DIA MUNDIAL DO TURISMO: A mística Chapada

Mística e envolvente. Por isso, gnósticos, ufólogos, mochileiros, enfim, o caldo social brasileiro se encontra em Chapada dos Guimarães, bem no centro geodésico do Brasil. Relatos há, mas oficialmente não aconteceu o chancelamento da presença de esverdeados marcianos com suas anteninhas cinematográficas por lá. Pouso de disco voador à parte, a cidade fervilha com o turismo, que não exclui amantes da natureza em busca de clima ameno, ar fresco das montanhas, águas limpas e a exuberância das flores e frutos do cerrado.

Chapada é uma pequena cidade ao lado de Cuiabá, distante apenas 55 quilômetros pela Rodovia Emanuel Pinheiro, parcialmente duplicada, e sede de um município que até o final dos anos 1970 foi o maior do mundo, mas que se fragmentou para dar vida a muitas cidades Mato Grosso afora.
Os 19.752 chapadenses convivem com a movimentação turística o ano todo, mas o fluxo de visitantes aumenta muito quando dos grandes eventos e datas importantes por lá, a exemplo do anual Festival de Inverno. Quem ganha com isso é o comércio varejista, são os artesãos que expõem em barracas na praça, são as pousadas, hotéis e restaurantes.
A Chapada é uma festa em todos os sentidos, inclusive para contemplação de seu casario que tem 42 construções tombadas pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Trilhas por todos os lados. Pontos de contemplação por todos os lugares, onde místicos teimam que no silêncio do cerrado conseguem contatos com extraterrenos.

O Complexo Turístico da Salgadeira, à margem da rodovia que liga Cuiabá a Chapada é um dos roteiros mais visitados pelo turismo doméstico. Nos feriados e finais de semana a Salgadeira recebe muitos visitantes, principalmente da capital e Várzea Grande.
A Salgadeira recentemente foi revitalizada pelo governo e ganhou boa infraestrutura, inclusive para segurança dos turistas.

Chapada é um reino das águas. Além do lago de Manso, com 42 mil hectares de lâmina d’água, há muitas nascentes, um complexo de pequenas cacheiras com 487 quedas d’água limpa, fria e convidativa. Assim é a Chapada, onde a maior e mais bela cachoeira é o Véu da Noiva, no rio Coxipó, com queda de 86 metros – esse é um dos cartões-postais de Mato Grosso, porém, a mais frequentada é a Cachoeira da Martinha, no rio Casca, à margem da rodovia que liga a cidade a Campo Verde. O Morro de São Jerônimo é um platô de rara beleza – místico acreditam que ele seja um ponto de visitação de extraterrestres.
Nos paredões de arenito avermelhado esculpidos pela paciência do tempo ao sopro do vento ao longo de 157 quilômetros, há figuras das mais variadas formas, inclusive algumas que lembram humanoides.

As flores dão colorido multicor e cheiro de campo à região. Os frutos no cerrado atraem animais mamíferos, aves e répteis. Uma imensa área com 33 mil hectares compõe o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães.
Pássaros de todos os tamanhos, cores e cantos. A Chapada voa nas asas da passarada, acorda com sua cantoria e se depara com a chegada da noite ao canto da cigarra. Porém, por lá também existem bichos exóticos.
Numa área de 1.540 hectares sem antropização, o Santuário de Elefantes Brasil está de porteira aberta a elefantes explorados em circos, zoológicos e parques de visitação. Trata-se de um inovador projeto para devolver à natureza os pesadões explorados pela ganância humana.

Vilas dispersas município afora garantem a continuidade da tradição cultural da região, que é habitada desde os primórdios da colonização mato-grossense no século XVII. A região sempre foi produtiva e seus habitantes foram os primeiros produtores e cachaça e rapadura para o mercado cuiabano.
Distante 5 quilômetros da cidade, num platô de onde se avista boa parte da Baixada Cuiabana, um discreto marco geodésico de metal sobre concreto mostra que ali é o centro do Brasil. A cidade não quer confrontar os levantamentos feitos pelo herói Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, que sem os equipamentos modernos de agora, definiu que o centro geodésico do país é na área externa da Câmara Municipal de Cuiabá, na praça Pascoal Moreira Cabral, o antigo Campo D’Ourique, à rua Barão de Melgaço, distante 70 quilômetros do ponto em Chapada
Na cidade, condomínios de alto luxo abrigam milionários e nababos servidores públicos aposentados; essas figuras dividem o tempo entre a paz no clima ameno da Chapada e a correria com o azedume da temperatura em Cuiabá.
Chapada também foi pioneira na geração de energia de origem hidráulica para o abastecimento de Cuiabá, com uma pequena central hidrelétrica no rio Casca. Hoje, o Aproveitamento Múltiplo de Manso tem capacidade instalada para gerar 212 MW. O Manso é o principal afluente do rio Cuiabá a montante da capital.

Em parte da borda do lago de Manso há resorts, mansões e chácaras de luxo. Barcos e motos aquáticas navegam em alta velocidade nas águas profundas da hidrelétrica, para alegria de seus pilotos e passageiros.
A Santa Madre tem presença bicentenária em Chapada. A Igreja Sant’Ana do Santíssimo Sacramento nasceu em 11 de agosto de 1811 por ordem de Dom João VI. Depois de muito vaivém aquele templo foi sede de prelazia e agora pertence à diocese de Primavera do Leste-Paranatinga. Mais: um dos orgulhos do chapadense é o fato de sua principal igreja católica ser o primeiro imóvel mato-grossense tombado pelo Iphan; o tombamento aconteceu em 1957.

O cristianismo chapadense não é exclusivo da Igreja Católica Romana. Desde 1913 a Igreja Presbiteriana marca presença naquela região, onde em 26 de maio de 1923 iniciou a alfabetização de crianças e adultos na Escola Evangélica do Buriti, próxima à cidade.
Além do misticismo e da exuberante beleza de suas serras, rios, cachoeiras, grutas, flores e frutos do cerrados, aves, mamíferos e répteis, a Chapada tem mais um quê irresistível: o clima ameno. Situada a 798 metros acima do nível do mar, a cidade é destino natural de quem quer escapar do calor cuiabano, que é famoso. A altitude de Cuiabá é de 125 metros e o vento quente que sopra do Pantanal esbarra nos paredões da Chapada, que rodeiam em parte da capital mato-grossense.
No começo dos anos 2000 Chapada esteve a um passo de ganhar uma estátua de Buda, com 108 metros de altura – seria a maior do mundo. O monge Gustavo Pinto, presidente da Associação Terra da Paz planejou sua construção no topo do Morro do Japão, com visão sobre o lago de Manso.
A imagem com um santuário budista viraria centro de peregrinação mundial de budistas, o que resultaria na criação de um nicho de turismo religioso que transformaria a economia chapadense.

A proposta do monge budista esbarrou na intolerância religiosa de pastores de diversas denominações, o que levou o então governador Blairo Maggi a criar embaraços a tal ponto que o projeto foi por águas abaixo.
Resumo: a Chapada é mística até o ponto em que o cristianismo não se sente ameaçado por outra corrente religiosa – marcianos, sim e sempre; budistas, não e jamais.
DICA – A melhor fonte de consulta sobre Chapada é a Sala da Memória, à rua Quinco Caldas, no centro da cidade. A
Sala funciona todos os dias, de 8 às 16 horas, com entrada gratuita.
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 e 2 – Eduardo Gomes
3 – Gabinete de Comunicação do Governo
4, 7 e 9 – José Medeiros
5 e 6 – Marcos Vergueiro
8 – Divulgação
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