Pode parecer contraditório, mas estamos numa era globalizada caracterizada por bolhas. Vivemos no todo, mas muitos são os que agem em seu universo restrito, como se discursassem para todos. O indivíduo ocupa espaço em seu quadradinho como se estivesse movendo o mundo ou a um passo de movê-lo. Creio que os senadores Wellington Fagundes (PL) e Jayme Campos (União) são exemplos dos que coabitam nos mundinhos limitados e permanecem com um imaginário cajado nas mãos, que ao menor toque faz chover ou provoca estiagem, lança luzes ou derrama trevas, tem o poder da cura e a faculdade de manter a doença.
Os dois senadores lideram campanhas solitárias, sem acompanhamento, sem eco, sem aliados frenéticos, sem movimentação de grupos e de segmentos, com cada um se autoproclamando candidato ao governo.
Lamentável que dois homens públicos tarimbados não reflitam sobre suas condutas destrambelhadas pelo sonho com o poder. A campanha ao governo exige grupo, movimentação, cheiro de gente nas ruas, ao passo que ambos, na solidão de seus sonhos, saem em busca do primeiro microfone ou da gravação de vídeos assumindo suas bandeiras. Wellington, creio, é ainda mais isolado do que Jayme, porque seu grande trunfo político não assume plenamente sua (pré) campanha por ser sua nora, a deputada estadual Janaína Riva (MDB). Jayme tem todos os dias ao seu lado a voz do irmão e deputado estadual Júlio Campos (União).
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Não se vê liderança política – à exceção de Júlio – em defesa de Jayme e muito menos de Wellington. Até seus partidos os abandonaram: os liberais liderados por Jair Bolsonaro abraçam cada vez mais o nome do vice-governador Otaviano Pivetta (Republicanos) ao governo, e os filiados ao União Brasil correm também para o colo político de Pivetta em busca de uma dobradinha governo-Senado anunciada por Bolsonaro, com Pivetta ao Paiaguás, e Mauro Mendes (União) e José Medeiros (PL) para senador.
Política também é a ciência da paciência, do saber esperar, do desistir e da derrota, muito embora muitos somente a enxerguem por sua vertente vitoriosa. Jayme e Wellington sabem disso, e tomo um exemplo com Wellington, que em 2010 era deputado federal e queria disputar o Senado, mas seu plano esbarrou no então governador Blairo Maggi, que se lançou ao cargo: à época Wellington disse, “manda quem pode, obedece quem tem juízo” – e concorreu à reeleição.
Políticos maduros, experientes, Jayme e Wellington sabem que se trocarem de partido terá o mesmo efeito que tem a mudança de cabeceira para o doente. Ambos ainda não dimensionaram o que aconteceu ao seu redor no campo político. Vejamos:
Mauro Mendes era filiado ao PSB e Jayme o levou para o Democratas (antecessor do União Brasil). O tempo passou, Mauro cumpriu sete anos de governo, e ao longo desse tempo Pivetta costurou sua candidatura para 2026. No período, Jayme permaneceu ao largo, sem jamais assumir que gostaria de disputar o Paiaguás; enquanto isso, nos meios políticos o que mais se ouvia era, “Jayme só entra na disputa se a onça estiver morta” – Pivetta botou a cara a tapa. Deu no que deu.
Wellington estava em baixa política. Há três eleições o PL sequer elegia vereador em Rondonópolis, onde o senador nasceu e mora. Bolsonaro foi para o PL e deu um sopro de vida a Wellington, que a exemplo de tantos outros deve o mandato ao ex-presidente. Bolsonaro nunca engoliu o nome de Wellington para o governo: queria o empresário Odílio Balbinotti, considerado direita raiz e filho de seu ex-colega de Câmara dos Deputados, Odílio Balbinotti (o pai). O grupo ligado a Wellington aprontou tanto para cima de Odílio (o filho), que ele desistiu. O partido de Bolsonaro perdeu a referência de candidatura partidária ao governo. Bolsonaro precisa de força no Congresso e sabe que Mauro Mendes em tese tem uma cadeira garantida no Senado, e a partir desse princípio, com uma pitada de companheirismo com o deputado federal José Medeiros, pediu que seus seguidores votem em Pivetta, José Medeiros e Mauro Mendes. Wellington dançou, mas, por enquanto, ainda não repetiu o que disse em 2010 quando Blairo puxou seu tapete.
Tanto Jayme quanto Wellington têm direito de levar adiante seus sonhos, mas por tratar-se de disputa majoritária ambos deveriam levar em conta se falam para si mesmo ou se são ouvidos. Porém, se quiserem continuar pregando seus nomes mesmo sabendo que trafegam na contramão da lógica, que o façam em suas bolhas enquanto a globalização segue seu curso nesta terra que tem Várzea Grande, com 300 mil habitantes e sem água.
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