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ENTREVISTA – Moisés Franz questiona o agronegócio

Moisés Franz
Moisés Franz

ELEIÇÕES 2018 – Candidato ao governo pelo PSOL descarta aliança com partidos, vai administrar com o povo e quer plebiscito sobre a retomada ou não do VLT

 

EDUARDO GOMES

 

Se há oito meses a alguém fosse perguntado quem seria o próximo governador de Mato Grosso, o questionado diria – sem prevalência na citação – Jayme, Taques, Pivetta, Wellington, Mauro, Procurador Mauro, Ságuas, Sachetti, Blairo, Leitão. Porém, o nome Moisés Franz não seria lembrado, pois sequer seu partido, o PSOL, aventava a possibilidade de sua candidatura, já que a bola da vez naquela sigla é o Procurador Mauro. Nas voltas que somente a política sabe dar, Franz entrou na disputa apesar de ser desconhecido na terra que pretende governar. Mas, afinal, quem é ele? ‘Cuiabanense’ – mistura de cuiabana com catarinense – nascido em Poá (SP), uma das menores cidades do Brasil, ele é um dos filhos da miscigenação entre mato-grossenses natos e as levas de migrantes que batiam às portas do gigantesco Estado que se estendia do Amazonas ao Paraná, em busca de oportunidade. Seu pai, Paulo Franz, funcionário da Companhia Cervejaria Cuiabana, que envasava Brahma Chopp, veio para Cuiabá trabalhar na fabricação daquela cerveja. Aqui, conheceu Almira Angelina. Os dois se apaixonaram sob o luar da capital que ensaiava os primeiros passos para trocar o provincianismo pela moderna metrópole de agora, com mais de 600 mil habitantes. O casal mudou-se para o interior paulista, onde Franz nasceu. Sua mãe morrendo de saudade do universo cuiabano determinou: vamos voltar. Ele aos 9 anos chegou e não quer sair nunca mais. De família humilde, passou a infância e juventude no bairro da Lixeira, onde continua sendo reconhecido por seus laços de família, “é neto de dona Bugrinha”. Aluno da rede pública, estudou na Escola Presidente Médici, no bairro Araés. Bancário. Tecnólogo de Desenvolvimento de WEB e designer, com pós-graduação em Segurança da Informação, em 1988 foi admitido no extinto Centro de Processamento de Dados do Estado de Mato Grosso (Cepromat), agora MTI, por uma seleção externa com mais de 1.500 concorrentes. Sindicalista, atuou no Sindicato dos Trabalhadores em Empresas e Órgãos Públicos de Informática (Sindpd). Tem um casal de filhos cuiabanos, ambos universitários. Seu vice e correligionário é o cuiabano Vanderley da Guia, o Enfermeiro Vanderley Guia, que foi candidato a deputado federal em 2014 recebendo 1.425 votos, e concorreu a vereador por Cuiabá em 2016 cravando 261 votos. No palanque pela primeira vez, aos 52 anos, com uma casa e um veículo que somam R$ 77.500, contando somente com o pequeno Fundo Partidário para a campanha e dispondo de apenas 15 segundo no horário eleitoral, Franz demonstra otimismo. Acredita que o grande aliado de sua mensagem será o eleitor, com o qual espera derrotar o baronato da soja e assumir o Palácio Paiaguás.

DIÁRIO DE CUIABÁ – Qual o discurso do PSOL para chegar ao governo?
MOISÉS FRANZ – É muito bom a gente poder falar da força do povo. O PSOL vem em chapa pura para enfrentar os barões do agronegócio. Um Estado riquíssimo como Mato Grosso dominado por uma economia muito forte como o agronegócio, que gera riqueza para poucos, muito poucos, e essa riqueza não é distribuída para a população mato-grossense através da geração de emprego, que aumenta o consumo, que aumenta a geração de tributos para que o Estado possa investir em áreas essenciais como saúde e educação. Nós precisamos fazer uma distribuição de riquezas. Eu não sei como esse povo do agronegócio dorme tranquilo com inúmeras famílias vivendo aqui abaixo da linha da miséria (pobreza).

DIÁRIO – Qual sua estrutura de campanha?
FRANZ – Nossa campanha é muito modesta. Nós vamos fazê-la única e exclusivamente com o Fundo Partidário. Nós não temos doações de milionários, de barões, de grupos econômicos para que depois tenhamos que leiloar os cargos públicos para determinados partidos. Nós vamos fazer (o governo) com a força do povo; com uma aliança muito forte com o povo e com a única opção na política em Mato Grosso para enfrentar os barões do agronegócio.

DIÁRIO – É possível governar isolado dos demais partidos?
FRANZ – Nós do PSOL não governamos sozinhos. Governamos com uma grande aliança popular e com profissionais da sociedade civil organizada. Muitos (desses profissionais) estão fora da participação nesse governo, contribuindo com seus conhecimentos, a exemplo dos grandes doutores e grandes pesquisadores, porque hoje a política mato-grossense – a velha política – loteia os cargos no Estado para agradar partidos e para acomodar apadrinhados.

DIÁRIO – O orçamento de 2019 será aprovado agora. Caso vença a eleição, o PSOL negociaria sua elaboração com a Assembleia atual?
FRANZ – Nós vamos respeitar muito os poderes. Nós não vamos fazer do governo do Estado um puxadinho da Assembleia ou vice-versa como ainda ocorre neste Estado. Para aprovar uma matéria de interesse do povo (o governador) tem que dar aumento de duodécimo ou benesses para deputados. O deputado tem que entender que o papel dele é legislar pelo povo e fiscalizar o governo. Como nossa primeira medida, vamos ver esse orçamento e remanejar para áreas essenciais que estão carentes, principalmente a Saúde Pública. Todos nós vemos na mídia o grande problema que a Saúde Pública tem passado ultimamente.

DIÁRIO – Qual seria seu primeiro ato no governo?
FRANZ – Rever os incentivos fiscais. Mato Grosso perde três bilhões e oitocentos milhões anualmente. Deixa de arrecadar por conta dos incentivos fiscais e nós não temos clareza, transparência, se essa desoneração, essa abertura da arrecadação realmente compensa o que está abrindo mão. Precisamos e temos que tratar os incentivos fiscais não a grupos políticos, não a poderosos, não a gente do agronegócio. Precisamos trazer indústrias para realmente dar emprego ao povo de Mato Grosso, gerar tributos. Esse é o grande papel do incentivo fiscal. Nós não vamos abrir mão de ver isso como primeira ação de governo.

DIÁRIO – Como seria a política de incentivo fiscal com o PSOL no governo?
FRANZ – Trazendo empresas, atraindo empresas que realmente cumpram o objetivo do papel (da politica de incentivo). Por exemplo, hoje tem empresa que gera 10 empregos diretos. Quanto ela recebe de benefício fiscal? Será que aquilo que ela recebe retorna ao Estado em geração de emprego, em geração consumo, em geração de tributos? Isso precisa se ver, precisa de estudo, precisa ser sério. Trazer empresas que realmente agreguem valor à economia de Mato Grosso.

DIÁRIO – Como enfrentar o gargalo dos cargos comissionados?
FRANZ – Temos visto na mídia. Saiu uma reportagem recente, que 43% são comissionados ou contratados. A Constituição é clara. Ela diz que tem que haver concurso público. Contratos somente em áreas especiais. Precisamos rever isso. É um absurdo. Nós enquanto governo vamos reduzir drasticamente o número de cargos comissionados. Isso hoje no Estado nada mais é do que acomodamento político. Nós temos no funcionalismo público funcionários muito bem competentes que podem estar ocupando esses cargos.

DIÁRIO – Em seu governo seriam mantidos os contratos com as OSS da Saúde?
FRANZ – Como primeira ação de governo a gente vai romper, porque OSS nada mais é do que a terceirização da Saúde Pública. Saúde é obrigação e dever do Estado. Nós não podemos entregar a saúde do povo mato-grossense à iniciativa privada, que recebe muito e presta péssimo serviço.

DIÁRIO – Como seria a concessão de licenciamento ambiental em seu governo?
FRANZ – Em relação à Sema (Secretaria de Estado de Meio Ambiente), nessa campanha tem chegado as nossas mãos muitas denúncias de que muita gente, muitos políticos regularizaram terra, usaram mandato para regularizar terra. Vamos rever muitos licenciamentos que estão aí. Isso não pode ter influência política. Vamos ver a questão dos licenciamentos, ver se realmente foram feitos dentro das normas, dentro da regularidade; o que não for será cancelado.

DIÁRIO – Qual será o papel do município em seu governo?
FRANZ – Precisamos levar o governo aos 141 municípios com ações de proteção de rede social, de saúde, de Educação, de segurança. Nós temos que implantarmos unidades do Corpo de Bombeiros Militar, melhorar nossa segurança na fronteira. Queremos investir em capacitação, em tecnologia e no monitoramento via satélite para que possamos combater o crime organizado. Precisamos levar o governo onde o povo precisa.

DIÁRIO – Como assim, levar o governo onde o povo precisa?
FRANZ – Entre Ribeirão Cascalheira e Porto Alegre do Norte (BR-158) o trajeto entre as duas cidades não tem asfalto. Entra governo federal e sai governo federal, entra governo estadual e sai governo estadual e ninguém faz nada. Nós queremos resolver essa situação, assim como de outras questões logísticas.

DIÁRIO – Aquele trecho cruza a terra indígena Marãiwatsédé, dos xavantes…
FRANZ – É, mas mesmo sendo estrada de chão a passagem é por ali. Então temos que buscar solução para que esse asfalto efetivamente chegue, porque eu passei por ali em período de chuva e gastei dois dias para fazer aquele percurso. Mato Grosso precisa resolver a questão da logística. Isso dificulta até a atração em investimento e a industrialização do Estado.

DIÁRIO – Como o transporte ferroviário seria tratado em seu governo?
FRANZ – Temos que buscar condições para os trilhos chegarem a Cuiabá. Hoje, não somente a ferrovia que está em Rondonópolis precisar chegar a Cuiabá. Temos que melhorar nossa logística, para atrairmos mais indústrias, para que elas efetivamente se instalem aqui, e não ficando com o discurso. Além da ferrovia, temos também a hidrovia em Cáceres, a ZPE (Zona de Processamento de Exportação), cuja obra está paralisada porque a empresa que a construía está envolvida em escândalo… tudo em Mato Grosso parece que termina em escândalo. VLT é escândalo, obras da Copa são escândalos, reforma em escola é escândalo. Precisamos dar um ponto final nisso. A população não aguenta mais a corrupção entranhada na política mato-grossense.

DIÁRIO – Em seu governo seriam retomadas ou não as obras da Copa incluindo o VLT?

FRANZ – O VLT é o principal anseio da população de Mato Grosso. Com as pessoas que tenho conversado o anseio é muito grande pela conclusão, mas nós não vamos tomar nenhuma medida sem antes ouvirmos a população por meio de uma grande consulta popular. Particularmente sou a favor do VLT. Uma cidade moderna, uma cidade do futuro se faz com transporte moderno. A população de Cuiabá e Várzea Grande não aguenta mais esses ônibus que há 30 anos não têm licitação; entra prefeito, sai prefeito e está cada vez pior. Temos que buscar lá atrás o roubo que foi feito no VLT, pois a população não pode pagar essa conta.

DIÁRIO – Qual sua avaliação sobre os demais candidatos ao governo?
FRANZ – Com relação ao atual governador ele está sendo avaliado com a pesquisa final no dia da eleição, 7 de outubro. O povo vai avaliar se ele foi bom gestor, se ele vai ficar mais quatro anos para continuar fazendo o que ele não fez. Com relação a Mauro Mendes que diz que é um empresário tanto de sucesso na vida privada quanto na vida pública, que tem uma aprovação de não sei quantos por cento, quem vai dizer isso é o povo, porque aprovação passada não é sinal de aprovação futura. Quem é empresário de sucesso não deveria estar em recuperação judicial com um monte de pais de família sem saber quando vai receber seus direitos. (Franz não mencionou os candidatos ao governo Arthur Nogueira/Rede e Wellington Fagundes/PR).

 

Entrevista concedida ao jornalista Eduardo Gomes de Andrade para o Jornal Diário de Cuiabá – Publicação no sábado, 1º de setembro de 2018. Pág. A4 e na sua versão eletrônica. www.diariodecuiaba.com.br

FOTO: Dinalte Miranda/DC

Transcrito neste blogdoeduardogomes.com.br

 

 

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