O prefeito que temos e o que nos apresentam

Cuiabá enfrenta há anos um grave problema na área da saúde pública. A situação é desumana e em meio a ela o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) inaugurou algumas etapas do Hospital Municipal, e na terça-feira, 23, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chega à cidade para a reabertura da Santa Casa de Misericórdia, agora transformada em Hospital Estadual. Em meio a tudo isso, Emanuel investe pesado na mídia, que generosa vai além do anuncio institucional e o deixa na condição de grande administrador, esquecendo-se por completo que os dois hospitais receberam e recebem recursos do governo federal, do governo estadual e de emendas federais e estaduais. Mais: sofre de amnésia contratual que a impede de focalizar o triste episódio do Paletó, que permanece impune.
Além da mídia, a população também está calada. Não sei se Cuiabá tem grande capacidade de perdão ou composição, ou se ainda mistura das duas coisas para levar algum tipo de vantagem. Isso, não sei. O que sei é vigora um estranho e sepulcral silêncio da cidade tricentenária sobre o deplorável episódio protagonizado por seu prefeito, Emanuel Pinheiro, e outras figuras públicas, no episódio que resultou no seu apelido: Paletó.

O CASO – Ha dois anos, em agosto de 2017, a Rede Globo exibiu imagens gravadas ao longo da legislatura da Assembleia Legislativa, de 2011 a 2014, em que deputados estaduais e ex-deputados estaduais aparecem recebendo pacotes de dinheiro de Sílvio Corrêa, à época chefe de Gabinete do então governador Silval Barbosa. O modus operandi da entrega é o mesmo. Em curtos diálogos Sílvio contemplava o parlamentar com o mimo financeiro, que tanto ele quanto Silval delataram ao Ministério Público com homologação pelo Supremo Tribunal Federal, que se tratava de pagamento de mensalinho em troca de fidelidade parlamentar de modo a não interfir na mecânica do funcionamento da máquina governamental.

A fila dos que receberam dinheiro é grande. Emanuel Pinheiro (PR) foi um deles, e no ato, do bolso já abarrotado de seu paletó, ele deixou cair um pacote da dinheirama – assim a sabedoria popular lhe deu o jocoso apelido de Paletó.
Ezequiel Fonseca (PP), que na legislatura seguinte seria deputado federal, abocanhou um naco da dinheirama. O mesmo fez José Domingos Fraga (PSD), que se reelegeria e em 2018 não disputaria mandato eletivo. Alexandre Cesar (PT), que era deputado, pegou sua parte, e após cumprir o mandato exerce a função de procurador do Estado. Hermínio Barreto (PR) era deputado estadual; em 2015 seria suplente de deputado federal e em 9 de maio de 2018 morreu num acidente na BR-364 próximo a Jaciara. Airton Português (PSD), ex-deputado, acompanhado por sua irmã Vanice Marques, ex-secretária de Estado, também embolsou. Luciane Bezerra (PSB), que depois seria prefeita de Juara e perderia o mandato por corrupção punida com cassação pela Câmara Municipal, travou um diálogo franco pedindo mais dinheiro ou aquilo que segundo Sílvio e Silval seria mensalinho. Outras figuras também foram contempladas com a generosidade do governador.

De modo geral, todos negam e tentam encontrar as mais diferentes justificativas, como é o caso de Ezequiel, que foi orientado por José Domingos para guardar a dinheirama nas meias.
RECORRENTE – Emanuel Pinheiro não se deixou abalar pelo vídeo. Mais recentemente o ex-secretário municipal de Saúde, Huark Douglas Correia, e outros da cúpula da área de Saúde na sua gestão foram presos por suspeita de um esquema de desvio de dinheiro público, mas sua blindagem na imprensa impede que o escândalo respingue em seu paletó – sem trocadilho, por favor.
Cuiabá corre risco
O silêncio da mídia reforçado por igual postura da população só não é posicionamento unânime em Cuiabá, por conta das redes sociais, onde sempre há manifestações cobrando justiça no episódio Paletó. Mesmo com o grito dos internautas Cuiabá poderá reeleger Emanuel Pinheiro, tamanha a blindagem que a Câmara Municipal lhe confere, pela cumplicidade jornalística e o compadrio dos caciques políticos – para os quais o episódio Paletó é tratado com desqualificação.
Cuiabá sangra na saúde pública. O funcionamento dos dois hospitais pode induzir eleitores ao erro. O Ministério Público – ora sob graves acusações por parte de policiais militares réus no escândalo Grampolândia Pantaneira – e a Justiça precisam cumprir seus papéis.
Chega de nos apresentarem um prefeito para ser avaliado por sua participação administrativa na área de saúde – que dará um salto de qualidade – que passa a oferecer mais e melhores serviços graças a uma ação política coletiva, que não pode ser personalizada, pois sua construção é coletiva, suprapartidária e não se prende a mandato eletivo.
Emanuel Pinheiro não se deixa abalar por denúncias nem críticas. É um estrategista político, que conseguiu a proeza de se aposentar na Assembleia Legislativa com salário integral de deputado estadual, antes de chegar aos 34 anos – foi contemplado com as benesses do Fundo de Assistência Parlamentar (FAP). No ano passado, lançou seu filho Emanuel Pinheiro da Silva Primo, candidato a deputado federal pelo PTB e o elegeu com uma votação expressiva conseguida em Cuiabá e municípios vizinhos.
Um sábio ditado nos ensina que não lugar onde um burro não entra desde que puxado por seu dono. Pois bem, no ano passado, o garoto Emanuel Pinheiro da Silva Primo, dito Emanuelzinho, foi lançado candidato a deputado federal. Sem nenhuma experiência ou vivência política recebeu 76.781 votos. Estratifiquemos a votação: segundo mais votado em Cuiaba, com 27.376 votos. e terceiro em Várzea Grande, com 11.723. O eleitorado que o elegeu tem a seguinte distribuição geográfica na dita Baixada Cuiabana e adjacências: primeiro lugar em Chapada dos Guimarães(2.187), Santo Antônio de Leverger (2.069), Nossa Senhora do Livramento (2.768), Nobres (1.187) e Juscimeira (886); segundo lugar em Acorizal (451), Jangada (790), Rosário Oeste (1.193) e Planalto da Serra(276).
Qual motivação política teria o eleitor em Nossa Senhora do Livramento para fazê-lo campeão de votos naquele município?
Qual motivação teve o motorista para inundar as ruas de Cuiabá com veículos envelopados com a chancela Emanuelzinho?
Muito estranha a concentração da votação em alguns municípios. Talvez a delação premiada que teria feito o ex-secretário municipal de Saúde em Cuiabá, Huark Douglas Correia possa abrir caminho a uma investigação por parte do Ministério Público Eleitoral sobre a votação de Emanuelzinho (agora Emanuel Pinheiro da Silva Neto). Huark é acusado pelo Ministério Público de desviar uma montanha de dinheiro da Saúde Pública num esquema que envolve a Prefeitura de Cuiabá até o pescoço.
Cuiabá não pode permanecer calada, não pode fazer de seu silêncio reforço a impunidade, não pode aceitar com naturalidade o episódio Paletó.
Avaliem o prefeito que temos e o que nos apresentam. Pensem nisso!
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS: Sobre imagem da TV Globo
Ótima matéria. Sou um opositor ferrenho desse canalha prefeito de Cuiabá. Saberia responder a quantas anda a apuração deste episódio por parte do Ministério Público?