Boa Midia

Governistas juntos, mas nem tanto assim

ELEIÇÕES 2026 – A um ano para o pleito estadual, o momento é de aparente composição, mas o amanhã poderá ser bem diferente

Eduardo Gomes

andrade@eduardogomes

eduardogomes.ega@gmail.com

Quase todos os políticos eleitos em 2022 estão em campo alinhavando suas candidaturas para 2026, no pleito que acontecerá no domingo, 4 de outubro, portanto daqui a exatamente um ano. Dos vitoriosos, somente três não concorrerão no próximo ano: a deputada federal Amália Barros, que morreu aos 39 anos, em 12 de maio de 2024, após a retirada de um nódulo benigno no pâncreas; e os prefeitos de Cuiabá e Rondonópolis, Abílio Brunini e Cláudio Ferreira (ambos do PL), respectivamente, que foram eleitos deputados estaduais, renunciaram e venceram a eleição para prefeito em 2024. Os demais, sem exceção, querem continuar no poder, numa disputa acirrada ao governo, para a sucessão de Mauro Mendes (UPB), que terá efeitos eleitorais em cascata sobre os demais cargos.

A sucessão de Mauro Mendes (ainda) é mantida num clima de cordialidade pelos três postulantes do mesmo grupo: o vice-governador Otaviano Pivetta (Republicanos) e os senadores Jayme Campos (UPB) e Wellington Fagundes (PL). A cortesia entre os três, no entanto, não abre espaço para composição, que pela lógica – substantivo desqualificado nos meios políticos – deveria prevalecer em nome de melhor desempenho eleitoral da corrente governista estadual.

Paiaguás pode cair no colo de Natasha

Qualquer dos três que receber a chancela oficial do grupo disputará o pleito arranhado, e o desfecho poderá facilitar a virtual candidatura da médica e empresária Natasha Slhessarenko (PSD), que é apontada como o nome de centro-esquerda.

A acomodação dos três nomes é complicada. Pivetta é vice-governador pelo segundo mandato consecutivo, e por várias vezes substituiu o titular. Pré-candidato declarado, Pivetta tem o aval de Mauro Mendes, que prudentemente explica que não se trata de apoio partidário, mas particular, porque em sua federação Jayme Campos bate na tecla de que o candidato tem que ser ele. Independentemente do palanque em que Mauro Mendes estiver, haverá racha para o governo.

Em alguns desabafos com jornalistas Jayme Campos costuma dizer que tanto pode concorrer ao governo, quanto à reeleição ou “ir para casa”. Porém, o núcleo que cerca o senador insiste em sua candidatura ao Paiaguás, e à frente desse grupo está o vice-presidente da Assembleia, Júlio Campos, irmão de Jayme Campos, que a exemplo dele, também foi governador.

Mauro Mendes lidera a federação UPB e tem ascendência sobre prefeitos e vereadores. Acredita-se que se não houver composição  entre Pivetta e Jayme Campos, Mauro Mendes ficará com seu vice e será acompanhado por muitos de seus correligionários nos municípios, onde dentre outros, antes da formação da federação, ele filiou ao União Brasil os prefeitos Alei Fernandes (Sorriso), Vander Masson (Tangará da Serra), Adilson Gonçalves (Barra do Garças) e Chico Gamba (Alta Floresta). Mesmo com a força de Mauro Mendes nos municípios, Jayme Campos tem ao seu lado parte dos ex-filiados ao União Brasil, por conta de sua liderança natural e por sua atuação municipalista liberando emendas para prefeituras.

Bolsonaristas chamam Wellington de melancia

A disputa ao governo pelo grupo situacionista não é complicada somente pelo óleo e água de Pivetta e Jayme Campos. Congressista há 43 anos, Wellington Fagundes tem densidade eleitoral nos 142 municípios e tenta emplacar sua candidatura ao Paiaguás. Wellington não recebe apoio de Mauro Mendes nem de Jayme Campos e muito menos de Pivetta. A sua seria uma candidatura solo pela ótica da cúpula. Wellington sabe dessa realidade e tenta agarrar-se a Jair Bolsonaro, mas sofre boicote do bolsonarismo, que o considera “melancia”, ou seja, verde por fora e vermelho por dentro – isso por sua antiga e longa ligação com o Dnit nos governos Lula I e II, Dilma I e II e Temer.

Com ou sem água, Flávia Moretti é José Medeiros

Wellington tem ascendência sobre Ananias Filho, presidente regional do PL e que foi seu assessor; Ananias pisa em ovos, pois é secretário de Governo do prefeito Abílio. Analistas entendem que Wellington mesmo apoiado por Ananias não conseguirá convencer o PL por sua candidatura; isso, dentre outros motivos, pelo fato de que Abílio, Cláudio Ferreira e a prefeita de Várzea Grande, Flávia Moretti (PL) defendem uma dobradinha ao Senado, com o deputado federal José Medeiros (PL) e Mauro Mendes, e consequentemente com Pivetta encabeçando uma chapa com a vereadora Samantha Iris (PL), mulher de Abílio, para vice-governadora.

DAY AFTER – O grupo governista vive uma dualidade: tem base forte e cúpula mais ainda, porém, poderá repetir o que fez o PSDB de Dante de Oliveira, em 2002, quando dominava politicamente Mato Grosso, que bateu cabeça e Blairo Maggi (PPS) se elegeu governador.

Os Campos, Júlio e Jayme

Uma das marcas de Mauro Mendes, Pivetta, Jayme Campos e Wellington é o gênio forte. Nenhum costuma ceder. Com Mauro Mendes fechando questão com Pivetta, Jayme reagirá e Wellington, também. Todos eles e a classe política já ouviram a máxima, “Se Campos não é bom aliado, pior ainda é ser adversário”.

Natasha não tem a ver com a disputa intestinal da situação. Seu nome é apoiado pela federação PT/PCdoB/PV, que antes dela batia cabeça pelo nome ao governo. Em 2022 Natasha ensaiou uma candidatura, mas seu então partido, o PSB, lhe deu uma rasteira. Estreante na vida pública, sem histórico e, portanto, sem desgaste, além de seu currículo de médica, empresária e professora universitária, ela tem um berço do qual pode se orgulhar: é filha de Serys Slhessarenko, que foi deputada estadual e senadora sem jamais se envolver em escândalos.

Pivetta tem o aval de Mauro Mendes

DESFECHO – Pivetta sendo o candidato da situação, a tendência é que tanto Wellington quanto Jayme Campos apoiem Natasha, pois o histórico de ambos não permite imaginar que eles possam migrar para algum partido em busca de legenda para candidatura.

Historicamente o PT, que simboliza a oposição, recebe em torno de 25% dos votos mato-grossenses. Caso essa votação seja canalizada para Natasha e ela contando com Wellington e Jayme Campos no palanque suas chances de vitória tornam-se reais.

Pulverização para senador

Pelo desempenho administrativo de Mauro Mendes, analistas e políticos acreditam que ele terá a maior votação para o Senado. A formação de uma aliança com José Medeiros não resulta necessariamente na conquista do chamado voto casado, para ambos. Não há vinculação de nomes e o eleitor, caso queira, poderá votar apenas em uma candidatura. Esse fato deixa José Medeiros vulnerável.

Wellington e Janaína Riva: quem disse que família não conta?

Caso Wellington seja preterido pelo PL e por Mauro Mendes, seu caminho natural é cumprir os quatro anos restantes de seu mandato e apoiar sua nora Janaína Riva ao Senado. Nesse caso será apoio familiar, mas sem a expressão partidária do PL, e Janaína Riva contará com o MDB, enfraquecido e que poderá perder os deputados federais Juarez Costa, para o Republicanos, e Emanuelzinho Pinheiro, para o PSB.

Filiado ao DC, o ruralista e bolsonarista Antônio Galvan, em Sinop, insiste em entrevistas que será candidato ao Senado, apoiado pelo bolsonarismo, e acredita que conquistará a cadeira que eleger com menos votos.

Ex-senador e ex-governador, o advogado Pedro Taques tenta viabilizar seu nome, mas ainda não tem filiação. Taques ocupa as redes sociais com duras críticas a Mauro Mendes.

Candidato à reeleição, Carlos Fávaro aproveita o cargo de ministro da Agricultura de Lula para conquistar apoio junto a assentados, acampados, quilombolas, indígenas e os intelectuais de esquerda.

Fávaro é estrategista é prepara um palanque com nomes competitivos para deputado federal, entre figuras da federação PT/PV/PCdoB, PSD e do PSB. Dessa relação deverão fazer parte Emanuelzinho Pinheiro, Rosa Neide (PT); Valtenir Pereira, Irajá Lacerda e o Procurador Mauro (todos do PSD); e Neuma de Moraes (sem filiação) – mulher do ex-prefeito de Rondonópolis, Zé Carlos do Pátio.

Antes, Borgato foi aposta de Fávaro

Sobre as virtuais candidaturas à Câmara, que apoiarão Fávaro é preciso observar que em 2022, Rosa Neide recebeu a maior votação ao cargo, e que o PSD não elegeu deputado federal por conta de incidentes de percurso de última hora com dois de seus pré-candidatos: Domingos Gaspar Lazzari, ex-prefeito de Confresa, foi barrado pela Lei Ficha Limpa, e Nilton Borgato, ex-secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, foi preso pela Polícia Federal acusado de liderar uma quadrilha de tráfico internacional de cocaína.

Mesmo com duas cadeiras em disputa haverá pulverização de votos entre os nomes considerados de direita. Fávaro deverá beneficiar-se desse cenário, pois o famoso referencial de 25% dos votos destinados ao PT será seu, o que matematicamente poderá lhe dar mais oito anos no Senado (EG).

Disputa proporcional

Se preciso, Gisela recorre até o Procon pra ser Mauro Mendes

Na Câmara, à exceção de José Medeiros, os demais são pré-candidatos à reeleição, mas haverá mudanças de siglas na bancada. O Coronel Assis anunciou que trocará a UPB pelo PL. Emanuelzinho Pinheiro deixará o MDB pelo PSD. Juarez Costa estaria apenas esperando a abertura da janela de filiação para sair do MDB e ficar ao lado de Pivetta no Republicanos. Coronel Fernanda, Nelson Barbudo e Rodrigo da Zaeli continuarão no PL. Fábio Garcia e sua suplente Gisela Simona permanecerão na UPB e somente mudarão de sigla caso Mauro Mendes o faça, pois ambos são seus liderados.

Maior legenda na bancada mato-grossense na Câmara, o PL ocupa quatro cadeiras e todos os seus integrantes, bem como o futuro filiado Coronel Assis, defendem o nome de José Medeiros ao Senado numa dobradinha com Mauro Mendes e tendo Pivetta ao governo.

Na Assembleia, que em 2022 reelegeu 18 deputados, somente Janaína Riva não disputará a reeleição. Porém, o mosaico partidário em 2026 não será o mesmo de agora. Na janela de filiação haverá mudanças de partidos. O presidente Max Russi (PSB) anunciou que irá para o Podemos, mas faz mistério quanto às possíveis alianças para a disputa majoritária.


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Dr. Eugênio, assim, ó, com Pivetta

A bancada do PSB de Max tem quatro cadeiras e será pulverizada. O Dr. Eugênio, único deputado domiciliado no Vale do Araguaia, assegurou que se filiará ao Republicanos, por ser amigo de Pivetta. Beto Dois a Um deverá buscar espaço na chapa à Assembleia no grupo de Mauro Mendes. Restará Fábio Tardin, de Várzea Grande, que ainda faz mistério sobre seu amanhã.

Os deputados oriundos do União Brasil e ora na UPB formam um bloco bem representativo, mas que poderá ser esfacelado em caso de ruptura entre Mauro Mendes e Jayme Campos. O ano de 2026, para sua bancada, com Sebastião Rezende, Eduardo Botelho, Júlio Campos e Dilmar Dal Bosco não chega a ser uma incógnita, mas não será o mesmo, em unidade, como agora.

Sebastião Rezende representa uma comunidade evangélica e não entra em polêmica. Em caso de racha na bancada, e em nome de sua reeleição, Rezende procurará espaço em outro partido.

Júlio Campos é irmão de Jayme Campos e sua voz na bancada estadual. Eduardo Botelho tem fortes ligações com Jayme Campos e mantêm vínculos com Mauro Mendes; nem bola de cristal pode prever qual será seu caminho em caso de ruptura na cúpula. Dilmar Dal Bosco sempre foi escolhido por Mauro Mendes para sua liderança na Assembleia e tudo sugere que ele não ficaria com Jayme Campos.

Beto Dois a Um é Mauro Mendes acima de tudo

Mauro Mendes e Otaviano Piveta têm um grupo muito ligado a eles: Faissal Calil (Cidadania), Carlos Avallone (PSDB), Beto Dois a Um, Dr. Eugênio, Elizeu Nascimento (PL), Paulo Araújo (UPB), Chico Guarnieri (PRD); e Valmir Moreto, Nininho e Diego Guimarães (todos Republicanos).

A bancada petista com Lúdio Cabral e Valdir Barranco estará no palanque com Natasha ao governo e Fávaro ao Senado.

Wilson Santos e os vínculos com Dante

Wilson Santos (PSD) embora seja filiado ao partido de Fávaro é independente, mas suas raízes de centro-esquerda no grupo de Dante, poderão levá-lo a apoiar Natasha e Fávaro.

Os emedebistas perderam sua grande referência, o ex-senador Carlos Bezerra, que durante décadas liderou e dirigiu o partido. Bezerra está aposentado politicamente. Na Assembleia sua bancada com Janaína Riva, Dr. João, Juca do Guaraná e Thiago Silva têm postura independente. O Dr. João em Tangará da Serra, Juca em Cuiabá e Thiago em Rondonópolis tentarão se manter na Assembleia. Janaína Riva, depois de três mandatos de deputada, tentará o Senado, com apoio do sogro Wellington Fagundes, mas à frente de um partido em queda, que não terá candidato ao governo nem nome de expressão política para a Câmara.

Catatani corta o que Bolsonaro riscar

Gilberto Cattani (PL) reza pela cartilha bolsonarista e ficará ao lado de quem Bolsonaro apoiar. Por enquanto, Cattani não se manifestou sobre candidatura ao governo, mas sempre destaca José Medeiros ao Senado, por conta do apoio que ele tem do ex-presidente.

Max pode virar a mesa

Max Russi, principal liderança na Assembleia, é pré-candidato à reeleição, mas com sua mudança de partido, o que acontecerá num evento no qual lideranças de vários municípios o acompanharão, estará mais fortalecido ainda. Num cenário – que não é improvável, pois em política tudo é possível – de racha no grupo governista, Max Russi poderá se despontar como nome de consenso para o governo e seja o que Deus quiser (EG).

Fotos:

1, 6 e 8 – SecomMT

2 – midianews.com.br

3 – Eduardo Gomes

4 – Prefeitura Várzea Grande

5, 10, 11, 12, 13 3 14 – ALMT

7 – Rede social

9 – Agência Câmara

 

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