Boa Midia

Irrigação: o futuro sustentável e estratégico da agricultura em Mato Grosso

Hugo Garcia*
NOVA MUTUM

A irrigação é mais do que uma simples técnica agrícola é uma tecnologia estratégica, essencial para garantir segurança econômica ao setor agropecuário e assegurar o abastecimento alimentar no Brasil. Em especial no estado de Mato Grosso, onde as condições climáticas estão em rápida transformação, fomentar o uso da irrigação se tornou uma necessidade urgente em nosso Estado.

Para que essa tecnologia avance, no entanto, é preciso superar entraves importantes. Um deles é a morosidade na liberação de outorgas de uso da água, fator que dificulta o desenvolvimento de novos projetos. Outro ponto crucial é o financiamento. Precisamos de mais recursos alocados especificamente para a irrigação. Como exemplo, no último Plano Safra, o governo federal destinou cerca de R$ 2 bilhões para irrigação em todo o país, o que representa uma cobertura de apenas 70 mil hectares. Para um país com o potencial do Brasil, especialmente em estados agrícolas como o Mato Grosso, esse investimento ainda é insuficiente.

A irrigação é a garantia da primeira safra, o suporte da segunda e a chave para a viabilidade de uma terceira safra — algo possível em Mato Grosso, o único estado do país capaz de produzir três safras por ano. Isso transforma a irrigação não apenas em uma tecnologia agrícola, mas em um pilar estratégico para o desenvolvimento sustentável da região.

Outro ponto que evidencia a importância da irrigação é o risco climático. As lavouras estão sujeitas a perdas tanto por excesso quanto por falta de chuva. Porém, enquanto o excesso de água pode ainda permitir o aproveitamento parcial da produção, a escassez hídrica pode resultar em prejuízo total. Quando falta água durante a fase de enchimento do grão, simplesmente não há colheita. A irrigação entra justamente para mitigar esse risco, oferecendo estabilidade e previsibilidade.

Estudos científicos já apontam um cenário preocupante para os próximos 20 a 30 anos: o período de chuvas em Mato Grosso, que há três décadas durava cerca de 245 dias ao ano, hoje já se reduziu para aproximadamente 204. A previsão é que caia ainda mais, chegando a 170 dias em um futuro próximo. Isso significa que, sem irrigação, a segunda safra estará inviabilizada. A adaptação à nova realidade climática exige ação imediata.

Nesse contexto, a recente aprovação da Lei 12.717/2024, que institui o Programa Estadual de Irrigação (Proei), representa um marco para a agricultura irrigada em Mato Grosso. O programa tem como metas ampliar a produção de alimentos por meio da irrigação, aumentar a produtividade, gerar empregos no campo e otimizar o uso de insumos agrícolas, sempre com responsabilidade ambiental. Hoje, o estado conta com 220 mil hectares irrigados e a meta é atingir 4 milhões até 2030.

Mais do que expandir a área irrigada, o objetivo é fazer isso de forma sustentável. Estudos técnicos garantem que a água usada na irrigação é cuidadosamente calculada para não prejudicar o meio ambiente, e boa parte desse recurso retorna ao solo, contribuindo para a recarga dos aquíferos, dizendo que a irrigação ameaça esse recurso é um mito.

*Hugo Garcia, presidente da Associação dos Produtores de Feijão, Pulses, Colheitas Especiais e Irrigantes de Mato Grosso (Aprofir)

 

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