O corpo em seu labirinto
Este texto é uma breve incursão pelo livro ‘Essa Armadilha, o Corpo’, obra de estreia de Rodivaldo Ribeiro, um lançamento da Chiado Editora, focada em países de língua portuguesa. Em síntese, trata-se de um volume de 82 páginas e é composto de 22 contos.
Conheci o autor no jornal ‘A Gazeta’ de Cuiabá em fins da década de 90, quando eu era revisor e ensaiava os primeiros passos na literatura e ele lá ingressou no cargo de digitador. Depois, pela vida, se tornou revisor e, após a formatura, passou a atuar em áreas diversas do jornalismo como Cidades, Economia, Cultura e até Política. Faltou pouco para ser tão múltiplo quanto o palhaço de ‘O Circo’, de Sidney Miller: “(Aquele) que na vida já foi tudo / foi soldado, carpinteiro, seresteiro e vagabundo”.
De sua carpintaria particular ao purgar de sua usina íntima de vida & amor, desconforto & sofrimento, inconformismo & inconformidade com o mundo ao seu redor é que se faz a estreia dele no mundo editorial.
Um aspecto que muito me chamou a atenção em minha primeira leitura do livro é o seu caráter intimista, beirando o confidencial. E mais: muitas vezes expresso em forma de cartas, tanto que em três títulos dos 22 a palavra está expressa: ‘Da importância de envelhecer (ou resposta a uma ridícula carta de amor)’; ‘Uma ridícula carta de amor’ e ‘Para Sofia (Resposta a uma carta indevida)’.
Comentei com Rodivaldo que em muitas páginas eu tivera a impressão, claríssima, de que o eu-poético do autor andava a ‘discutir a relação’. Caso de ‘Para Sofia…’, em que dialoga com a ex-futura-cunhada e cujo início é por demais revelador: “Ansiei durante todo o período que passei com sua irmã por lhe conhecer, pois houve um tempo em que ela achava possível encontrar paralelos muito próximos entre a minha personalidade e a sua”. Disse a ele e ele meio que concordou.
Dias depois, lhe contei outra: a leitura de Admar Portugal, o Nico, que ao fim disse, na bucha: “Parece que no livro o Rodivaldo está falando o tempo todo é dele mesmo!”. Contei-lhe e o escritor, sério, quase carrancudo: “Olha, você sabe que não é bem assim… Ele (Nico) fez uma leitura rasa do livro” e tal.
Fosse o Rodivaldo, eu acreditaria mais no Nico que em mim, pois, nessas coisas de amor e intimidades e coisa e tal, as pessoas do povo, os chamados leitores comuns (ou não letrados), esses é que estão com a bola toda.
MARINALDO CUSTÓDIO, escritor, é mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
mcmarinaldo@hotmail.com
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