Boa Midia

O novo já nasce velho

Não sei bem quem disse, mas disseram: qualquer idiota consegue ser jovem, mas é preciso muito talento para envelhecer.

Em companhia de Camus reconhecemos que envelhecer ainda é a única maneira que se descobriu de viver muito tempo. Ora!! A pessoa quer ser eterna, quer durar pra sempre…Então devemos reconhecer que somos habitados pela velhice.

Utilizarei “velho”, não “idoso”. Tenho um tanto de receio aos eufemismos; reconheço a boa intenção deles, entretanto a mim parecem arrancar o conteúdo das letras, da semântica que expressa a nossa vida. Justo quando as pessoas têm mais o que “dizer”, a sociedade tenta confiná-las e esvaziá-las também nas palavras.

Com efeito, velhice e sabedoria, de fato, não se confundem, mas se a gente cultivar com afinco uma, pode sentir melhor a outra.

Pensamos que a velhice nos chega de surpresa. Furtamo-nos, não a aceitamos, repelimos, contudo ela – ah! Ela! – nos habita. Foi Proust que disse “de todas as realidades, [a velhice] é, talvez, aquela de que conservamos por mais tempo, ao longo da vida, uma noção puramente abstrata.”

Assumir a totalidade da nossa condição – ser inteiro. “Paremos de trapacear, o sentido de nossa vida está em questão no futuro que nos espera; não sabemos quem somos se ignorarmos quem seremos: aquele velho, aquela velha, reconheçamo-nos neles. Isso é necessário se quisermos assumir em sua totalidade nossa condição humana. (…) Sentiremos que é algo que nos diz respeito. Somos nós os interessados.”(Simone de Beauvoir)

Ademais, é bom ficar velho num mundo de pressa, de relações e coisas rápidas, superficiais, sinóticas e efêmeras. Entusiasma-me a intimidade…

Emanuel Filartiga Escalante Ribeiro – promotor de Justiça em Rio Branco

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