Mato Grosso e o risco do buraco negro
A sabedoria popular nos mostra que o Brasil começa após o carnaval. Começa no sentido do funcionamento institucional, pois a base populacional não goza do privilégio do ócio – ou quase isso – entre o Natal e a Quarta-feira de Cinzas. Nacionalmente, o que esse saber popular ainda não citou, é algo extremamente grave para a cidadania mato-grossense e o Estado: diante da conivente inércia social, da cumplicidade editorial, do compadrio politiqueiro do governo com a Assembleia e do discurso apocalíptico palaciano do governador Mauro Mendes estamos a um passo do vácuo de instituições em muitos municípios fora do aglomerado urbano de Cuiabá.
Mauro Mendes defende o fechamento de dezenas de delegacias de polícia nos pequenos e em médios municípios.
O presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Carlos Alberto Alves da Rocha aguarda conclusão de um estudo que poderá resultar no fechamento de comarcas.
O procurador-geral de Justiça, José Antônio Borges, anuncia que também determinará um estudo que poderá levar Mato Grosso ao fechamento de comarcas.
A Defensoria Pública se descabela em busca de espaço na mídia para mostrar que seu orçamento foi reduzido no ano passado e que se faz presente em menos de 50% das comarcas, inclusive na de Juína, município com 40.905 habitantes.
O Corpo de Bombeiros Militar se faz presente em apenas 16 dos 141 municípios: Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis, Sinop, Barra do Garças, Cáceres, Tangará da Serra, Nova Xavantina, Nova Mutum, Primavera do Leste, Alta Floresta, Pontes e Lacerda, Jaciara, Sorriso, Campo Verde, Colíder, Lucas do Rio Verde, Juína, Alta Floresta, Confresa e Guarantã do Norte. No caso de incêndio em Paranatinga o atendimento terá que ser feito pelos bombeiros de Primavera do Leste, distante 140 quilômetros. Nem pensemos sobre situação assim em Aripuanã, Rondolândia, Nova Bandeirantes, Ponte Branca etc.
Os hospitais regionais são arremedos de unidades regionais de referência na saúde.
A estrutura do Estado está sob ameaça pela incapacidade de Mauro Mendes em encontrar solução administrativa, pela conivência da Assembleia Legislativa com seu crônico amém e pela falta quantitativa do jornalismo investigativo – que bote o dedo na receita e despesa da figura Estado em sua abrangência, e para questionar o absurdo do encolhimento institucional, o que em linhas gerais cria duas castas sociais – uma, assistida pelo poder público, e outra, abandonada à sua própria sorte.
É fácil apunhalar a população das pequenas localidades, que não tem voz nem organização social e muito menos representantes políticos dignos. É cômodo apontar a suposta crise a erros de governantes do passado, mesmo que tais críticos tenham sido seus aliados.
Leiam as últimas edições do Diário Oficial do Estado de Mato Grosso e vejam as centenas de contratados para cargos comissionados, muitos deles reforçados por verbas indenizatórias (VI). Continuem lendo, acompanhem o Portal Transparência e saibam sobre a receita do caixa sem fundo do governo.
Observem que no momento de recolher imposto o Estado é uno em seu avanço sobre o bolso do contribuinte. Notem que no fatiamento do bolo dessa receita os poderes são autônomos, e cada um, ao seu modo, trata de engordar salários de seus apaniguados.
Não resta saída para evitar a consumação do vácuo institucional nas pequenas e em médias cidades, senão a reação cidadã. Enquanto Mato Grosso aceitar com naturalidade a situação reinante e sua versão jornalística continuaremos avançando para a retaguarda até que um dia seja tarde demais para tentar parar antes que o buraco negro nos trague.
blogdoeduardogomes é um site solidário com Mato Grosso e a cidadania. Outros veículos de Comunicação também se posicionam desse modo. Que a cidadania e a parcela da Imprensa que se pauta pela lógica se unam. O tempo é aliado deles. Antes da hora não é hora; depois da hora, também, não.
Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
FOTO: Ilustrativa
Acorda Mato Grosso.
José Veiga – Sinop