MT – Sinop: a capital do Nortão é também cidade universitária
Mato Grosso tem várias capitais além da oficial, Cuiabá. Tem Sorriso, como a capital nacional do agronegócio, Nobres a capital do ecoturismo, Cáceres capital do gado, Jaciara capital dos esportes e da aventura, entre tantas outras que se destacam pelas suas peculiaridades positivas. Nesse contexto destaque também para Sinop, popularmente conhecida como a capital do Nortão. Entenda que não é apenas uma questão geográfica que lhe rende o atributo. Hoje, o município é um centro de negócios regional com muitas indústrias, comércios, serviços, lazer, órgãos púbicos estaduais e federais, aeroporto, além de um aspecto cada vez mais marcante, o fato de ser uma cidade universitária.

Tal posição começou ser construída no início da década de 90, quando aqui aportaram instituições públicas como Unemat (agora com dois campus) e UFMT. Mais tarde foi a vez das privadas conquistarem espaço, a começar pela Unic, que implantou aqui as unidades Industrial e Aeroporto. A Fasipe, hoje, Unifasipe e com o status de centro universitário é filha de Sinop. Nasceu em 2002 e possui na cidade os campus Florença e Aquarela das Artes. A instituição mais jovem, também fruto do altruísmo local, chama-se Fastech, inaugurada no ano passado. Juntas as instituições oferecem mais de 60 cursos de graduação presenciais e abraçam um universo com mais de 15 mil acadêmicos, número este superior a população de muitos municípios mato-grossenses.
A variedade nos cursos ofertados é uma das razões que atrai estudantes para Sinop. Desde os tradicionais como Direito, Administração, Psicologia, Agronomia e Ciências Contábeis é possível encontrar também cursos que até pouco tempo eram sinônimos de grandes centros, como Gastronomia, Ciências Aeronáuticas ou mesmo Medicina. Em Sinop também é possível estudar Estética e Cosmética, Enfermagem, Veterinária, Zootecnia, Odontologia, engenharias Civil, Elétrica e Mecânica, Arquitetura, Farmácia, Biomedicina, Ciências Econômicas, Nutrição, Fisioterapia, Jornalismo, além de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Sistemas de Informação.
Alguns cursos implantados refletem a transformação agroindustrial pela qual a região atravessa, a exemplo de engenharias Agrícola e Ambiental, Florestal, de Produção, de Alimentos, ou mesmo Gestão do Agronegócio. Já o segmento da educação é atendido com licenciaturas em Matemática, Geografia, Letras, Pedagogia, Computação e Educação Física (este também com bacharelado), bem como Ciências Naturais com habilitação em Química e Física. Vale destacar que para este levantamento consideraram-se apenas cursos superiores presenciais em sua totalidade, mas é importante citar que em Sinop existem também ofertas nas modalidades semipresencial e EAD, com unidades instaladas, além de escolas de ensino médio técnico, como o IFMT e Ceprotec.
Outro fator que consagra o município como polo educacional diz respeito a cursos de pós-graduação, pois profissionais que já atuam no mercado regional buscam instituições locais para se aperfeiçoar. Nas privadas são cursos lato sensu com várias ofertas interessantes em especializações, que aprofundam conhecimentos em áreas específicas, bem como MBA (Master of Business Administration) voltados ao campo dos negócios. Nas públicas há também ensino stricto sensu, que forma mestres e doutores. Nesse quesito Unemat trabalha com Letras (profissional e acadêmico) e Matemática, já na UFMT abrange-se outras cinco áreas do conhecimento.

Para entender melhor uma cidade universitária é interessante conhecer a história e a rotina daqueles que fazem com que isso se torne realidade. É o caso da acadêmica Eduarda Carolina de Almeida. Ela tem 21 anos, deixou a casa da família no município de Feliz Natal e mudou-se para a capital do Nortão com o objetivo de ser advogada, para isso cursa de Direito na Unifasipe. Pelo apartamento em que mora, alugado em um condomínio onde existem outras 24 unidades, todos com cerca de 40 m² (com cozinha, quarto, banheiro, área de serviço e uma pequena espaço de convivência) paga R$ 600 por mês, um verdadeiro achado para os padrões locais, ainda mais nas imediações de uma universidade.
A acadêmica tem uma moto, estuda à noite e faz estágio em dois órgãos públicos durante o dia. Apesar do estudo e da rotina ocuparem quase que por completo seu tempo, ainda segue firme na academia das 6h às 7h30. Nos momentos de lazer e nos finais de semana ela e os amigos costumam frequentar bares com pegada jovem, lanchonetes, shows musicais, cinema, praticam atividades esportivas, entre tantas outras opções que Sinop oferece para sua faixa etária (ao menos até a chegada do Covid19). Quando não tem tempo para preparar o almoço Eduarda pede algo pelo delivery ou “dá um jeito” como se fala em linguagem popular. Lógico, Eduarda ainda conta com a ajuda da família para se manter, mas afirma que será por pouco tempo.
No condomínio onde a acadêmica reside também é possível encontrar estudantes que vieram de outros municípios da região, como Tapurah, Matupá, Vera, Claudia e até de Cachoeira de Serra e Novo Progresso, no Pará. Eles compartilham a mesma expectativa de Eduarda: estudar para ser independente financeiramente e progredir profissionalmente. Assim como eles, milhares de outros também tem o mesmo objetivo, uns vivendo com mais conforto, outros nem tanto, mas que juntos fazem de Sinop, com seus mais de 140 mil habitantes, ser também um polo em educação superior.
Diante disso, o reflexo gerado por uma cidade universitária não é observado só nos bancos acadêmicos, ele é vivenciado na prática por todos os sinopenses. Em determinadas horas do dia e da noite, em ruas que levam às instituições, surgem até congestionamentos. Comércios, em especial, aqueles que servem alimentos, disputam espaço nas imediações das faculdades em busca de clientes certos. Na construção civil são cada vez mais comuns condomínios de apartamentos, nos mais diferentes padrões, com aluguel garantido a maior parte do ano. Ter uma universidade no bairro tornou-se fator de valorização imobiliária.
Polo educacional é também significado de população jovem, em especial de consumidores. Os mais diferentes segmentos buscam ter esse público o seu rol de clientes. Setores da moda, beleza, saúde, alimentação, transporte, serviços, móveis e equipamentos, eletroeletrônicos, comunicação, eventos, tecnologia e uma infinidade de outros. Por certo que não são apenas os acadêmicos que fazem a economia girar, mas eles somam-se a uma população economicamente ativa, com o seu devido grau de importância. Em época de pandemia, com universidades fechadas desde março, muitos estão sentindo a falta desse público.
Então em Sinop não existem problemas e só acontecem coisas boas? Lógico que não, mas o objetivo desse texto não é trazer aspectos negativos comuns em todo lugar. O objetivo aqui é mostrar uma cidade movimentada e atraente. Com 45 anos de fundação e 40 de emancipação Sinop é jovem não só por questão cronológica, mas pelo espírito das pessoas que a habitam. E o papel de Eduarda nessa história? É difícil afirmar, afinal não há como ter certeza se é ela que empresta a Sinop sua jovialidade, ou se é Sinop que contagia Eduarda com todo seu vigor. A única certeza é de que a capital do Nortão é também uma cidade universitária e todos ganham com isso.
Márcio Uhde é funcionário púbico federal, graduado em Administração e Direito, especialista em Gestão de Pessoas e Docência, professor convidado na Unifasipe Pós-Graduação. Reside em Sinop.
Saiba mais:
http://sinop.unemat.br/site/
https://www.ufmt.br/campus/sinop
www.unifasipe.com.br
www.unic.com.br
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