Janaína Riva e Mauro Mendes, briga e silêncio estratégico
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com

Priminho Riva disse que emprestou a conta corrente de sua mulher para o caixa 2 da sobrinha e candidata a deputada estadual em 2014, Janaína Riva, e que na condição de procurador da titular da conta, assinou os cheques para os pagamentos fora da contabilidade da campanha. Nos últimos dias não faltaram acusações e ataques em chumbo verbais trocados entre figurões do poder político. Num dos ataques, e com base numa postagem do site PNB, Janaína Riva acusou o governador Mauro Mendes (União) de destinar 308 milhões que seriam da operadora OI, para fundos de pessoas ligadas à sua família. O fogaréu não diminuiu, e enquanto isso Janaína Riva permanece calada sobre as acusações mais pesadas, e Mauro Mendes distribuiu uma nota superficial sobre o caso.
Conversei com Priminho Riva pelo celular, na quinta-feira (25), depois que assisti o vídeo gravado por ele para o página no Instagram de juarainforma (de Juara), que foi reproduzido pelos sites rufandobombonews, hipernoticias.com.br, vgnoticias.com.br (de Várzea Grande) e vários outros sites de Cuiabá e de outras cidades mato-grossenses, e pelas páginas no Facebook de vejabemmt e do jornalista Enock Cavalcanti. O caso é amplo, complexo e para entendê-lo é importante ler o roteiro sintetizado abaixo, e para facilitar o entendimento de minha conversa com Priminho Riva.
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Sites e blogs que não recebem recursos dos poderes e órgãos públicos aceitam colaboração financeira. Este blog, também, pelo PIX 13831054134 do editor Eduardo Gomes de Andrade
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Roteiro do tiroteio verbal:

Em 30 de abril numa sessão do Parlamento, Janaína Riva deu o primeiro passo para o tiroteio verbal. A deputada acusou o chefe da Casa Civil e deputado federal licenciado Fábio Garcia (União) de não pagar suas emendas parlamentares. Desabafou afirmando que a Assembleia não é puxadinho do governo, lamentou o silêncio de seus colegas sobre o tema e acusou Fábio Garcia de fazer campanha para deputado federal com recursos públicos enquanto os deputados (estaduais) ficam assistindo.
Em vídeo, Fábio Garcia deu resposta dura. Citou o histórico do ex-presidente da Assembleia, José Riva, pai de Janaína Riva, que é corrupto confesso em delação premiada, e fez insinuações sobre a ligação da deputada com o ex-funcionário de seu gabinete, Luluca Ribeiro, por ela indicado titular da Secretaria de Agricultura Familiar (Seaf) e exonerado juntamente com sua equipe, em julho de 2024, pelo governador Mauro Mendes (União), em meio a um escândalo que envolveria suposto superfaturamento em compras para a agricultura familiar. Analistas acreditam que o embate entre Janaína Riva e Fábio Garcia poderá lançar luzes sobre o Caso Seaf e a destinação de emendas parlamentares para a agricultura familiar. Fábio Garcia acusou a deputada de racista pelo termo suas negas, que ela citou ao criticá-lo. Fábio disse ainda que cria suas filhas com seu trabalho e ironizou que Janaína Riva foi criada em berço corrupto, e fulminou com a frase, “A família Riva não tem moral para apontar o dedo para ninguém.” A primeira-dama de Mato Grosso, Virgínia Mendes foi para as redes sociais em defesa de Fábio Garcia.
Luluca foi indicado por Janaína Riva, como parte do fatiamento do poder entre os partidos da base de sustentação de Mauro Mendes. Antes, o cargo era ocupado por Teté Bezerra (MDB), mulher do cacique e presidente do MDB de Mato Grosso, Carlos Bezerra.

Retrucando, Janaína Riva gravou vídeo chamando de cômico o vídeo de Fábio Garcia e pediu respeito institucional; ela descartou fazer considerações familiares e revirar o passado. Sobre Luluca, nenhuma palavra. No mesmo vídeo a deputada informou que usou a expressão suas negas, mas pediu desculpas e disse que de imediato pediu à Assembleia que excluísse esse trecho de sua fala.
José Riva, saiu em defesa da filha. Alegou questões familiares para a denúncia de Priminho Riva. O pai da deputada negou que sua cunhada, mulher de Priminho Riva, esteja inadimplente ou negativada pela suposta movimentação do caixa 2 em sua conta bancária, como afirmou Priminho Riva.
Também em socorro de Janaína Riva saiu o tio Paulo Rogério Riva, que usou a mesma argumentação familiar de seu irmão José Riva. Janaína Riva foi cautelosa, não gravou vídeo nem deu entrevista. A deputada limitou-se a uma nota de sua assessoria negando a existência de caixa 2 e observando que sua prestação de contas foi aprovada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Na sessão da Assembleia em 7 de maio, Janaína Riva disse que recebeu dossiês e denúncias “contra essa gente (Fábio Garcia e Mauro Mendes)”, que quase encheu a sala de sua casa. A deputada assegurou que no momento certo faria as denúncias cabíveis. O jurista Pedro Taques, que foi senador e governador, em suas redes sociais cobrou que Janaína Riva fizesse denúncias com base nos dossiês, sob pena de prevaricação. Na quarta-feira (14) a deputada voltou à carga contra Mauro Mendes e Fábio Garcia. Revelou que na sexta-feira anterior protocolou denúncias na Polícia Federal, Receita Federal, Procuradoria Geral da República, Ministério Público, Tribunal de Contas da União e no Tribunal de Contas do Estado, de que o Estado ao invés de pagar 308 milhões à telefônica OI, relativos a uma antiga cobrança indevida de tributos, transferiu essa montanha de dinheiro para dois fundos de investimentos geridos por figuras ligadas a familiares de Mauro Mendes. A Assembleia ficou calada, à exceção de Lúdio Cabral (PT), que cobrou explicações.
A fala de Janaína Riva sobre o caso OI, não faz parte dos dossiês que ela afirma ter em mãos. A deputada pegou carona na reportagem do site PNB postada pelo repórter Lázaro Thor, nos seguintes termos:
Lázaro Thor
Um acordo sigiloso obtido pela reportagem do PNB Online firmado pela Procuradoria-geral do Estado de Mato Grosso resultou na devolução de R$ 308 milhões que teriam sido cobrados indevidamente da Oi S.A. em uma execução fiscal. A empresa, que está em recuperação judicial, cedeu o crédito a um escritório de advocacia em Cuiabá, que negociou o crédito em nome da companhia.
O escritório firmou um acordo sigiloso com a PGE, no qual o estado se comprometeu a devolver R$ 308.123.595,50 que teriam sido cobrados indevidamente da Oi pelo Estado em uma execução fiscal. O pagamento é contestado, um ano depois de realizado, pelo juiz Yale Sabo Mendes, que questionou a legalidade das transferências em decisão judicial de março deste ano.
Por determinação do acordo com a PGE, o dinheiro foi parar nas contas de dois fundos de investimentos: o Royal Capital Fundo de Investimento em Direitos Creditórios, que recebeu R$ 154.061.797,73 em três parcelas, uma de R$ 40.716.332,25, uma parcela de 82.533.105,93 e outra de 30.812.359,55 ao longo de 2024. No mesmo ano, o fundo Lotte Word Fundo de Investimento em Direitos Creditórios recebeu R$ 154.061.797,73 seguindo a mesma dinâmica de pagamento.
Os dois fundos têm como gestor Fernando Luiz de Senna Figueiredo, que aparece como gestor ou com participação em outros fundos que investem em empresas ligadas à família do governador Mauro Mendes (União).
Os dois fundos, Lotte Word e Royal Capital, foram criados em 22 de fevereiro de 2024, dois meses antes do advogado ter firmado o acordo entre o escritório de advocacia representante da Oi com a PGE, em 10 de abril de 2024.
Janaína Riva não apresentou nenhum dos dossiês que disse ter em mãos. A denúncia sobre a OI estava na página do PNB quando de seu pronunciamento na Assembleia. Assim, a deputada ganhou espaço na mídia, ficou na ofensiva, mas calada sobre o Caso Seaf e a denúncia de caixa 2 feita por Priminho Riva.
Mauro Mendes, logo após a denúncia de Janaína Riva, e antes que a sessão na Assembleia terminasse, distribuiu nota superficial do governo, onde fala genericamente sobre os fundos e informa que processará os jornalistas do PNB. A nota foi lida em plenário pelo deputado Beto Dois a Um (União), vice-líder do governo, nenhum parlamentar questionou seu conteúdo e ganhou manchete até mesmo em sites que não haviam postado a denúncia do PNB repercutida por Janaína Riva.

No Facebook Pedro Taques também falou sobre a denúncia relativa aos 308 milhões destinados a fundos que seriam geridos por figuras ligadas a familiares de Mauro Mendes ou ainda a gente de sua ligação. O ex-governador foi contundente, exigiu explicações e demonstrou indignação diante do fato. Taques pediu ao governador que explicasse a razão para o acordo da devolução do montante ter sido feito em sigilo; também ironizou sobre coincidências ao afirmar que em Mato Grosso acontecem muitas coincidências, como por exemplo os 308 milhões indo para um fundo que administra valores do filho do governador.
O filho citado por Taques é Luiz Antônio Taveira Mendes, que segundo o ex-governador seria sócio de uma empresa que ganhou concessão de rodovias em Mato Grosso, como mais uma coincidência.
JURISTAS – Ouvi dois juristas sobre os silêncios seletivos de Mauro Mendes e Janaína Riva. O que ambos disseram era exatamente o que povoava minha mente.
O governante sabe que a mídia não abordará a denúncia com profundidade e aposta na volatilização do caso, pois no Brasil sempre que surge um escândalo ele é abafado pelo próximo escândalo.

A deputada mantém fortes vínculos com Luluca, que é marido de sua chefe de gabinete, Quézia Limoeiro. O Caso Seaf é mais um entre tantos, que permanecem na penumbra. Sobre a denúncia de Priminho Riva, o cenário é mais complexo. Ouvi dos juristas, que em outras palavras disseram: deputado não pode mentir em plenário, sob pena de responder por quebra de decoro parlamentar. Na Assembleia, Janaína Riva não tocou na acusação feita por Priminho Riva; se aceitasse a acusação de caixa 2, seria ré confessa; se a negasse, e no amanhã for constado que realmente houve caixa 2, sua situação ficaria embaraçosa.
RESUMO – Síntese do Roteiro do tiroteio verbal: as questão centrais são mantidas debaixo do pano. A generosidade jornalística contribui para que seja assim. A curta memória da população e a amnésia intencional facilitam ainda mais.
Enquanto isso, as denuncias de caixa 2 de Janaína Riva e o Doril dos 308 milhões da OI, e o abafamento do Caso Seaf saem de cena sem respingar na imagem dos grandes personagens jogados pelos próprios ou por gente ligada a eles, no epicentro da atípica página que quebra a harmonia política tão bem aproveitada nas esferas do poder político.
A classe política está no divã
A classe política está no divã. A frase é de um dos mais experientes jornalistas de Mato Grosso e com ela o colega mostra figuradamente o choque que os políticos levaram com o tiroteio verbal entre Janaína Riva e Mauro Mendes, que sempre estiveram juntos com ela apoiando seus projetos na Assembleia e participando do governo. A tensão entre eles é tamanha, que a deputada passou a criticar a primeira-dama Virgínia Mendes, por suas viagens em aviões do governo e a ostentação de seu traje; até então, Janaína Riva nunca havia criticado Virgínia, que é a segunda figura pública mato-grossense mais divulgada pela mídia – coincidentemente bem remunerada pela Secretaria de Comunicação (Secom).
Quando o caldo entornou entre os dois, todos tiraram o corpo fora. O União Brasil do governante não partiu em sua defesa, e o líder do governo na Assembleia, Dilmar Dal Bosco (União) está calado; o mesmo fez o MDB da deputada. Ambos estão sozinhos.

A ausência da mão estendida para Janaína Riva e Mauro Mendes é uma das facetas da classe política. Outra é seu silêncio, o que deixa claro que ninguém é a favor ou contra quem quer que seja no estranho mundo do poder político.
Além do distanciamento, Janaína Riva ainda enfrenta um desgaste. O deputado Dr. João (MDB), que é o 1º secretário da Assembleia deixou bem claro que a oposição ao governador é feita somente por Janaína Riva e não por seu partido, que permanece na base governista. A bancada estadual do MDB é formada por Janaína Riva, Dr. João, Thiago Silva e Juca do Guaraná, e todos estão calados. Calados também permanecem os deputados federais emedebistas Juarez Costa e Emanuel Pinheiro – ambos de malas prontas para outros partidos.
A representação política do União Brasil permanece calada sobre o caso. Ela é composta na Assembleia por Eduardo Botelho, Sebastião Rezende, Júlio Campos e Dilmar Dal Bosco. No Congresso o partido é representado pelo senador Jayme Campos e os deputados federais Coronel Assis e Gisela Simona.

O vice-governador Otaviano Pivetta (Republicanos) que é o nome escolhido por Mauro Mendes para a candidatura ao governo por seu grupo, também tirou o corpo fora sobre o tiroteio verbal. A denúncia, no campo político, também atinge Pivetta, que faz parte do governo. Na Assembleia, sua bancada com Valmir Moretto e Diego Guimarães, foge do assunto mais que diabo da cruz.
Pivetta saiu pela tangente ao dizer que não falaria sobre o caso, porque é muito difícil comentar sobre posições pessoais. O silêncio do vice-governador poderá criar animosidade com Mauro Mendes, no momento em que seu governo é duramente acusado de destinar 308 milhões que seriam da OI para fundos supostamente ligados a membros de sua família.
Conversa com Priminho Riva
Nossa conversa foi curta. Liguei para Priminho Riva. Disse a ele que não estava atrás de discurso, mas de nomes, números e datas. Assegurei que produziria um material isento. Sou grato a ele pelas palavras elogiosas a meu respeito, mas do outro lado da ligação estava alguém que preferia o silêncio.
Priminho Riva pediu tempo para falar. Revelou que na próxima semana virá a Cuiabá e que poderemos conversar. Tomei a liberdade de dizer que ele estava no meio de um fogaréu que poderia mexer com a disputa eleitoral de 2026. Ele tem consciência disso. Disse-lhe sobre a denúncia postada no juarainforma, mas que se ele aceitasse abrir o verbo, gostaria de ouvi-lo detalhadamente sobre o caso.
Cidadão maduro, ex-prefeito de Juara por duas vezes, moldado pela dureza do dia a dia, Priminho Riva pediu tempo, porque terá que avaliar como serão as reações contra ele (caso as mesma aconteçam) e precisará juntar provas materiais como extrato bancário. Porém, meu lado jornalista entrou em cena e o levei a revelar que realmente houve caixa 2 na campanha de Janaína Riva em 2014 pelo PSD. Priminho Riva confirmou que houve caixa 2, que o mesmo foi operado na conta corrente de sua mulher Eloisa Andreia Panstein Riva e que ele tinha procuração para movimentar a conta. A movimentação, segundo ele, era feita com a emissão de cheques (não havia PIX) assinados por ele na condição de procurador.
Respeitei o pedido de Priminho Riva e marcamos nossa conversa para a próxima semana, e por isso não o questionei sobre o montante movimentado nem sobre a instituição bancária que sua mulher tem a conta que teria sido utilizada para tanto.
Fotos:
1, 3 e 7 – Secom MT
2, 4 e 6 – ALMT
5 – Agência Senado
Capas dos sites: Reprodução via celular
Postado em 17 de maio de 2025
É cada trouxa de roupa suja…
Você honra nosso jornalismo e por isso sou sua fã número 1.
Maria Isaura – Professora – Rondonópolis
Matéria super interessante, parabéns meu amigo Eduardo, que Deus lhe conserve assim. Em relação a caixa 2, por tudo que já vi e vivi no setor público e político, acho muito difícil que exista no Brasil uma campanha de prefeito, deputados, senador ou presidente sem caixa 2, tem umas que têm até caixa 3. Vejo também que o judiciário sabe disso, os TREs sabem, mas não conseguem provas concretas, na maioria dos casos por falta de vontade e tempo para investigação. Acabam, na maioria das vezes, por escolherem figuras pré marcadas para serem investigadas. É o que vejo,
Valdecy Vieira – Professor, ex-vereador – Conselvan (de Aripuanã)
Filme sem mocinho e sem mocinha
Esclarecedor