Boa Midia

João Henning, o padre do cooperativismo

Padre João é o precursor do cooperativismo mato-grossense, pois fundou o presidiu a Ocemat, Sicredi e a Comajul. Isso tudo, entre uma celebração religiosa e outra, e uma assistência social aqui e outra ali, ao longo dos 41 anos em que reside em Mato Grosso.

Nascido na cidade de Bodenrode, na Alemanhã, em 7 de julho de 1934, Johannes Berthold Henning ordenou-se sacerdote em Fulda, naquele país, em 24 de abril de 1962, e chegou ao Brasil em dezembro de 1967.

A pronúncia “Johannes” não soa bem e ele a aportuguesou para João, padre João, nome com o qual é conhecido nos quatro cantos de Mato Grosso.

Seus primeiros passos em Mato Grosso foram em Pedra Preta, “por poucos dias; menos de um mês”, revela. Em seguida mudou-se para Juscimeira, onde celebrou a festa natalina de 1967.

O perfil agrário de Juscimeira é de pequenas propriedades; essa característica, há 31 anos, levou padre João a criar a Comajul – cooperativa mista com sede naquele município. No início o cooperativismo fomentava o cultivo do arroz e para tanto montou um secador – que à época era raridade.

Logo após a criação da Comajul, Juscimeira estava em ebulição em razão da luta pela terra. Padre João entrou em cena: em 1982 comprou uma área no município de Diamantino (hoje pertencente à Nova Mutum) e criou o Projeto Ranchão, que assentou trabalhadores rurais em parcelas de medidas diversas, cobrando preços irrisórios pelas mesmas. Para suporte a essa comunidade rural criou-se a vila de Ranchão.

Cuiabá enfrentava sério problema com o abastecimento de leite. Padre João mandou a Comajul comprar um pequeno laticínio cuiabano e sua cooperativa mergulhou nessa área. Atualmente tem 3.500 cooperados no Vale do São Lourenço, Poxoréu, Guiratinga, São José do Povo, Rondonópolis, Cuiabá e Várzea Grande, e sua plataforma recebe diariamente 130 mil litros de leite. A produção da Comajul inicialmente destinava-se ao mercado de Cuiabá e Várzea Grande. Agora, ela repassa parte do leite para a multinacional Nestlé e produz manteiga, leite pasteurizado, requeijão, doce de leite, requeijão, iogurte e queijo.

Padre João integra a diretoria do Sicredi Central e preside o Sicredi de Juscimeira e a Comajul. Também fundou e presidiu o Sicredi em Campo Verde.

 

Sonhador

 

A igreja transferiu padre João de Juscimeira para Dom Aquino, onde permaneceu por 20 anos, mas sem jamais se afastar da cidade onde deu o sopro de vida à Comajul.

De Campo Verde padre João retornou para Juscimeira, onde trava mais uma luta, dessa feita sem nenhuma relação com o cooperativismo: é vítima de diabetes.

Durante um ano permaneceu na Alemanha em busca de tratamento. Retornou ao Brasil, está de volta à cidade que adotou. Novamente pisa o solo de sua Juscimeira, mas sem a desenvoltura do passado. Caminha lento amparado por muletas, porque sua perna direita foi amputada.

Ontem, o entrevistei num torneio leiteiro da Comajul, em Juscimeira. Feliz, risonho, confiante e otimista, padre João continua o mesmo sonhador que conheci há 39 anos. A fé em Cristo o mantém celebrante e evangelizador. A crença que o homem é capaz, o faz líder e motivador, com a força daqueles que sabem fazer o mundo mudar.

 

PS – Texto do jornalista Eduardo Gomes escrito em 8 de julho de 2009 e publicado no dia seguinte no Diário de Cuiabá.

Padre João morreu vítima de infarto por volta de 11 horas do dia 24 de agosto de 2010, na cidade de Juscimeira, onde seu corpo foi sepultado.

 

Da REDAÇÃO

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