Grampos: mais um secretário cai; cerco se fecha sobre Pedro Taques
Mais um dente da engrenagem dos grampos telefônicos se fecha sobre o governador Pedro Taques (PSDB). Nesta quarta-feira, o secretário de Segurança Pública, Rogers Jarbas, foi afastado do cargo e da função de delegado de polícia. Além do duplo afastamento, Jarbas passa a usar tornozeleira eletrônica, não pode ir à secretaria que até então ocupava nem manter contato com os demais investigados sobre grampos. A decisão é do desembargador do Tribunal de Justiça, Orlando Perri. Com Jarbas a justiça chega àquele que pode ser o penúltimo andar do esquema das escutas clandestinas que teriam violentado o sigilo de 70 mil telefones em Mato Grosso; no topo dessa escada estaria o governador Pedro Taques, segundo avaliam policiais, juristas e figuras do povo.
As medidas contra Jarbas foram tomadas em atendimento à delegada Ana Cristina Feldner, que investiga o caso. O secretário afastado se junta a outras figuras da cúpula da segurança que está sob investigação. Os secretários coronel PM Airton Siqueira (Justiça e Direitos Humanos) e coronel PM Evandro Lesco (Casa Militar) respondem a inquérito; o ex-comandante-geral da PM, coronel Zaqueu Barbosa, cumpre prisão preventiva. Na esfera civil do governo, o chefe da Casa Civil, José Adolpho, responde a inquérito por sua suposta participação no esquema dos grampos e também por suposta fraude no protocolo do ofício do ex-secretário de Segurança, promotor Mauro Zaque, datado de 2015, denunciando a Pedro Taques a existência do esquema de escuta criminosa na esfera governamental. Além de Adolpho, e também sem farda, o ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques foi denunciado por grampos. Em agosto, Paulo Taques foi preso, mas já está em liberdade; Paulo é primo de Pedro Taques e deixou o governo no auge da ebulição desse escândalo
Perri disse a jornalistas que “as interceptações ilegais (grampos) passam de 70 mil”. O desembargador considerou esse fato “estarrecedor”.
O ciclo dos grampos começou no final do governo de Silval Barbosa em 2015, quando ele não tinha mais controle sobre a administração, e correu solto até ser contido recentemente. O esquema funcionava a partir da Casa Militar e era feito por policiais militares. O volume grampeado exigiu mais espaço físico e foi montado um escritório no centro de Cuiabá para acompanhar as conversas das vítimas.
O esquema foi estrategicamente montado. Para se conseguir autorização judicial policiais militares faziam ofício a um juiz em Cuiabá ou Cáceres pedindo a quebra do sigilo telefônico de alguém que seria da corporação e de civis que estariam associados a ele para prática crimes; isso é chamado nos meios policiais de barriga de aluguel. A fundamentação era a de que se tratava de apuração no âmbito interno da PM, uma vez que a prerrogativa de investigar é da Polícia Judiciária Civil.
Juízes concederam autorizações em massa. Nunca a PM enviou relatórios aos magistrados apresentando o resultado das escutas telefônicas. Zaque descobriu tal fato em 2015 e tratou de leva-lo ao conhecimento de Pedro Taques. O governador nega que tivesse ciência e debita o fato a um erro de um protocolo de Zaque para ele, pois o referido documento ao invés de constar a denúncia apresentava pedido para obra rodoviária por parte de vereadores por Juara. A acusação sobre a fraude no protocolo recaiu sobre Adolpho.
Os alvos dos grampos foram os mais variados possíveis, mas coincidentemente ou não se tratava de pessoas que em tese poderiam prejudicar politicamente o governador, que desde sua posse dá sinais de que tentará a reeleição. Políticos, advogados de políticos, jornalistas, sindicalistas e até um assessor do vice-governador Carlos Fávaro (PSD) foram grampeados.
O volume dos grampos. Os alvos grampeados. A execução do grampo por parte da cúpula da Segurança Pública ou por policiais militares a ela subordinados facilitaram para que a sabedoria popular não tivesse dúvidas de quem se beneficiaria – no pior sentido dessa palavra – com aqueles crimes recorrentes. Muitos apontam para Pedro Taques, mas a imprensa sempre desqualifica esse sentimento popular.
A queda de Rogers Jarbas afasta todas as sombras no curso das investigações. Resta agora investigar as suspeitas que pesam contra Pedro Taques. Somente a justiça poderá fazê-lo, pois a Assembleia Legislativa exorcizou de pronto, no primeiro momento, a possibilidade de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para ir fundo na questão.
Da REDAÇÃO
Foto: JÚNIOR SILGUEIRO – GOVERNO DE MATO GROSSO
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