Boa Midia

O indiozinho na audiência da Farra dos Consignados

Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com

 

Henrique Lopes presidindo com Lúdio ao seu lado

Um indiozinho com uma borduna encara o comandante do exército que invadiu, destruiu e incendiou sua aldeia matando todos seus ocupantes, menos ele. O militar, do alto do arreio de seu cavalo, olha para baixo e o encara. Em tom de deboche pergunta-lhe: você acha que com sua arma poderá vencer minha tropa. O pequeno responde com altivez: sei que não, mas quero que saiba de que lado estou.

O texto acima é de uma pirogravura que ocupava boa parte da parede de frente da sala de espera do gabinete do então deputado estadual Ságuas Moraes (PT). Peço licença ao Ságuas para uma metáfora com base no ensinamento da arte que dava o diferencial do local onde ele atendia à população.

Na audiência pública realizada na sexta-feira (6), na Assembleia Legislativa, convocada e presidida pelo deputado estadual Henrique Lopes (PT), e sabiamente batizada de Audiência Pública Consignação na Folha de  Pagamentos – Farra dos Consignados, reinava o clima do indiozinho desafiante. A legislatura estadual é composta por 24 deputados, e apenas três permaneceram durante o transcorrer do ato: Henrique Lopes, o autor; Lúdio Cabral (PT);  e o vice-presidente do Legislativo, Júlio Campos (União Progressista). Os demais tomaram Doril, sendo que  alguns passaram pelo plenário, marcaram presença, sorriram para os servidores e saíram para gravar vídeos cobrando esclarecimentos.

A ausência maciça dos deputados e a resistência da Assembleia em instalar uma CPI para apurar o fato, soam como se o indiozinho estivesse ali, em meio aos soldados, nos jardins repletos pelas vizinhas capivaras.

No contexto da audiência é preciso reconhecer que o escândalo foi levado ao povo mato-grossense pelo sindicalista Antônio Wagner, que preside o Sindicato dos Profissionais da Área Meio do Executivo de Mato Grosso (Sinpaig).

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Mesa: primeiro plano, Antônio Wagner; com Júlio Campos e Lúdio aos fundos

Mato Grosso é extremamente governista. Nem mesmo o grosso dos inativos, aposentados e servidores fora da escala de serviço deu o ar da graça.

Vi a fala do presidente do Tribunal de Contas do Estado, Sérgio Ricardo, que soou como um aviso: em 2026 voltarei aos palanques. Ministério Público Estadual, Polícia Judiciária Civil, Assembleia Legislativa, bancada federal e os partidos políticos não deixam o indiozinho sair da minha mente. O escândalo está debaixo do tapete. Para retirá-lo será preciso a federalização do escândalo, que envolve violação do sistema financeiro nacional – que salvo melhor juízo é crime federal.

Galerias e plenário com pouca presença

Henrique Lopes, Júlio Campos e Lúdio Cabral juntos criam a imagem do indiozinho, mas ela será engolida pelos vídeos dos deputados com passagem pinga-fogo, será triturada pelo poder do governador Mauro Mendes (União Progressista) e volatilizada pelo tempo que conduz à amnésia coletiva.

Fotos: Ângelo Varela/ALMT

4 Comentários
  1. Coronel Walter de Fatima Diz

    Belo texto…. apesar das diferenças ideológicas, devo profundo respeito ao Antônio Wagner: destemido, incansável e de grande domínio do assunto, merece meu maior reconhecimento. Ele é também o primeiro Indiozinho a enfrentar a máquina… Em frente Antônio Wagner !….

  2. Saguas Moraes Diz

    É uma honra para mim você usar….
    Essa gravura emoldurada está na sala de minha casa…
    Grande abraço!!!

  3. Rubens Lacerda Diz

    Texto muito lúcido!

  4. Antonio Wagner Diz

    Eu li Sr Eduardo. Obrigado pela referência na matéria. Mas de fato eh incomodo a falta de autonomia do parlamento. Incômodo uma que se elegem por ser e com a bandeira do servidor e depois vira as costas pra seus eleitores. Incômodo ver que nem diante de vários vários crimes isso tá sendo encoberto por uma narrativa frágil e amplamente vendida pela Secon do governo.
    EH CRIME AOS MONTES, fraude na modalidade, fraude em credenciamento, fraude em taxas abusivas, crime contra o sigilo de dados frente ao desrespeito a LGPD, fraude em inserção de dados em sistema público da folha de pagamento etc etc

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