MT- Homens que construíram a história contemporânea do Nortão Mato-grossense

Enquanto administrador e educador Osvaldo Sobrinho liderou o processo pioneiro de Educação no Nortão. Político, foi autor de leis que anteciparam o desenvolvimento. Sua presença naquela região é tão intensa que ele se funde e se confunde com ela. Convidado pelo site, escreveu esse depoimento em seus raros momentos de folga entre um e outro afazer. Mais que um texto se trata de um Memorial que deve ser lido por todos.
Até a década de 1970, MT passava despercebido com uma economia primária, pouca gente e muito espaço territorial.
Áreas de conflito surgiram no resto do Brasil. Gente sem terra e muita terra sem gente.
As terras estavam nas mãos de poucos, elas eram caras e inacessíveis aos menos aquinhoados. Grande parte deles constituíam áreas de conflitos em busca de um lugar ao sol.
Daí a grande corrida em direção ao centro-oeste onde MT era grande sonho de ocupação, não só pelo seu imenso vazio populacional, mas pelas suas riquezas naturais na flora e fauna, mas principalmente pelas suas terras férteis, baratas, e grande parte delas ainda sem dono.
Os homens neste setor, com forte visão empresarial, que tinham grandes experiências em colonização e ocupação, viam MT como o grande eldorado, um mundo aberto ao infinito futuro, com todas as portas escancaradas para a entrada de empreendedores e líderes, que tivessem capacidade de entender o social , o espírito humano e condição de liderar movimentos de onde estava a grande massa de pessoas desesperadas para ter um lugar ao sol, de ter um lugar onde pudessem chamar de seu.
Em grande parte formado de pessoas que eram habituadas ao trabalho pesado, já tinham experiências da vida sofrida do campo, mais que para elas era o sonho da formação de um novo lar, para a família que crescia em número de filhos, e que precisavam de mais espaço para acomodação de todos e acima de tudo tivessem espaço e futuro para todos.
Para todos estes sonho, precisava de um território habitável, terras férteis, de baixo custo, recursos naturais, determinação e líderes, que com mãos seguras e fortes, conduzissem este exército de famílias desprovidas de recursos econômicos, mais, cheios de vontades, esperanças, utopias e muita determinação.
Neste momento é que a conjugação de esforços entra em campo:
1. Problemas sociais no campo, principalmente no sul e sudeste do país.
2. Governos estaduais e federais sem iniciativa e sem caminhos para resolvê-los.
3. Povo e fome, fome e povo, desesperados e sem rumo pedindo clemencia dos céus, onde parecia que estávamos com ausência de Deus!
Neste momento é que surgem as saídas e oportunidades:
– Governos
– Empresários
– Povo
– Religião
Com a união destas oportunidades citadas, criou-se foco, rumo, esperanças, e saídas, para o começo de um novo empreendimento.
1. Dar terra, para os sem-terra, ou, com pouca terra.
2. Ocupação de grande parte do território nacional, completamente vazio e ausente de todo o processo civilizatório e econômico.
3. Ocupar espaço na área mais cobiçada pelo mundo, pelos seus imensuráveis recursos naturais.
Daí o Governo Federal despertou para o “integrar para não entregar”. Neste momento MT se encaixou perfeitamente nesta expansão de fronteira, conquista de novas oportunidades e criando um novo eldorado para matar a fome do mundo, em menos de quatro décadas. Assim começou esta epopeia, comandada por homens fortes, idealistas, sonhadores, utopistas e experientes. Dentre estes homens, citaremos alguns, que são como os clássicos, quanto mais o tempo passa, mais vivos eles estarão vistos pela lupa da história.
São eles:

– Enio Pipino
– João Moreira de Carvalho
– Ariosto da Riva
– Bianchini
– Norberto Schwantes
– A Família Bedin (Itaúba)
– José Humberto (Guarantã do Norte)
– Benjamin Dias e Gervásio (Nova Monte Verde)
– Raimundo Costa Filho com um final triste e não reconhecido pelos seus bons feitos, mas sim pelos mal feitos, embora também teve seus méritos.
– José Ribeiro (Nova Mutum)
– Piveta e outros (Lucas do Rio Verde)
– Claudino Francio (Sorriso)
– João Guedes – Líder comunitário em Colíder, depois, vereador e prefeito de Colíder.
Todos estes heróis citados, merecem destaques especiais, porém seria matéria para vários livros e profundas análises. Como não tenho condições de falar de todos, especificamente neste relato, falarei daqueles que mais marcaram esta apoteose da construção de novas cidades, e novas oportunidades para o novo gigante estado de MT.
Começarei com o Sr. Enio Pipino e João Pedro Moreira de Carvalho, que considero homens “fora de série”, fora do seu tempo. Semeadores de cidades e bandeirantes de um novo tempo.

Com a bagagem de quem já havia semeado dezenas de cidades no Paraná, em projetos de colonização motivado pelo cultivo da cafeicultura. Enio Pipino e João Pedro Moreira de Carvalho, seu sócio na Colonizadora Sinop, chegaram em Mato Grosso em começo dos anos de 1970, para empreender gigantesco projeto de colonização – A Gleba Celeste somava 650.000 hectares de terra, numa região com boa parte, inóspita, coberta por matas de transição entre cerrados e florestas tropical. Em 1972, Ênio Pipino fundara Vera, idealizada como polo principal do projeto de colonização de Santa Carmem e Cláudia. Experiente na façanha e arte de semear cidades, quando a estrada BR-163, que tinha a missão de ligar Cuiabá-Santarém passou distante e ao largo da cidade Vera, Enio Pipino urgentemente criou um novo e futuro polo, mais ambicioso, moderno, futurista, geograficamente bem-posicionado, que recebeu o nome de Sinop, que era a sigla de sua empresa Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná. Neste momento eu lá também estava, máquinas abrindo ruas, onde se ergueria o próximo projeto “Sinop”, ou seja, a futura cidade de Sinop. “A minha missão era construir escolas, a de Enio Pipino, construir cidades” duas missões que pareciam isoladas e estanques, porém uma completava a outra. Ele empresário e construtor de cidades e eu delegado regional de Educação construindo escolas. Em 1976, tivemos a oportunidade de entregar a primeira escola estadual em Sinop, criamos então uma verdadeira e mútua admiração. Demos o nome a esta escola pioneira de “Escola Estadual de 1 e 2 Grau Nilza de Oliveira Pipino”, esposa de Enio. Esta escola funcionou por mais de três anos, como extensão da Escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na cidade de Vera. Por que isso? Não tínhamos todos os profissionais em Sinop, e a nossa equipe em Vera, comandada pelas religiosas, era de primeira qualidade. Foi assim “que começou”.
Ênio Pipino e João Moreira de Carvalho tinham um ambicioso projeto de colonização da Gleba Celeste na cafeicultura, como haviam feito como grande êxito no Paraná. As terras e a composição dos solos aqui eram diferentes! Terras fracas e impróprias, clima subtropical e ciclo amazônico de chuvas fizeram a composição de uma receita, pronta e acabada de retumbante fracasso. Tentou-se várias saídas, novas experiências. Técnicos e especialistas de várias academias foram requisitos, inclusive o instituto de tecnologia de Campinas-SP, durante muito tempo, com sua grande e competente equipe de cientistas, entraram de cabeça na procura de novas aptidões de cultivo, porém sem rápido sucesso. Cultura como o algodão, milho, arroz, pimenta-do-reino, seringueira, guaraná, também redundaram em fracasso. Tentou-se outras culturas, como a mandioca, para a produção de álcool de fina qualidade, para se produzir bebidas como a vodka, e outras, de elevado valor agregado, e também com o objetivo de manter os colonos na terra, resultado igual! Fracasso!!
Nos fins da década de 1970, com o advento da criação da Embrapa, pesquisas e estudos indicavam que o milagre estava no uso do calcário. O uso do calcário proporcionou a vertiginosa revolução da soja e do arroz, em todo norte do estado.
O milagre e a salvação chegarão!
Com o advento da sojicultura, os infortúnios foram interrompidos e a crescente avalanche de produção e produtividade, tornou Sinop o celeiro do Brasil e a região das terras mais valorizadas do país.
Hoje Sinop, indiscutivelmente se tornou uma metrópole regional e centro prestador de serviços de vanguarda.
Educação, saúde são hoje o potencial máximo deste município (SINOP), com educação do pré- escola, até cursos superiores, com especializações, mestrados e doutorados com recomendações pelas melhores academias e universidades do Brasil.
Na saúde um esplendor; com faculdades em todos os segmentos do setor, e com profissionais de alta formação acadêmica, técnicos e cientifica.
Pode-se dizer que a educação foi a matriz decisiva para o atual estágio de desenvolvimento. Tenho certeza, sem falsa modéstia, que contribui, no meu tempo, com este enorme e fundamental êmbolo de mudanças de mentalidade e construção de desenvolvimento. Este trabalho foi decisivo para contemplarmos o atual estágio de felicidades e esperança em uma cidade e região cada vez maior e melhor.
Terra Nova do Norte

Com passagem rápida esta região construía a sua história.
Se fossemos construir um memorial dos desbravadores, certamente o Pastor Luterano Norberto Schwantes estaria inserido.
Período dos anos 1970 a 1988 Norberto dedicou a sua vida no resgaste de vidas, que na sua maioria estavam excluídos da vida produtiva do país.
De Pastor, tornou-se um colonizador, onde povoou de “gaúchos, e de progresso”, o Vale do Araguaia e logo em seguida o Nortão do estado.
Duas regiões completamente dispares. O Araguaia região de serrado, ainda improdutiva pela falta de tecnologia para o cultivo, e, a região onde hoje temos várias vilas e cidades, polarizadas pelo município de Terra Nova do Norte.
Ali eram floresta fechadas, área destinada ao exército nacional, e que cedeu para que ase assentassem colonos gaúchos que vieram para cá.
O Pastor Norberto Schwantes foi em minha opinião, um idealizador de um processo altamente inovador, focado em metas sociais e humanas.
Queria ele resgatar milhares de famílias de um processo de empobrecimento imposto pelo minifúndio improdutivo no Rio Grande do Sul.
Com experimento bem sucedido na região do Araguaia, o governo convocou Norberto, em 1978, para transferência de agricultores da região de Esteio-RS, trazendo-os para região de matas e florestas de grande porte na região de Colíder.
O desafio era completamente diferente da ocupação do cerrado do Araguaia, ali era um mundo diferente!
A floresta se apresentava com todos os seus problemas e privações, sofreram mais do que poderiam pensar; mosquitos, malárias, e animais peçonhentos não davam trégua.
Muitas vidas foram ceifadas, muitos desistiram da empreitada e voltaram para sua terra natal.
Difícil de acreditar que assistimos essa absurda história, hospital de campo lotados de doentes e corpos saindo em grande quantidade para o descanso final, lamentável acreditar, mais aconteceu!
Certo momento conversando com o Pastor Norberto, vi o pavor que ele sentia, estava estampado em seus olhos, nada podia fazer, diante do sofrimento daqueles colonos.
Apesar de tudo isso, este êxodo de pessoas e vidas ceifadas não foram em vão.
Mesmo a um custo social e humano inestimável, o controvertido êxodo prosperaram e a terra prometida virou Terra Nova do Norte. Que foi elevada município no ano de 1986.
Norberto Schwantes neste ano se candidata a Deputado federal constituinte e não é eleito, mais assume por um período como suplente.
Assinou a Carta Magna e morreu logo em seguida. A justiça de sua luta e vida deve estar sendo recebida em outra dimensão; pois, nesta não houve reconhecimento dos seus méritos e trabalho.
Lembro me de como era comovente o entusiasmo desse homem com aquela oportunidade de participar da história futura, como constituinte de 1988.
Ariosto da Riva

Construtor de cidades e homem fora de seu tempo.Ariosto da Riva indiscutivelmente está instalado na galeria dos homens extraordinários que viveram no século passado. Este homem aprendeu tudo que sabia na vida buscando formas e fórmulas que pudessem fazer as pessoas mais felizes. Era um homem realizado de coisas materiais, parecia-me que não lhe faltava nada. Nascido de família humilde mais que amava os mais simples e desprovidos afagos da vida.
Vindo de Naviraí- MS, com o coração cheio de sonhos. Mesmo sabendo das enormes dificuldades, dizia que veio para plantar cidades e dar oportunidades à aqueles que queriam renovar as esperanças em um futuro digno, melhor, e que todos conseguissem viver o hoje olhando para o futuro.
Portando creio que foi na planície das pessoas comuns e humildes que o amigo e empresário Ariosto da Riva, garimpou valores e exemplos de grandeza solidária ou divisionária tenacidade transformadora que só os enlouquecidos de esperança conseguem externar.
Sempre achei que eu fosse um privilegiado em participar dessa epopeia das frentes civilizatórias empreendidas por homens como Ariosto da Riva.
Ele foi um homem fora do seu tempo, “fora da curva”, capaz de ver a civilização e prosperidade onde só havia a floresta bruta e seus grandes infindáveis desafios.
Ariosto falava das cidades que pretendia construir, como se estivesse já vivendo dentro delas, vendo suas avenidas, ruas, hospitais, escolas, povo feliz, e vida com dignidade para todos.
Nunca o vi cabisbaixo, sempre altaneiro, convicto e certo deque aquilo não ficaria somente no campo da futurologia, das utopias, mais sim no campo das realizações concretas que somente os sonhadores de raízes no chão podem ver, sentir e acreditar.
Projeto de construção de três cidades, Alta Floresta, Paranaíta, e Apíacas; onde só se via florestas exuberante e animais selvagens, era acreditar demais.
Ariosto tinha um compromisso moral e intransigente com a educação com os filhos dos colonos que foram atraídos pelo seu projeto, era bonito de ver!
A educação sempre foi a maior prioridade do projeto de Ariosto. Construção de escolas modernas para a época, exigia a melhor formação para os professores, e uma equipe de grandes sonhadores que entendiam de educação.
Lembro-me até hoje da inauguração da primeira Escola que se chamou “Escola Estadual de 1 e 2 Graus Vitória Furlane da Riva”.
Nesse momento eu estava lá, como Delegado Regional de Educação e Cultural de Cuiabá, comandando esse processo.
Quinze anos depois, como Vice-Governador e Secretário Estadual de Educação Cultura e Esporte de Mato Grosso, tive a graça de criar o primeiro núcleo de educação superior através da criação da UNEMAT- Universidade Estadual de Mato Grosso, cujo Governador era Jaime Veríssimo de Campos.
No setor de agricultura, além das plantações de subsistência, Ariosto incentivou a plantação do cacau e o guaraná.
Ariosto depois de tantas obras e realizações onde colocou o coração e a alma no dia 25 de julho de 1992 vítima de um infarto fulminante faleceu.
Este é o homem que engrandeceu a minha geração.
Os seus sonhos foram realizados, as suas obras estão fortemente edificadas e sua falta sentida pelas futuras gerações. As três cidades que se comprometerá criar, hoje prósperos municípios.
Este homem, chamado Ariosto da Riva, foi um dos maiores brasileiros que tive o privilégio de conviver, e pude ter a felicidade de conhecer gente como ele que marcou a história contemporânea do Nortão Mato-grossense, e creio que é imortal “ foi um homem além do seu tempo”.
Osvaldo Roberto Sobrinho – Professor, advogado, mestre e doutor; empresário, pecuarista; foi Delegado Regional de Educação, Secretário de Estado de Educação, deputado estadual, deputado federal, vice-governador, suplente e senador da República
PS – Osvaldo Sobrinho foi autor de leis que criaram distritos e emanciparam vários municípios no Nortão
FOTOS:
1 – Agência Senado
2 – Colonizadora Sinop
3 – Prefeitura de Sinop
4 – Facebook
5 – Indeco – Alta Floresta
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