Pavimentação da BR-158 empurrada com a barriga

Contorno Leste ao invés do trajeto natural da BR-158 entre Ribeirão Cascalheira e Porto Alegre do Norte, na ligação de Mato Grosso com o Pará. Esse seria o entendimento do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, manifestado em 4 de junho numa reunião com diretores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Antes o ministro defendia o trajeto original. Nesse vaivém o anseio do Vale do Araguaia pelo asfalto é empurrado com a barriga.
O trecho sem pavimentação tem 126 quilômetros e virou queda de braço. Ambientalistas, entidades indigenistas, Funai e Ministério Público Federal não aceitam sua pavimentação, muito embora parte desse trajeto seja um segmento rodoviário construído no final dos anos 1960, quando era chamado da Estrada de Suiá-Missú, que ligava Nova Xavantina à então Fazenda do Papa, na gleba Suiá-Missú. cuja sede se localizava próxima ao local onde mais tarde surgiria a cidade de Alto Boa Vista.
A extensão sem pavimentação na BR-158 cria um vácuo de logística entre as cidades de Ribeirão Cascalheira e Porto Alegre do Norte, nos dois extremos do trecho de Marãiwsédé, que até o final de 2012 era ocupada por milhares de pequenos, médios e grandes produtores que viviam na zona rural e na vila de Estrela do Araguaia, mais conhecida como Posto da Mata.

A pavimentação da BR-158 se arrasta por duas décadas. Do lado paraense a rodovia está asfaltada. O trecho remanescente para sua conclusão é o de Marãiwatsédé. Desde 2007 a Justiça Federal impede projetos e obras no segmento na terra indígena. O governo federal não resolve o problema, e o governador Mauro Mendes finge de morto sobre o caso, imitando seus antecessores Pedro Taques, Silval Barbosa e Blairo Maggi.
A alternativa apresentada para deslocar o leito da BR-158 seria a pavimentação do chamado Contorno Leste, que no sentido Sul-Norte desviaria a rodovia à direita atravessando as áreas urbanas de Bom Jesus do Araguaia, Serra Nova Dourada e Alto Boa Vista (onde cruzaria a BR-242) até reencontrar o leito original no trevo de acesso ao distrito de Pontinópolis, de São Félix do Araguaia, o que aumentaria o trajeto em 90 quilômetros – ou até mais, dependendo da definição do traçado.
Se realmente o governo federal optar pelo Contorno Leste a obra para ser executada terá que passar por um ritual burocrático e ambiental que arrastará sua execução e conclusão por longos anos.
A possibilidade do deslocamento da rodovia é real, mas o governo de Mauro Mendes não move uma palha sequer para facilitar tal opção. Se houvesse interesse estadual, Mato Grosso poderia elaborar um projeto de pavimentação para o trecho e o oferecer ao Dnit, como forma de reduzir tempo.
No vaivém de palavras sobre o Contorno Leste, o senador liberal Wellington Fagundes, o deputado federal José Medeiros (Podemos) e outros políticos tiram proveito eleitoral como se tivessem paternidade sobre a proposta do ministro Tarcísio de Freitas.

O trecho sem pavimentação na BR-158 dificulta o acesso de Canabrava do Norte, Porto Alegre do Norte, Confresa, Vila Rica, Santa Terezinha, São José do Xingu e Santa Cruz do Xingu a Cuiabá e os aproxima cada vez mais do Pará e Tocantins.
Essa dificuldade leva prefeituras a cometerem crimes entre aspas ao criarem informais consórcios para pagamento de aluguel de casas de apoio em Palmas (TO), para onde transportam pacientes em busca de atendimento médico.
BR-158 – A rodovia 158 é uma grande e importante longitudinal (Norte-Sul), com 3.958 quilômetros, que liga Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, a Altamira, no Pará, cruzando Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso. Seu trecho mato-grossense se estende de Pontal do Araguaia (ao lado de Barra do Garças) a Vila Rica, na divisa com o Pará, num trajeto de 802 quilômetros, dos quais 140 sem pavimentação na Terra Indígena Maráiwatsédé, no Araguaia.
PS – CANABRAVA DO NORTE – Município desmembrado de Porto Alegre do Norte, Luciara e São Félix do Araguaia em 19 de dezembro de 1991 por força de uma lei do deputado Humberto Bosaipo sancionada pelo governador Jayme Campos. Sua área é de 3.452,684 km², tem 4.743 habitantes, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é 0,667 e a renda per capita R$ 24.037,31. Canabrava pertence a comarca de Porto Alegre do Norte e a cidade dista 22 quilômetros da BR-158 por rodovia pavimentada.
A colonização de Canabrava do Norte começou por volta de 1956 e foi marcada por graves conflitos agrários motivados por invasões de áreas, que para alguns seriam particulares, e para outros, terras públicas.
Marinho Peixoto e Elias Bento, os primeiros moradores, foram os principais líderes das invasões, que começaram pelas calhas dos rios Comandante Fontoura ou Liberdade e Preto.
Ainda hoje o município enfrenta a balbúrdia agrária pela incapacidade do Incra e do governo estadual de resolverem a situação. A base econômica é a pecuária secundada por lavouras de soja e milho safrinha.

PORTO ALEGRE DO NORTE – Município desemembrado de Luciara e São Félix do Araguaia em 13 de maio de 1986 por uma lei das bancadas do PDS e PMDB sancionada pelo governador Júlio Campos, Porto Alegre do Norte é sede de comarca, tem 3.972,256 km², 12.517 habitantes, seu IDH é 0,667 e a renda per capita R$ 16.336,52. A base econômica é a agropecuária. A rodovia BR-158 divide a cidade ao meio.
Memória – Em 1945, o pecuarista Lúcio Pereira da Luz expandiu suas invernadas de Luciara para terras devolutas no rio Tapirapé, na área onde mais tarde surgiria Porto Alegre do Norte.
Por cerca de 10 anos, os vaqueiros de Lúcio, Alexandre Quirino de Souza, Cícero Laranjinha e Domingos Pereira, o Domingão, cuidavam do rebanho bovino por ele mantido na região de Porto Alegre do Norte. Os três funcionários de Lúcio foram os primeiros moradores da região. E aos poucos, famílias de lavradores e pequenos criadores de gado se instalaram na vizinhança, nas barrancas do rio Tapirapé.
Na margem direita do rio Tapirapé, os moradores construíram um porto . Àquela época, o Tapirapé era o único meio de acesso à vila de Cedrolândia – primeiro nome do núcleo urbano –, em alusão ao cedro, madeira nobre que havia em grande quantidade na região.
Posteriormente, Cedrolândia ganhou nova denominação e passou a se chamar Beira Rio, por sua localização na margem direita do Tapirapé. O crescimento urbano transformou a vila em distrito de Luciara, com o nome de Porto Alegre.
A origem do nome do município nada tem a ver com Porto Alegre, a capital do Rio Grande do Sul. A denominação surgiu da irreverência de ambulantes que navegavam de Luciara até Cedrolândia, vendendo remédios, roupas, calçados, bebidas, enlatados, ferramentas e outros produtos para a população ribeirinha do Tapirapé.
Nos primórdios da vila, a população se concentrava no cais,, onde os barcos dos vendedores se atracavam. Rotineiramente os tripulantes dessas embarcações encontravam os moradores do lugar em festa.
Os vendedores ambulantes que zarpavam de Luciara, na margem esquerda do rio Araguaia, com destino à Cedrolândia, se referiam ao lugar chamando-o de Porto Alegre, pelo espírito festeiro de sua gente.
FOTOS:
! – Assessoria do Dnit
2 e 3 – blogdoeduardogomes
4 – Youtube
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