Imprensa não tem detalhes sobre Operação Chapéu de Palha

A Operação Chapéu de Palha, da Polícia Federal, foi desencadeada hoje, 9 de dezembro, em Cuiabá, Sinop, Rondonópolis, Alta Floresta, Alto Taquari, Itiquira, Juscimeira, São Pedro da Cipa, Dom Aquino e Várzea Grande, além de Votuporanga, em São Paulo. Os policiais estariam cumprindo 39 mandados de busca e apreensão tendo como principais alvos os deputados Nininho (PSD) e Dilmar Dal’Bosco (DEM), o suplente de deputado estadual Romoaldo Júnior (MDB), o ex-deputado estadual Mauro Savi (DEM), e o prefeito de Itiquira, Humberto Bortolini (PSD), que é irmão de Nininho. A ação policial vasculhou os gabinentes de Nininho e Romoaldo na Assembleia, e a prefeitura de Itiquira.
Sob segredo de justiça Chapéu de Palha não permite que se faça cobertura jornalística isenta, pois tudo que se escreve é no condicional. De concreto, as negativas de Nininho e Dilmar de que poderiam ter algum vínculo com o conteúdo das investigações que ambos juram desconhecer. De estranho, dois fatores: o presidente da Assembleia, Eduardo Botelho (DEM) negar que a operação tenha algo a ver com o Poder que preside, pois o fato de deputado ser investigado significa que o Legislativo é investigado, pois o parlamentar é seu membro; segundo, a existência de gabinete de suplente de deputado, pois a suplência, como o próprio nome diz, é condição de substituto.
Por se tratar de ação sob segredo de justiça não se sabe a essência de Chapéu de Palha. Cobertura jornalística em situação assim não tem resolutividade e pode resultar em informação incorreta. Vejamos:

A operação foi desencadeada pela Polícia Federal de Rondonópolis e um de seus coordenadores é o delegado Evandro Iwasaki da Silva. Seu nome faz alusão ao chapéu que tradicionalmente Nininho usa. Longe da tentativa de editorialmente defender os que tiveram seus nomes citados, mas é estranho que uma operação sob segredo de justiça deixe vazar que a Polícia Federal houvesse pedido a prisão dos irmãos Nininho e Humberto Bortolini, o que teria sido negado pelo desembargador federal Olinto Menezes do Tribunal Regional Federal da Primeira Região. O magistrado além de expedir os mandados teria determinado que todo montante acima de R$ 10 mil que fosse encontrado teria que ser apreendido.
Além dos parlamentares e Humberto Bortolini também estariam sendo investigados o ex-prefeito de Juscimeira, Chiquinho do Posto, que presidiu a Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), e o prefeito eleito de São Pedro da Cipa, Eduardo Português (PSB), além de vereadores, servidores das prefeituras onde a operação foi desencadeada e empresários da construção civil. Observem: deputado não exerce cargo executivo e, portanto, não é ordenador de despesas do governo estadual. Seria estranho – até mesmo em Mato Grosso – o governo contratar uma obra e parlamentar receber propina pela mesma.

Chapéu de Palha não faz citação a emendas parlamentares, mas algo sugere que se trate disso. Nininho, Romoaldo, Dilmar e Mauro Savi foram deputados quando Chiquinho do Posto exercia o cargo de prefeito e Eduardo Português, de vice, cada um em seu município. Porém, não há alusão sobre a possibilidade de que se trate de propinas sobre tais emendas.
No conta-gotas são revelados dentes da engrenagem de Chapéu de Palha: a operação investiga fraudes à licitação e pagamento de propinas a agentes públicos (deputados, prefeitos, vereadores e servidores municipais). Também em sua mira as empreiteiras Construtora Pirâmidade e UP Projetos e Construções.
A operação pode até render boas manchetes sensacionalistas, pois as últimas legislaturas da Assembleia cultuaram o lamentável costume de se envolverem em escândalos, mas em nome do jornalismo sério não se trata de bom material por falta de consistência, detalhes e nomes aos bois.
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