Boa Midia

O agro, a cripto e o novo ciclo da eficiência tributária

Pompeo Scola*
LUÍS EDUARDO MAGALHÃES

O agronegócio brasileiro está passando por uma transformação silenciosa, porém profunda e ela não acontece nas lavouras ou nos galpões, mas nas estruturas financeiras que sustentam o setor. Com o aumento da carga tributária sobre instrumentos tradicionais como os Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e a elevação do IOF sobre operações internacionais, o campo precisará operar com mais inteligência estratégica.

É nesse contexto que surge a adoção crescente de operações triangulares com criptomoedas: uma resposta racional e tecnicamente sólida ao novo cenário fiscal. Não é uma ruptura. É uma adaptação. E, mais do que nunca, o produtor rural brasileiro, das pequenas propriedades aos grandes grupos, está buscando formas de proteger sua margem líquida sem abrir mão da segurança jurídica e da liquidez.

As chamadas operações triangulares seguem uma lógica simples e funcional. Uma plataforma digital, muitas vezes, uma fintech ou corretora, compra a commoditie já pronta, realiza o pagamento ao produtor em reais, e executa a liquidação da operação usando criptomoedas ou tokens, via agentes internacionais. Ele não se envolve com a conversão, nem assume risco de volatilidade, ou seja, ele entrega, recebe, e segue operando.

Quem assume o risco e a responsabilidade são os intermediário que, por conhecerem o ecossistema cripto e operarem em jurisdições mais amigáveis, conseguem fazer essa liquidação com maior eficiência e menor impacto tributário do que os bancos ou sistemas de crédito tradicionais.

Esse movimento tem origem em uma firme busca por eficiência tributária. Com o IOF internacional em 3,5%, o uso de cripto aumentou até 20% em determinadas cadeias como alternativa à transferência bancária tradicional. Dados da Receita Federal mostram que mais de R$ 247,8 bilhões foram movimentados em criptoativos no Brasil apenas entre janeiro e setembro de 2024.

Segundo a Chainalysis, empresa americana de análise de blockchain com sede na cidade de Nova York, o nosso país já está entre os 10 maiores mercados de cripto do mundo, com expectativa de alcançar 120 milhões de usuários até 2030. Ou seja: mais do que um desejo de inovação, trata-se de uma estratégia consciente para reduzir custos e acelerar ciclos, usando canais que ainda não estão plenamente tributados, mas que já operam com rastreabilidade e legitimidade.

Esse novo ciclo de liquidação exige um outro tipo de inteligência financeira baseada em conhecimento tecnológico, organização jurídica e preparação regulatória. As operações ainda não são padronizadas, e cada transação pode envolver múltiplos agentes, moedas e legislações. Isso torna o compliance essencial desde a origem da operação.

Do lado regulador, o Banco Central já monitora com atenção. O Brasil possui uma estrutura emergente de regulação de criptoativos, mas ainda longe da maturidade exigida por operações empresariais complexas como as do agro. A Receita Federal, por sua vez, já exige que plataformas reportem mensalmente suas operações, e o setor como um todo precisa se preparar para a chegada de um marco regulatório mais robusto até 2026.

Empresas, produtores e cooperativas que quiserem continuar operando com cripto de forma segura e sustentável precisam trabalhar desde já com compliance fiscal, escrituração adequada e parceiros confiáveis que entendam tanto do agro quanto do mercado de ativos digitais.

O agro aprende rápido e se protege melhor

O uso de cripto no agro não é um modismo. É uma ferramenta de defesa de margem, uma alternativa à burocracia do sistema bancário e uma resposta objetiva ao aumento dos custos tributários. As operações triangulares são o exemplo mais claro de como o setor está se adaptando: não com discursos futuristas, mas com soluções práticas.

Na Cyklo Agritech, aceleradora de startups, temos observado esse movimento se expandir. Empresas que antes operavam 100% com instrumentos tradicionais hoje já realizam parte de suas liquidações com tokens e ativos digitais. Não é porque é moderno, e sim porque faz sentido econômico.

O produtor rural brasileiro continua sendo um dos agentes mais ágeis e estratégicos do país. E agora, além de semear com precisão, ele também começa a liquidar com precisão, em tempo real, com inteligência fiscal, e com os olhos bem abertos para o novo cenário financeiro que se desenha.

*Pompeo Scola –  Psicólogo, consultor em agronegócio e startups, CEO da Cyklo Agritech Aceleradora

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