Boa Midia

Horas de xingamentos

O autor
Lá se foram Edipson Morbeck e Roberto França (comentaristas), Márcio de Arruda (narrador), Eduardo Saraiva (repórter de campo) e Alinor Silva (técnico de som) para Campo Grande transmitir para a Rádio A Voz do Oeste o clássico no Morenão entre Operário e Comercial pelo Campeonato Mato-grossense de Futebol, na década de 70. 
O jogo terminou por volta das 23h30. Todo o mundo foi embora, menos a turma da RVO, porque Roberto França, que fez o comentário final da partida, desembestou a falar e não parava mais.
Irritado com a demora da emissora cuiabana de encerrar a transmissão, o administrador do estádio, major PM Maraviesky, mandou avisar que ia fechar o portão do setor onde ficavam as cabines de rádio. Mas Roberto França não deu bola para a advertência e continuou o seu trabalho…
Não demorou muito e o Morenão ficou às escuras, com exceção do setor das cabines de rádio. Aí Roberto França ficou mordido e estendeu seu comentário por mais uma hora. Além de analisar o jogo, França passou a socar o bumbo no major Maraviesky, esculhambando o administrador pela sua ousadia de apagar as luzes do Morenão com a imprensa lá dentro.
Transmissão encerrada, o pessoal desce da cabine e caminha, meio na escuridão, para a saída do estádio. E não é que o major tinha cumprido a ameaça e trancado mesmo o altíssimo portão do estádio!…
Sem alternativa de comunicação com ninguém, o pessoal começou a estudar um jeito de pular o portão, utilizando uma fresta em sua estrutura para chegar ao seu cume e transpor o obstáculo. Furioso, Roberto França só não xingava o major Maraviesky de santo…
Corpo esguio, o primeiro a saltar o portão foi Eduardo Saraiva, porém com um sacrifício de dar pena. Depois foi a vez de Márcio de Arruda, de Morbeck, de Alinor Silva. Quando chegou a vez do grandalhão e pesado Roberto França, o bicho pegou pra valer.
Garante Morbeck que Roberto França demorou seguramente uma hora para pular o portão. E ainda com a ajuda dos companheiros que já estavam do lado de fora e que tiveram que fazer muita força e se expor a riscos de despencar lá de cima para fazer França chegar ao topo do portão e descer do lado de fora.
A irritação de França aumentou quando ele constatou que estava com vários ferimentos pelo corpo em virtude do esforço que tinha feito para superar o obstáculo, aliado ao cansaço de ter falado mais de uma hora no encerramento da transmissão da partida. E toma mais xingamentos…
Fim do sufoco para saída do estádio, começa outro: uma caminhada de mais de dois quilômetros do Morenão até o Hotel Campo Grande, onde a equipe da RVO estava hospedada. O problema não era só a caminhada: o grupo teve que ir arrastando um grande saco, sem rodinhas, com os enormes e pesados equipamentos que eram utilizados naqueles tempos nas transmissões externas.
E, mais uma vez, os ouvidos do pessoal da RVO sofreram com os palavrões impublicáveis de Roberto França contra, principalmente, o major Maraviesky, que àquela altura da madrugada já devia estar ferrado no sono…
PS – Reproduzido do livro Casos de todos os todos os tempos   Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson  Severino

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