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Novo Hospital Júlio Müller e uma audiência pública pelo ralo

A audiência pública sem sentido
A audiência pública sem sentido

Uma audiência pública insossa, esvaziada, que serviu de palanques ao ego e foi palco de discursos politiqueiros. Assim foi a que se realizou nesta segunda-feira, 12, na Assembleia Legislativa, pela anfitriã em parceria com o Senado, para discutir a retomada da obra do novo Hospital Regional Júlio Müller, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), paralisada há mais de cinco anos, em Cuiabá.

A audiência não acrescentou nada ao que se sabe sobre a obra paralisada nem apontou solução para sua retomada. Além disso, serviu para outros propósitos:

O deputado Paulo Araújo (PP), que foi o autor do pedido de realização da audiência, aproveitou a presença de vereadores de municípios do Vale do Araguaia e do Pantanal, para fazer selfie com os mesmos, em clima de pré-campanha eleitoral. Os visitantes, devidamente reembolsados por verbas indenizatórias ou diárias, estão em Cuiabá a custo zero e aproveitaram a viagem para o mimo fotográfico com o deputado.

O secretário estadual de  Infraestrutura e Logística, Marcelo Padeiro, jogou por terra o discurso do senador  Wellington Fagundes (PL), autor da convocação da audiência pelo Senado, e de Paulo Araújo, que insistiam na tecla de que o novo hospital seria importante para resolver parte do problema da saúde na capital. Marcelo Padeiro disse que não. Segundo ele, o problema da saúde em Cuiabá está solucionado graças ao governador Mauro Mendes (DEM). O secretário citou o que seu chefe teria feito para zerar o problema da saúde: lançou e executou 80% das obras de engenharia do Hospital Municipal; construiu (na verdade alugou um prédio) o Hospital São Benedito; e estadualizou a Santa Casa de Misericórdia.

O reitor em exercício da UFMT, professor Evandro Soares da Silva, também jogou um balde de água fria na fervura de Wellington e Paulo Araújo. Soares da Silva explicou que o hospital terá três objetivos (ligados ao curso de Medicina da UFMT): Ensino, Pesquisa e Extensão.

O reitor acrescentou que o projeto arquitetônico do novo hospital foi concebido por técnicos da UFMT. Ele somente não soube explicar como esses técnicos não viram que a obra seria construída num pântano, o que encarecerá seu custo e poderá colocar em risco sua estrutura.

O secretário estadual de Cultura, Turismo, Esportes e Lazer, e deputado estadual licenciado, Allan Kardec (PDT) aproveitou o palanque para discutir a localização geográfica do novo hospital, fato que é colocado em dúvida. Para uns sua área seria pertencente a Cuiabá; para outros, seria de Santo Antônio de Leverger. Kardec se empolgou com o tema, a tal ponto, que por pouco a audiência não seria transformada em debate territorial.

O deputado estadual Wilson Santos (PSDB) tentou ministrar uma aula de história. Citou que a UFMT nasceu graças ao governador Pedro Pedrossian, mas esqueceu-se de seus criadores, o presidente Emílio Garrastazu Médici e o ministro da Educação, Jarbas Passarinho.

O secretário estadual de Saúde e vereador licenciado por Cuiabá, Gilberto Figueiredo (PSB), não cometeu nenhuma gafe na audiência – nem poderia mesmo, pois sequer apareceu por lá.

Os prefeitos de Cuiabá e Várzea Grande, respectivamente Emanuel Pinheiro (MDB) e Lucimar Campos (DEM) também não deram o ar da graça.

 

O hospital

O hospital nasceu de um convênio de 2011 entre a UFMT e o Governo de Mato Grosso. Cada um bancaria 50% da construção. O governo federal liberou R$ 60 milhões, da parte que lhe cabia e o Palácio Paiaguás deveria desembolsar igual quantia perfazendo R$ 120 milhões, mas não o fez.

Em 2014, último ano do governo de Silval Barbosa, a obra foi paralisada. Pedro Taques assumiu o governo e empurrou o convênio com a barriga – o hospital desandou.

Congressistas e dentre eles Wellington, afirmam que existem R$ 60 milhões do governo federal depositados para a obra. Acontece que nem o Palácio Paiaguás nem a UFMT conseguem retomar a construção.

O projeto do novo hospital prevê 250 leitos, 23 UTIs para adultos, 16 UTIs pediátricos e 20 UTIs neonatais, além de farmácia, laboratórios, salas de cirurgia e clínicas em diversas especialidades.

O que se sabe (por alto)

Na quinta-feira,  8, a UFMT entregou à Secretaria Infraestrutura e Logística,  uma nova planilha de custos e, conforme assegurou o governador Mauro Mendes, a obra deve ser retomada assim que o projeto executivo for licitado. Marcelo Padeiro acredita que a mesma comece em 2020, mas somente Deus sabe quando terminará. Mais: Marcelo Padeiro disse algo preocupante: informou que a escolha de empresas para concluir o novo hospital será pelo Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC) – modelo simplificado de licitação, que costuma abrir inconvenientes portas na relação governo-empresas.

Eduardo Gomes – Redação blogdoeduardogomes

FOTO: Assessoria do senador Wellington Fagundes

 

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