O avestruz
Na mitologia popular, o avestruz é famoso por esconder sua cabeça na areia ao primeiro sinal de perigo. Esta característica pode ser encontrada em diversas pessoas que evitam enfrentar os problemas e as asperezas da vida. Quem tem filhos, nos dias de hoje, sabe o que eu estou afirmando! Outros tantos evitam se informar devidamente, com expressões como estas: eu não leio determinado autor/jornal/revista ou assisto determinada emissora de televisão e/ou mantenho o acesso a certo veículo da Internet. Não perco tempo assistindo/ouvindo/lendo reacionários ou me inteirando de asneiras! Ou fazendo afirmações parecidas.
A vaidade não é somente a mãe de todos os pecados, mas é também, a parteira. Os donos da verdade esquecem que o absoluto não existe. A ninguém foi dado o bastão da verdade que pudesse ser brandido contra eventuais infiéis. Não somos deuses, somos todos pecadores que vivem num mundo de purgações, onde quanto mais se vive mais se aprende a viver. Esta afirmação vale apenas para aqueles que têm juízo!
O mundo é composto como dizia o meu pai. Ele tem de tudo. É preciso saber de tudo ou de quase tudo para se ter discernimento. Nas democracias – e somente nelas – se permite conhecer todas as tendências, ter ou professar quaisquer credos, ideologias e partidos. Nos países onde a democracia é sólida existem informativos de todos os matizes. Por que um jornal/revista não deve opinião própria? Isso seria negar a própria essência da democracia! É preciso conhecer as opiniões de todos (se quiser), pois isto faz parte do pluralismo democrático. Quem pensa e age de forma contrária certamente acalenta um censor em potencial.
Os veículos de comunicação têm suas circunstâncias e seus interesses. Isso faz parte, insistimos, do pluralismo democrático.
Aqueles que se comportam como avestruzes certamente não viram que uma rede de televisão do Brasil tem adotado uma política de inclusão dos negros (a) em suas novelas e noticiários. Este é fato louvável e alvissareiro que pode e deve ser seguida por todos aqueles que têm a responsabilidade de gerar empregos neste Pais de tão severas contradições e tantos desafortunados. É certamente o começo do resgate de uma dolorosa dívida histórica.
Termino este texto com a lição do excepcional jornalista JR Guzzo que se desligou de uma prestigiosa revista, com a seguinte afirmação: “A liberdade de imprensa tem duas mãos. Em uma delas, qualquer cidadão é livre para escrever o que quiser. Na outra, nenhum veículo tem a obrigação de publicar o que não quer”. É a democracia que não contemporiza com a atitude de enterrar a cabeça na areia, como se o mundo em volta tivesse que ser ignorado.
Renato Gomes Nery – advogado em Cuiaba e ex-presidente da OAB/MT
rgnery@terra.com.br
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