemente do regime de governo. Foi assim na ditadura Vargas e com o militarismo em 1964. Em ambos, políticos mato-grossenses tiveram atuação destacada. A lei poderá mudar nomes tradicionais, a exemplo do Liceu Cuiabano Dona Maria de Arruda Müller; da maior escola pública de Cuiabá, a Presidente Médici; da escola de alto desempenho, José Fragelli, na Arena Pantanal; e do Ginásio Poliesportivo Professor Aecim Tocantins.

Um dos principais aliados de Taques, o ex-governador Jayme Campos (DEM) é nome de escolas em Alta Floresta e Várzea Grande. Joaquim Nunes Rocha, o Rocinha, é homenageado com o nome de uma escola em Rondonópolis e recentemente Taques sancionou uma lei dos deputados Zeca Viana, Nininho e Wilson Santos denominado de Joaquim Nunes Rocha o trecho da MT-130 entre Poxoréu e Primavera do Leste.

Em praticamente todos os municípios escolas reverenciam a memória de figuras que deram sustentação aos regimes considerados de exceção. Não se trata apenas de políticos, pois há também empresários: Ênio Pipino, em Sinop; Ludovico da Riva, em Alta Floresta; André Antônio Maggi em Rondonópolis, Novo Mundo e Feliz Natal – André Maggi é pai do senador e ministro da Agricultura Blairo Maggi.

Na esfera política a denominação de escolas com figuras dos regimes questionados pode ser exemplificada com Mário Spinelli, em Sorriso e Pontes e Lacerda; Coronel Ondino Rodrigues de Lima, em Ribeirão Cascalheira; Emanuel Pinheiro em Cuiabá, Rondonópolis e Nortelândia; Garcia Neto, em Cuiabá; Júlio Müller, em Poxoréu – Júlio Müller também denomina o Hospital Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso em Cuiabá, que é um próprio da União.

Grandes nomes da política mato-grossense apoiaram os dois regimes. Filhos, netos e bisnetos desses vultos permanecem na vida pública e certamente não gostariam que a memória de seus ancestrais fosse apagada.

A lei que Taques lança mão poderá riscar dos próprios estaduais os nomes de vultos que não estão mais entre nós a exemplo de Benedito Canellas, Vicente Vuolo, Júlio Domingos de Campos – seo Fiote, Coronel José Meirelles, Valdon Varjão, Ariosto da Riva, José Fragelli, Garcia Neto, Wilmar Peres de Farias, Walter Ulysséa, Aecim Tocantins, Joaquim Nunes Rocha, Guilherme Meyer, Júlio Müller, Lucas Pacheco de Camargo, Filinto Müller, Jonas Pinheiro, Gastão Müller, Professora Maria de Arruda Müller, Heronides Araújo, Emanuel Pinheiro, Mário Spinelli, Osvaldo Cândido Moreno, José Salmen Hanze – Zé Turquinho, Coronel Ondino Rodrigues de Lima, Coronel Estevão Torquato, Nhonhô Tamarineiro, Claudino Francio, Ary Leite de Campos, Archimedes Pereira Lima, Carmelito Torres, Coronel Gonçalo Romão de Figueiredo, José Monteiro de Figueiredo, José Vila Nova Torres, Ana Maria da Costa Faria – a Nana. Renê Barbour, Aldo Ribeiro Borges, Jorge Abreu, Zé Paraná, Homero Pereira, Eduíno Orione, Bento Lobo, Roberto Campos, Ramon Itacaramby e tantos outros.

A lei de autoria de Maluf tenta ser mais real que o rei. Um dos vultos mais reverenciados na esfera pública em Mato Grosso é o Barão de Melgaço, herói que desmotivou a invasão de Cuiabá pela Marinha do Paraguai e que governou Mato Grosso em várias ocasiões; porem, antes do heroísmo o almirante João Augusto Leverger – o Barão – foi mercenário e alugava sua espada.

Um Estado não se constrói somente com o momento atual. Ele é a somatória dos fatos ocorridos ao longo de sua existência. Taque precisa refletir. Chega de sua intempestividade que culpa aumento salarial concedido a servidor pela crise em que seu governo se encontra; e chega de satanizar antecessores. A memória de Mato Grosso não é monocular, não tem mão única: ela é o conjunto das variações, da pluralidade de ideias, da balança entre erros e acertos, e acima de tudo é o resultado que sua gente construiu no ontem, independentemente de posicionamento político.

A memória de Mato Grosso exige respeito!

 

Eduardo Gomes de Andrade
Editor

blogdoeduardogomes.2017@gmail.com

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