Boa Midia

Guapo, um mestre da cultura popular

Cantor, compositor, pesquisador, escritor, produtor, diretor musical e consultor técnico cultural. Esse é o incansável Guapo. Um artista mato-grossense completo, que luta para que a história da música e da cultura de Mato Grosso jamais seja esquecida.

Filho de Haroldo Widal de Pinho e Maria Pereira de Lima, Milton Pereira de Pinho nasceu em 1951, em Cáceres, fronteira com a Bolívia. Filho de pai violeiro, sobrinho de cantor, neto de avó pianista e avô cururueiro, Guapo teve uma forte influência musical e uma educação bem colocada pelo pai que considerava importante educar os ouvidos com todo tipo de música, para distinguir a qualidade.

Guapo cresceu sendo privilegiado pela riqueza sonora do Pantanal. Os sons dos pássaros e de outros animais também foram fatores influenciadores que despertaram sua paixão pela música. Não poderia deixar de citar também a sua vivência no meio popular, nos bailes, festas de santos e outros festejos.

De sua mãe, Guapo herdou o gosto pelas lendas e mitos ribeirinhos. E a mistura das influências paternas despertou-lhe o interesse e sensibilidade pelo conhecimento empírico popular, o que formou um jeito autodidata de músico e pesquisador.

Aos dezoito anos, começou a tocar violão e nunca mais largou.

O mato-grossense já viveu em Goiânia e no Rio de Janeiro onde pesquisou o samba no Morro do Estácio. Em 1976, mudou-se para São Paulo e tornou-se funcionário da extinta FEPASA – Ferrovia Paulista S/A, conheceu a música sertaneja de raízes, e nas férias de trabalho pesquisou a música latino-americana, buscando as origens dos rasqueados mato-grossenses viajando por países como Paraguai, Argentina e Bolívia.

Em 1985, já em Cuiabá, uniu seus conhecimentos com os músicos Vera Bagetti, Zuleica Arruda e Marques Caraí, nascendo daí a ideologia musical, Vanguarda Nativista.

Guapo representou Mato Grosso em várias partes do país e do mundo. Em 1996 gravou seu primeiro CD – Pantanal Branco e Preto e, em 2000 gravou o segundo chamado Resto de Guarânia. Logo depois gravou também os CDs Rua do Rasqueado e Berrante Pantaneiro, este com participação da Orquestra Sinfônica de Mato Grosso, regida pelo maestro Leandro Carvalho.

Suas composições são dignas de trilhas sonoras de cinema, como Animando o Pantanal, pelo Núcleo de Cinema de Campinas(SP), premiado em 1998 na China, no Festival Anima Mundi, em 1990. O compositor também fez trilha para os filmes Rondon: O Último dos Bandeirantes, Baile Pantaneiro, Divisão de Mato Grosso e O Poeta Silva Freire.

Suas pesquisas resultaram nos livros ‘Remedeia Co Que Tem’, um mapeamento histórico musical da música mato-grossense; ‘Um Pé de Verso…Outro de Cantiga’, que se trata de um pequeno resumo dos ditos populares em forma de crônica, com algumas memórias e contos pantaneiros e cuiabanos; e ‘No Limiar’, uma novela pós-moderna que conta a realidade vivida entre indígenas que estão prestes a ter a vida transformada pelas novas tendências do futuro. Este último deve ser lançado no próximo mês. Enquanto isso, Guapo já trabalha no seu próximo livro que promete mais uma contação de muitas histórias.

Em 1993, Guapo idealizou e colocou em prática o projeto Rua do Rasqueado, que durante mais de 20 anos promoveu uma efervescência no Centro Histórico da capital, dando força para que músicos da baixada cuiabana pudessem desenvolver novos ritmos, como o lambadão e a lambadinha. A Rua do Rasqueado durante a sua existência revelou grandes atrações musicais, valorizou a cultura popular e levou para o centro da cidade uma manifestação que antes era restrita às periferias.

Em 2005 Foi o primeiro músico mato-grossense a representar o Estado no evento “Mato Grosso States Cultural” realizado em Washington com o show-recital: Searching For The Lost River, fechando a quinzena cultural de Mato grosso nos Estados Unidos.

Em 2017, foi o único artista e escritor a ser convidado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) de Niterói (RJ), para participar do grande evento Território da Arte – Interculturalidade e também foi reconhecido Mestre da Cultura Popular pelo Ministério da Cultura.

Em 2018, o músico cacerense recebeu o título de Mestre do cobiçado prêmio nacional ‘Prêmio Culturas Populares’.

Atualmente, Guapo tem se dedicado à volta da Rua do Rasqueado, que retorna ao centro da cidade em homenagem aos 300 anos de Cuiabá. O slogan do evento deste ano é “Quando a vida está triste, cante e dance seus velhos cantos”, para que a população esqueça um pouco dos momentos tristes vividos e caia nessa festa animada e familiar.

Com muito trabalho e dedicação sua luta pelo resgate da música popular e pela conservação da história mato-grossense é incessante.

FOTO: Arquivo blogdoeduardogomes

Comentários estão fechados.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está bem com isso, mas você pode optar por sair, se desejar. Aceitar Leia Mais

Política de privacidade e cookies