Neste e nos demais dias sou mais FEB
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com

O vento frio, forte e cortante não quebrava o silêncio nos contrafortes do Monte Bastione. Nada se ouvia nem se via no começo da tarde de 16 de setembro de 1944, naquele canto da Itália ocupado pelo poderoso Exército Alemão. A enervante monotonia que antecedia o batismo de fogo da Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi rompida pelo grito seco do oficial comandante do 6º Regimento de Infantaria, ao ver a primeira movimentação da tropa inimiga: fogo! Naquele momento os pracinhas mato-grossenses entraram em combate contra o nazismo ajudando a escrever com sangue e amor patriótico uma importante página do heroísmo militar do Brasil.
Neste 8 de maio de 2019 o mundo celebra os 74 anos do fim da Segunda Guerra Mundial – o Dia da Vitória. O tempo, senhor da vida, levou quase todos os nossos heróis, mas o que fizemos por eles? Qual o legado que deixaram? E o que pensamos sobre aqueles bravos que lutaram pela liberdade universal?
No quantitativo a participação de Mato Grosso no grande conflito mundial foi modesta. O Brasil teve 25.834 homens e mulheres participando diretamente da guerra nas forças aero-terrestre nacionais. Desse contingente, 118 eram mato-grossenses.

Qualitativamente os conterrâneos do Marechal Rondon honraram a Bandeira que empunhavam. No regresso, 14 baixas dos heróis que tombaram para sempre no teatro das operações na Itália.Tive a felicidade e a realização profissional de produzir muitas reportagens com os nossos febeanos, que eram liderados pelo pracinha Feliciano Moreira da Costa, que dirigia a regional mato-grossense da associação que representa os ex-combatentes. Nossa conversa era demorada, porém pouca, resumida. Seo Feliciano quase não falava, mas mesmo assim costumávamos formar rodas para prosear. Delas, participavam os pracinhas Gabriel de Souza Guimarães, Joaquim Sérgio dos Santos, Gabriel Ferreira de Jesus, Lício Gomes Ferreira Mendes, Samuel Infantino, Davino Leopoldino de França, Armindo Santana Dias. Rafael Fortunato de Campos, Mário Pinto de Arruda (que também dirigiu a instituição), Aleixo Marcelo Campos e tantos outros. Meus questionamentos não os irritava, mas nenhum se preocupava em responder com rapidez e com os detalhes que cobrava. Mesmo reticentes em suas falas, todos, sem exceção, brincavam entre si e quase sempre fazendo troça sobre os tempos da guerra.
Mesmo ouvindo poucas frases dos nossos heróis, arranquei de alguns suas ancestralidades militares. Entre eles havia netos de combatentes na guerra com o Paraguai. Também ouvi sobre o sargento Luiz Geraldo da Silva, que tombou na Itália e empresta o nome ao estádio municipal de Cáceres, o Geraldão.
Confesso que sentia prazer em escrever sobre nossos febeanos. Da década de 1900 ao começo dos anos 2000, costumava acompanhá-los nos poucos eventos que participavam. Fui figura constante nas comemorações militares na 13ª Brigada de Infantaria Motorizada, em Cuiabá, quando nas datas voltadas para os feitos da guerra que ajudaram a vencer.
O fuso horário não permite a sincronização das festividades alusivas aos 74 anos do fim do grande conflito mundial. Isso é compreensível, mas não serve de fundamentação para que esse ou aquele país desconsidere a data. Apático no aspecto patriótico, o Brasil civil finge que não existe o Dia da Vitória. Não me atrevo a analisar essa questão nacionalmente, mas tomo a liberdade de abordá-la na esfera mato-grossense, essa terra em transe.
Para focaliza-los pelo que fizemos por eles, diria que quase nada. Mato Grosso lhes rende poucas homenagens e, uma delas, a avenida da FEB, em Várzea Grande, certa vez esteve a um passo de perder essa denominação, por conta do destempero parlamentar de um vereador. Em Cáceres, o estádio reverencia o herói Geraldão, mas de modo geral a memória institucional é injusta com a FEB e seus integrantes.
Qual o legado que deixaram? Diria que consciente e inconscientemente muitos assimilam seus atos deixados enquanto inventário cívico.
E o que pensamos sobre aqueles bravos que lutaram pela liberdade universal? Não sei o que pensa Mato Grosso da superficialidade das redes sociais. Particularmente tento mostrar aos meus filhos e netos o grande papel que desempenharam.
Nesta data e em todos os dias de minha vida, sou mais FEB, sou mais Exército, sou mais Brasil nesta terra onde figuras que nunca bateram um prego n’água em defesa da população, que nunca assentaram um tijolo pelo desenvolvimento estadual e, não raramente, vivem agarradas nas tetas generosas do Estado viciado política e sindicalmente tentam moldar um Estado completamente diferente daquele pelo qual lutaram nossos valentes pracinhas, que fizeram a cobra fumar.
.
FOTOS:
1 e 4 – Museu da Guerra
2 – Evilázio Alves
3 – Geraldo Tavares
Comentários estão fechados.