Governo e políticos abandonam os 14 pequenos municípios
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
Mato Grosso tem 14 municípios com população inferior a três mil habitantes, cada. Juntos somam 35.423 residentes e sua área territorial é de 29.291,914 km². Nenhum é sede de comarca, todos enfrentam problemas em comum e o Estado os trata como se fossem párias dependentes de repasses para sobreviverem. Os resultados das urnas mudam a administração em algumas das cidades, mas o cenário de dependência dos governos federal e estadual continuará por falta de política pública contra as desigualdades sociais. O Estado é obtuso, não consegue ver o potencial da área menosprezada e não investe na mesma.
Renúncia fiscal estadual de 100% sobre toda a carga tributária durante determinado período e ações concretas impulsionariam a qualidade de vida dos moradores dos 14 municípios, que correspondem à população de Peixoto de Azevedo (Nortão) de 33.599 habitantes numa área não contínua de 29.291,914 km² equivalente ao território de Alagoas de 27.830,661 km².
Lamentável a indiferença da classe política com os pequenos municípios. Se os mesmos fossem fortalecidos receberiam levas de moradores em busca de tranquilidade e qualidade de vida, o que fortaleceria a economia local, geraria empregos na construção civil, no comércio e na prestação de serviço.
Mais lamentável ainda é quando se sabe que o vice-governador Otaviano Pivetta (Republicanos) é oriundo da pequena Caiçara, no Rio Grande do Sul; que o ministro da Agricultura e senador licenciado Carlos Fávaro (PSD); os deputados estaduais Fábio Tardin (PSB), Gilberto Cattani (PL), Eduardo Botelho (União), Valmir Moretto e Diego Guimarães (ambos do Republicanos), Valdir Barranco (PT) e outros parlamentares nasceram em pequenas localidades, e que não se interessam pelos 14 municípios mato-grossenses que não acompanharam o ritmo de crescimento de Rondonópolis, Sinop, Tangará da Serra, Lucas do Rio Verde e outros grandes municípios.
A área abriga fabulosos roteiros turísticos que são mantidos escondidos pela incapacidade de o Estado divulgá-los.
Novo Santo Antônio é onde o rio das Mortes deságua no Araguaia formando a Ilha do Bananal; se aquela maravilha fosse mostrada a mesma se transformaria num dos roteiros mais visitados do Brasil interior.
Araguainha está no centro do local onde há 250 milhões de anos um asteroide – o Domo de Araguainha – caiu e abriu uma cratera com diâmetro de 40 km – a maior da América do Sul causada por um corpo celeste.
Ainda sobre Araguainha, aquela cidade dista 65 km do terminal ferroviário da Rumo Logística em Alto Araguaia, por rodovia pavimentada e sofre canibalização da vizinha ao lado dos trilhos. Sua população oscila entre mais de 900 e 1.100 habitantes ano após ano. O ex-prefeito Osmari Azevedo tenta puxar brasa para sua sardinha. Segundo ele, a pequena população recenseada se deve ao fato de que muitos jovens trabalham em Alto Araguaia, e quando os recenseadores visitam suas casas os mesmos estão ausentes.
Um dos mais belos cânions do Brasil é o do rio Araguaia, ao lado de Ponte Branca, e o mesmo é considerado apropriado para provas de canoagem.
Santa Cruz do Xingu integra o rol dos produtores de soja e milho; o agronegócio está em expansão no município.
Vale de São Domingos, São José do Povo, Glória D’Oeste, Serra Nova Dourada, Santo Afonso, Luciara, Tesouro, Novo Santo Antônio, Indiavaí e Araguainha têm expressivos rebanhos bovinos.
Tesouro além da pecuária é importante polo agrícola e tem reserva diamantífera.
Luciara é uma região paradisíaca, diante da Ilha do Bananal, onde o Araguaia abusa do direito de ser bonito.
Ribeirãozinho tem extensa área com soja e lavouras de rotação de cultura.
Reserva do Cabaçal tem roteiros turísticos nas cachoeiras do rio Cabaçal, o município tem a economia calcada na pecuária e na avicutura.
Os 14 municípios precisam de ganhar novos moradores e oferecer atrativos para a instalação de indústria, mas esbarram na concorrência das grandes cidades, sem que o governo estadual os ampare. É o caso de São José do Povo, distante 45 km de Rondonópolis, e que poderia receber indústrias em sintonia com o parque industrial rondonopolitano, mas ao contrário, é mantido fora do processo desenvolvimentista.
A logística de transporte afeta parte dos municípios. Luciara não tem acesso pavimentado. Serra Nova Dourada e Novo Santo Antônio aguardam a pavimentação do contorno rodoviário para deslocar a BR-158 da Terra Indígena Marãiwatsédé; a pavimentação de 120 km fora da área indígena atenderá aos dois municípios e ligará o Norte Araguaia ao restante do Estado por asfalto.
Santa Cruz do Xingu é interligada por asfalto a Confresa e ao sistema rodoviário no Pará, mas a falta do contorno de Marãiwatsédé o deixa isolado da malha rodoviária mato-grossense.
Tesouro precisa de se conectar por asfalto com a BR-070 no município de General Carneiro, o que criará um corredor Norte-Sul ligando General Carneiro, Novo São Joaquim, Campinápolis e outros municípios ao terminal ferroviário da Rumo Logística em Rondonópolis.
As demandas são pequenas, e quase todas atendem também a outros municípios, sobretudo no setor rodoviário.
A saúde pública é precária em todos eles. Em caso de doença ou acidente, o primeiro atendimento é feito pelo Dr. Ambulância, quase sempre comprada com recursos de emendas parlamentares. Se o governo estadual construísse em Ponte Branca um hospital de porte médio, para baixa e média complexidade, seria resolvido o problema da falta de médicos e leitos num raio considerável, pois aquela cidade situa-se entre Araguainha e Ribeirãozinho, e tem na vizinhança Torixoréu e localidades goianas na margem direita do Araguaia. No entanto é utopia pensar num hospital assim, e quando faz-se necessário o cidadão é enfiado numa ambulância e despachado para o Hospital Regional em Rondonópolis. Uma obra nesse sentido também poderia ser executada em Serra Nova Dourada, entre Novo Santo Antônio, Bom Jesus do Araguaia e Alto Boa Vista – município de uma faixa populacional maior.
A Universidade do Estado (Unemat) mantém o Campus do Médio Araguaia em Luciara, com turmas únicas em modalidade diferenciada. Trata-se de uma presença pouco mais que abstrata. Mato Grosso teria que fortalecer aquele campus e inclusive oferecer cursos compatíveis com a realidade regional, porém, nada é feito neste sentido.
Não há nenhum programa do governo para atender à realidade dos pequenos municípios, e nem estudos nesse sentido. A indiferença quanto a eles é total. Na área, a renovação política foi pequena: 11 prefeitos foram reeleitos, e nenhum deles no mandato que chega ao fim protestou contra o abandono do Estado.
Não há perspectivas para os pequenos municípios, que inclusive chegaram a ser ameaçados de extinção pelo então presidente Jair
Bolsonaro, que pensou em reverter a emancipação de centenas de municípios brasileiros, dos quais 34 em Mato Grosso.
O poder nos municípios
1 – Tesouro – 2.977 habitantes – 4.244,073 km²
Prefeito reeleito João Isaack Moreira Castelo Branco (PSB).
Vice-prefeito reeleito Wglhedson Luiz Pereira da Silva (União).
O município, no polo de Rondonópolis, tem nove vereadores, sendo oito homens.
2 – Vale de São Domingos – 2.907 habitantes – 1.901,545 km²
Prefeito eleito Leandro Azevedo da Cunha (PSDB).
Vice-prefeita eleita Andressa Alves Mariano (PSDB).
O município, na faixa de fronteira, tem nove vereadores, todos homens.
3 – Glória D’Oeste – 2.899 habitantes – 833,130 km
Prefeita reeleita Gheysa Maria Bonfim Borgato PSD).
Vice-prefeito reeleito Edson Martins dos Santos Filho (PSD).
O município, na faixa de fronteira, tem nove vereadores: sete homens e duas mulheres,
4 – Santa Cruz do Xingu – 2.834 – habitantes – 5.623,390 km²
Prefeita reeleita Joraildes Soares de Sousa, a Jo (União).
Vice-prefeito reeleito Jair Silvério Pinto Ribeiro (Republicanos).
O município, no Vale do Araguaia, tem nove vereadores, todos homens.
5 – São José do Povo – 2.780 habitantes – 489,737 km²
Prefeito reeleito Ivanildo Vilela da Silva, o Júnior da Saúde (União).
Vice-prefeito Valter Correa Cadidé, o Racum (União).
O município, no polo de Rondonópolis, tem nove vereadores: seis homens e três mulheres.
6 – Ribeirãozinho – 2.697 habitantes – 624,997 km²
Prefeito eleito Danilo Coelho Domingos (PSB)
Vice-prefeita eleita Vania Francisco Carrijo de Souza (Republicanos).
O município, no Vale do Araguaia, tem nove vereadores e quatro mulheres foram eleitas ao cargo: Amanda Bento Rosa, Jaine Ferreira de Souza e Kevia Soares de Souza (todas do PRD) e Neidiani Souza Ribeiro de Freitas, a Neidi Ribeiro (MDB).
7 – Luciara – 2.591 habitantes – 4.282,733 km²
Prefeito reeleito Parassu de Souza Freitas (MDB).
Vice-prefeito eleito Nazírio Oliveira Santos (PSB).
O município, no Vale do Araguaia, tem nove vereadores e elegeu duas mulheres. Da etnia Kanela foram eleitos: o cacique Rafael Tewa (MDB), Raí Kanela (União) e Cláudia Kanela (PP).
8 – Santo Afonso – 2.460 habitantes – 1.166,382 km²
Prefeito reeleito Luis Fernando Ferreira Falcão (União).
Vice-prefeito reeleito Adelvane Coelho da Rocha (Republicanos).
O município, no Chapadão do Parecis, tem nove vereadores. Duas mulheres foram eleitas para a Câmara: Elizângela da Silva Marinho (União) e Irani Maria Domingas Queiroz Fernandes, a Irena (União).
9 – Indiavaí – 2.194 habitantes – 592,495 km²
Prefeito reeleito Sidnei Marques Lopes, o Sidnei da Cerâmica (PRD).
Vice-prefeito reeleito Ivailton Gouveia Borges, o Caraquinha (PRD).
O município, na faixa de fronteira, tem nove vereadores e Fernanda do Nenen (União) foi a única mulher eleita para a Câmara.
10 – Ponte Branca – 2.076 habitantes – 701,138 km²
O eleitorado reelegeu com 1.538 votos (100%) a chapa única com Clenei Parreira da Silva (União), prefeito, e Clayton Parreira da Silva (PSB), vice-prefeito.
Não é uma dupla sertaneja famosa, mas faz sucesso em Ponte Branca. A chapa dos irmãos Parreira para a prefeitura repetiu 2020 disputando a eleição sem concorrente. Clenei para prefeito e seu mano Clayton para vice.
Clenei Parreira da Silva (União) encabeçou a chapa pela coligação Juntos Somos Mais, com o PSB do mano Clayton Parreira da Silva e apoiada pelo PP. Em 2020, também sem adversário, essa dobradinha foi eleita com os 1.353 votos válidos do pleito em Ponte Branca.
Em 2020 Clenei era filiado ao Podemos e Clayton ao PP. Os Parreira não brincam em serviço quando se trata de luta pelo poder. Tanto assim, que Clenei correu para o União Brasil do governador Mauro Mendes, e seu mano para o PSB de Max Russi.
O município, no Vale do Araguaia, tem nove vereadores; a agente de saúde nascida naquela cidade, Élica Santana, foi a única mulher eleita para a próxima legislatura, que terá seis reeleitos.
11 – Reserva do Cabaçal – 2.062 habitantes – 1.331,677 km²
Prefeito reeleito Jonas Campos Vieira (PP).
Vice-prefeito eleito Adenilson Eliotério da Silva (União).
O município, na faixa de fronteira, tem nove vereadores e duas mulheres foram eleitas para a Câmara: Alessandra Cristino de Souza, a Professora Alessandra (União) e a bióloga Denair Andrade, a Dena da Agricultura (PP).
12 – Novo Santo Antônio – 2.040 – 4.394,780 km²
Prefeito eleito Cleomenes Júnior Dias Costa (PSB).
Vice-prefeito reeleito Jairton Alves de Souza (Podemos).
O município, no Vale do Araguaia, tem nove vereadores, sendo duas mulheres: Beatrice Horne Guimarães (PL) e a Professora Maria Madalena Oliveira da Silva (União).
13 – Serra Nova Dourada – 1.901 habitantes – 1.490,793 km²
Prefeito reeleito Elson Farias de Souza, o Elson Mará (MDB).
Vice-prefeito reeleito João Pereira Luz, o João Bolacha (PL).
O município, no Vale do Araguaia, tem nove vereadores e três mulheres foram eleitas para a Câmara: Elizângela da Silva Marinho (União), Uslene Carvalho Oliveira (PL) e Romina Guimarães Cândido, a Romina Enfermeira (Podemos).
14 – Araguainha – 1006 habitantes – 675,231 km²
Prefeito reeleito Francisco Gonçalves Naves, o Chiquinho (União).
Vice-prefeito eleito Gilliard Mendes da Silva (PSB).
O município, no Vale do Araguaia, tem nove vereadores e uma mulher se elegeu para a Câmara: Dheneffer Naves Dias (MDB), psicóloga nascida na vizinha Ponte Branca.
Boas colocações
Bela narrativa de quem conhece o Mato Grosso e defende esta terra. Continuo sua fá