Mato Grosso critica STF, mas não questiona seu quintal

Ao longo da semana passada observei com atenção o volume de críticas de mato-grossenses contra o Supremo Tribunal Federal (STF) nas redes sociais. Não se tratava de questionamento sobre esse ou aquele julgamento, sobre essa ou aquela decisão monocrática ou colegiada. Havia um tom de desejo de mudança. No período, Mato Grosso foi palco de vários eventos na esfera pública, que exigem reação popular, mas sobre eles pairou o silêncio. Somos povo que exerce a cidadania somente no segundo andar? Somos cúmplices do que aqui acontece? Somos omissos por comodismo, medo ou tentativa de participar – levando vantagem de uma ou outra forma – dos episódios que ultrajam a Terra do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon?
O que somos? Esse é o questionamento, sem que ele coloque em xeque o direito ao protesto contra o STF.
Nacionalmente o brasileiro clama por mudança da figura do Estado. A eleição de Jair Bolsonaro para presidente é um exemplo claro dessa realidade, muito embora a esquerda tente desqualificar esse fato e os demais que não interessam à sua sede pelo poder.
Mudar. Mudar o quê? Acho que tudo. O modelo está corroído e viciado. Vivemos em guetos enquanto na penumbra o sistema tripartite: capital, sociedade e político solapa essa grande nação.
Contra esse tripé, somente a força do povo. Mas, para enfrentá-lo é preciso começar no próprio terreiro, nesse caso, em Mato Grosso, que é a base territorial conjunta dos 141 municípios onde vivemos.
Onde está Mato Grosso que não reage contra a nomeação de Guilherme Maluf para o Tribunal de Contas do Estado? Onde está que não cobra dos deputados estaduais e do governador Mauro Mendes, a chancela que levou Maluf para aquela corte auxiliar de contas?
Onde está Mato Grosso que não reage ao anúncio de Mauro Mendes sobre o fechamento de 16 delegacias da Polícia Civil, e ao estudo do desembargador Carlos Alberto Alves da Rocha, presidente do Tribunal de Justiça, e do do chefe do MP, José Antônio Borges, para o fechamento de 16 das 79 comarcas?
Onde está Mato grosso que não reage com a imoral verba indenizatória (VI) de R$ 65 mil mensais aos deputados estaduais?
Onde está Mato Grosso que não reage à declaração do deputado estadual Lúdio Cabral (PT), informando que gastou os R$ 65 mil da VI de fevereiro, em sua totalidade, no período carnavalesco, pagando assessoria para orientação sobre a reforma tributária?
Onde está Mato Grosso que não reage contra o governador Mauro \Mendes por nomear 246 barnabés de ouro para a Casa Civil nesta terra amordaçada administrativamente por um decreto de calamidade financeira com vigência de 180 dias?
Onde está Mato Grosso que não reage contra a vergonha do duodécimo da Assembleia Legislativa, que supera os gastos da Universidade do Estado (Unemat)?
Onde está Mato Grosso que não reage ao vácuo de conselheiros titulares no TCE desde setembro de 2017, com cinco deles afastados por suspeita de improbidade administrativa – recebimento de propina do ex-governador Silval Barbosa? (São eles: Valter Albano, Sérgio Ricardo, Waldir Teis, José Carlos Novelli e Antônio Joaquim).
Onde está Mato Grosso que não reage diante das vergonhosas imagens do prefeito de Cuiabá e então deputado estadual Emanuel Pinheiro recebendo de Sílvio Corrêa, à época chefe de gabinete de Silval Barbosa, pacotes de dinheiro a ponto de um deles cair do bolso de seu paletó?
Onde está você, Mato Grosso, que não reage ao noticiário chapa branca que abafa tudo isso?
Acho que Mato Grosso não reage a tudo isso, por se encontrar com o olhar voltado para o STF.
É tempo de ampliar o olhar, sair da visão monocular, cômoda, que não cria indisposição aqui – e quem sabe facilita entendimento no amanhã.
Por Mato Grosso, passemos Mato Grosso a limpo para que tenhamos legitimidade no questionamento ao STF – que também tem que ser mudado.
Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes
FOTO: Assessoria do STF
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