Orquestra Filarmônica, Corrida de Reis e Mídia
A expressão filar é verbo transitivo que nasceu da denominação Orquestra Filarmônica. Seu significado é abrangente, mas sempre no sentido de pedir ou ‘morder‘. Entendam: Filarmônica é a orquestra mantida com doações da população, empresas ou entidades. Daí, a sabedoria popular cunhou filar. A outra orquestra, a Sinfônica, é bancada pelo Estado em sua amplitude. Esse tema me veio ao pensamento ao acompanhar pela TV, no domingo, 12, a 36ª da Corrida de Reis, nas ruas em Cuiabá, com largada em Várzea Grande.
Maior evento esportivo mato-grossense disputado em um só dia, a Corrida de Reis também é a principal prova de rua no Centro-Oeste e abre o calendário do atletismo brasileiro. Sempre disputada por milhares de figuras anônimas oriundas de todas as regiões de Mato Grosso e de vários estados, ela tem ainda participação de atletas da elite mundial, com destaque para as delegações quenianas, acostumadas ao pódio no centro da América do Sul.
Além da maciça audiência na TV no dia da prova, a Corrida de Reis tem espaço cativo no jornalismo da TV Centro América, que a promove. Portanto, vista sob esse ângulo, a prova deveria receber patrocínio do mercado publicitário mato-grossense, o que não acontece.
A realização da Corrida de Reis é assegurada pela mídia pública. Neste ano os patrocinadores foram os tradicionais anunciantes: Governo de Mato Grosso, Assembleia Legislativa e Prefeitura de Cuiabá, que são citados enquanto apoiadores. Em meio a esse triunvirato surge o nome do patrocínio oficial, uma cooperativa médica – que na verdade permuta a inserção de sua mídia em troca da cobertura aos atletas e participantes da organização do evento.
Essa é a verdade sobre a mídia mato-grossense. A emissora de TV com a maior audiência regional, promovendo o principal evento esportivo estadual, não capta anunciantes no mercado publicitário, mesmo após realizar 36 provas ano a ano. Imaginem então a situação dos demais veículos de Comunicação!
Mato Grosso não anuncia na mídia e o mato-grossense não compra livros de autores regionais.
Há um fosso entre a Comunicação e o leitor/telespectador/ouvinte/internaua.
Existe outro fosso separando o leitor do autor de livros, para afastar a possibilidade da tentativa de venda de exemplares de suas obras.
Em suma, a mídia regional – salvo um ou outro caso – é mantida pelos cofres públicos, que exigem contrapartida editorial. Exemplo: a Delegacia Especializada de Defesa da Mulher em Cuiabá atende somente no horário de expediente, nos dias úteis. Ao invés de focalizá-la por essa atipicidade, os veículos de Comunicacão devem abordá-la pela luta travada pela primeira-dama de Mato Grosso, Virgínia Mendes, em defesa de seu funcionamento 24 horas.
Não se pode negar essa situação. Ou dinheiro público ou o fechamento do veículo de Comunicação. Lançar mão do expediente utilizado pelas Orquestras Filarmônicas, nem pensar. A alternativa é reconhecer que não é possível oferecer grande volume de informação – pelo custo operacional para tanto.
Esse cenário é permeado por grandes cobranças de leitores, sempre ansiosos por maior volume de informação e de críticas ao poder em sua amplitude. Os mesmos que costumam cobrar, sequer comentam em matérias que expõem vísceras de poderosos e, quando o fazem, se escondem sob pseudônimos.
Dispensável acrescentar algo mais.
Eduardo Gomes de Andrade – Editor de blogdoeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
FOTO: Meramente ilustrativa do site da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
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