Onça Branca fundou Castelo de Sonhos e algemou o Rambo do Pará
Gaúcho de Carazinho, Leo Reck chegou à calha do rio Curuá em 1975, na esteira da BR-163, que estava na fase final de abertura. Antes, quando ensaiava os primeiros passos naquela região, era o Onça Branca, garimpeiro bravo que não temia a pistolagem e ao seu modo ditava ordem que não era discutida – e ai se fosse. Agora, octogenário, rico, carrega o título de fundador do Castelo dos Sonhos, que é chamado de Castelo de Sonhos: é o respeitado seo Léo Reck, citação consensual em todos os eventos e voz ouvida quando se discute o futuro daquela vila tão grande quanto seus problemas.
Em 8 de agosto de 1988, num local perto do ponto equidistante de Cuiabá e Santarém, Léo Reck inspirado pela música composta por Walter Basso fundou Castelo de Sonhos, no município de Altamira. O nome do lugar não poderia mesmo ser outro senão aquele do sucesso musical mais tocado na época e que era uma espécie de hino dor-de-cotovelo nas fofocas dos garimpos de ouro, nas pousadas, bares e cabarés na região garimpeira nos dois lados da divisa de Pará e Mato Grosso.
A composição de Walter Basso além de agradar a Leo Reck enquanto música, também carregava nome sugestivo para o vilarejo por ele idealizado nos cafundós da Amazônia, numa área cortada pela BR-163 onde pouco tempo antes os garimpeiros Paraibinha e Gaguinho encontraram ouro. Assim, distante 1.100 quilômetros de Altamira nasceu Castelo de Sonhos, hoje, distrito de paz, porém completamente abandonado pelos governos do Pará e federal.
Léo Reck é a imagem da serenidade. Fala baixo e pausadamente. Age e pensa enquanto empresário rural e dono da imobiliária que vende terrenos urbanos. No campo político briga – no bom sentido, claro – pela emancipação de seu Castelo de Sonhos. Nas conversas reservadas tem sempre uma crítica ácida à omissão política com sua quase cidade, mas em público, sobre o tema, prudentemente prefere ouvir em silêncio.
Em Castelo de Sonhos ninguém se preocupa em falar sobre o ontem do fundador, porque sua história é de domínio público e ele tem a admiração coletiva. Num lugar com cerca de 16 mil habitantes e com um núcleo populacional que alastra suas raízes com os casamentos de filhos e até netos de pioneiros entre si, é dispensável dizer que o pistoleiro paraense mais famoso em todos os tempos foi garimpeiro por aquelas bandas e que um dia se desentendeu com Onça Branca, quer dizer, com Leo Reck, que o algemou e arrastou pela rua agora batizada de Santo Antônio. No lugar todos conhecem bem esse fato e ninguém se esquece que os pulsos algemados eram de Márcio Martins, o Rambo do Pará.
Depois de dominado por Leo Reck, Rambo do Pará sumiu por algum tempo. Posteriormente, travestido do personagem cinematográfico que lhe emprestou o apelido, reapareceu à frente de pistoleiros e traficantes, espalhou dor, luto e medo em Castelo de Sonhos e região, onde agia desafiando o Estado com indícios de que teria costas quentes de influentes políticos. Porém, sua valentia respeitava a imaginária cerca que o separava de Onça Branca, aquele gaúcho franzininho que dá um boi pra não entrar na briga…
Depois que Rambo do Pará morreu em confronto com a Polícia Militar, pistolagem virou coisa do passado por aquelas bandas. Agora, Castelo de Sonhos apesar da ausência do Estado é lugar promissor com um rebanho bovino com mais de 300 mil cabeças, é rico em ouro, tem grandes supermercados, laminadoras, madeireiras e bom comércio varejista. De quebra, conta os dias para a conclusão da pavimentação da BR-163 no Pará, onde é conhecida por Santarém-Cuiabá.
A abertura da BR-163 criou vilas e cidades nos dois estados. Castelo de Sonhos é uma dessas localidades; nos primórdios de sua colonização a pistolagem e a malária eram dois entraves ao seu desenvolvimento. Agora, os gargalos são outros: o Ibama,o Incra, o governo paraense e a prefeitura de Altamira – que sente urticária temendo a emancipação de Castelo de Sonhos.
Pelo andar da carruagem desgovernada acho que está na hora de Leo Reck sair de cena abrindo espaço ao Onça Branca antes que a ausência do Estado agravada pelo radicalismo ambiental e agrário transforme seu distrito em castelo de pesadelo.
Minhas reverências amigo Brigadeiro o seu texto é simplesmente sensacional, que bela história você nos brinda
Celso Ribas – Sinop
Brigadeiro você realmente é o cara
Júlio Teixeira Filho – Cuiabá – via Facebook