O doce silêncio amigo

Antigamente, quando a Imprensa fugia de algum assunto se dizia que a matéria foi publicada no canto do jornal onde o leitor o segurava com os dedos. Houve avanço na Comunicação, mas a matreira prática continua, porém, sofisticada. Na quarta-feira, 2 de setembro, o vice-governador Otaviano Pivetta (PDT) anunciou que abria mão de sua pré-candidatura ao Senado na eleição suplementar de novembro. O governador democrata Mauro Mendes também tocou no assunto. A Imprensa Amiga tratou de desqualificar o caso – metaforicamente os dedos entraram em cena.

Pivetta não tem obrigação de se candidatar, mas tanto ele quanto Mauro Mendes não foram claros sobre sua desistência ao Senado. Além disso, ao jogar a toalha o vice-governador não pacificou nem unificou o discurso com o governador. O ex-pré-candidato sai de cena anunciando que apoiará o tucano Nilson Leitão ao Senado. Mauro Mendes se desmancha politicamente para o biônico senador Carlos Fávaro (PSD).

Companheira, a Imprensa Amiga não questionou um nem outro. Reproduziu texto, conforme sua tradição.
Nem mesmo durante os meses em que Pivetta vestia a camisa da pré-candidatura Mauro Mendes o apoiou; sempre esteve ao lado de Fávaro, e inclusive brigou no Supremo Tribunal Federal pela bionicidade do seu protegido. Claro que o governante não mudará de posicionamento e, mais claro ainda, que irá com Fávaro a Lucas do Rio Verde – a cidade de Pivetta – pedir votos pra seu afilhado.

Da candidatura Pivetta abriu mão. A liderança política ele a perdeu. Seu adeus vapt-vupt mutila o sonho do Maestro Fabrício de Carvalho em ser prefeito de Cuiabá pelo PDT; entorta a tentativa de reeleição para prefeito de Eduardo Capistrano, seu correligionário em Diamantino. Os filiados ao partido de Brizola precisam de um puxador de votos, também para vereador, pois não há mais coligação pra esse cargo. Pivetta os deixou a ver navios.

A aliança construída por Pivetta com outros partidos, principalmente com o PSB dos deputados estaduais Max Russi e Dr. Eugênio, causará um rombo eleitoral nas bases desses seus aliados. Russi coordenaria a campanha, e Dr. Eugênio faria o mesmo em sua região, o Vale do Araguaia. E agora?

Sobre Pivetta pairará a pecha de indeciso e da submissão a Mauro Mendes e, esse, por sua vez, passará a ser visto com ressalvas, pois ganhará o rótulo de coronel mandão.

As águas do rio Verde continuarão passando ao lado de Lucas. Em Groslândia ninguém deixará de cultivar soja por isso. A cidade de Pivetta permanecerá crescendo. O ciclo da vida não será alterado tanto naquele quanto nos demais municípios de Mato Grosso. Já, a decisão de Pivetta, será o assunto do dia, por algum tempo, tempo curto, é bom que se diga. No amanhã ninguém mais abordará o anúncio deste 2 de setembro em plena Semana da Pátria. Pivetta sairá dos comentários. Permanecerá cumprindo seu mandato de vice-governador, provavelmente vendo Mauro Mendes abraçado com Fávaro, o ex-vice-governador de Pedro Taques e que montou a jogada política que em 2016 o derrotou em sua tentativa de reeleição e elegeu Luiz Binotti (PSD) prefeito de Lucas.

A Imprensa Amiga hoje ficou calada, porque não pode contrariar o anunciante Mauro Mendes. Pivetta foi poupado por ela. Amanhã, sobre ele, o silêncio será o mesmo, pois a dita cuja somente faz barulho para os donos do poder, coisa que ele cada vez é menos a partir de agora.

Eduardo Gomes de Andrade – Editor de blogdoeduardogomes

FOTO: Mayke Toscano – Site público do Governo de Mato Grosso