Boa Midia

Gente rondonopolitana

Irmã Luiza
Em Rondonópolis ninguém pedia com tanta convicção quanto ela. Ninguém pedia com tanta razão quanto ela. Ninguém sabia tanto quanto ela porque estava pedindo. Ninguém recebia tanto ao pedir quanto ela. Afinal, Irmã Luiza cuidava e bem de mães e filhos retirados das ruas, de mães solteiras ou em risco, de doentes, de quem precisava da mão estendida do irmão.

Figura quase onipresente em empresas em Rondonópolis, Irmã Luiza rotineiramente visitava os empresários que a ajudavam na manutenção do “Recanto fraterno”, a casa que acolhe necessitados de amparo, remédios ou de um simples alojamento enquanto aguardam tratamento médico de parentes na cidade.

No centro da cidade Irmã Luiza caminhava pelas calçadas. Em sua bolsa levava balas de gengibre, que fazia para reforçar o orçamento do Recanto fraterno. Boa vendedora, não perdia a oportunidade do cumprimento, para oferecer esse produto artesanal.

Irmã Luiza nasceu em Pirajuí, interior paulista, e se chamava Luiza de Souza. Em 1950, na cidade de Lins (SP) optou pela vida religiosa. Entrou para a Congregação Filhas de Maria Auxiliadora (Salesianas). Seis anos depois, em Campo Grande (MS), fez a chamada profissão de fé passando a vestir o hábito religioso.

Os primeiros passos de Irmã Luiza na vida religiosa que abraçou foram na reserva Merure, em Barra do Garças, em 1956, com os bororos – e a partir de 1957, também com os xavantes, que foram removidos para aquela área – e ali permaneceu até 1962. Naquele ano foi transferida para a reserva Sangradouro/Volta Grande, perto de Merure, onde trabalhou até 1964.

Em 1964, Irmã Luiza trocou Sangradouro/Volta Grande pelo Colégio São Gonçalo, em Cuiabá. Em 1971 retornou para Sangradouro, onde permaneceu até 1984.

Em 1984, transferiu-se para o Instituto Pedagógico São Vicente, em Campo Grande (MS). No ano seguinte foi remanejada para o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, naquela cidade, e ali permaneceu até 1987, quando foi transferida para Rondonópolis.

Transferida de Rondonópolis em 2000, para Vale do Paraíso, em Rondônia, Irmã Luiza contraiu malária, mas ali permaneceu até maio de 2005, quando retornou para Rondonópolis. No ano seguinte trabalhou no Externato São José, em Poxoréu.

Em 2007 Irmã Luiza novamente voltou a trabalhar em Rondonópolis. Dividia o tempo entre o Educandário Santo Antônio, na Paróquia Bom Pastor, e o Recanto fraterno, onde além de assistir aos milhares que passam por aquela instituição de atendimento transitório, os ensinava fazer tricô, bordados, tapetes, almofadas e uma série de outras atividades. “A melhor maneira de ajudar alguém é ensiná-lo a trabalhar para que ganhe dinheiro”, disse certa vez ao entrevista-la.
O Recanto fraterno nasceu numa casa alugada, no centro de Rondonópolis, e funcionou naquela instalação enquanto sua sede era construída.
Irmã Luzia conseguiu ajuda financeira da instituição alemã Mizereor para construir o Recanto fraterno, que foi concluído em 1994, originariamente com capacidade para atender 50 pessoas, mas esse número rotineiramente é extrapolado.
Regularmente a instituição recebe subvenção da prefeitura, e ocasionalmente, da União e Governo de Mato Grosso. Atende encaminhados pelo Conselho Tutelar, Delegacia de Defesa da Mulher, hospitais Paulo de Tarso e Regional e outros órgãos e entidades.
Em Rondonópolis Irmã Luiza também dirigiu a Pastoral da Criança, onde ganhou notoriedade pelo combate à subnutrição infantil. Mobilizou a cidade, criou formas alternativas de alimentação e suplementação alimentar para milhares de meninos e meninas que estavam condenados à fome e suas consequências.
Em meio às múltiplas atividades e em razão delas, Irmã Luiza foi eleita pelo Jornal A Tribuna, de Rondonópolis, Personalidade Feminina do Ano em 1992. Essa premiação é concedida anualmente desde 1983 e; juntamente com ela, o então deputado federal Wellington Fagundes foi escolhido Personalidade Masculina.
Em junho de 2011 Irmã Luiza sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), foi socorrida em Rondonópolis encaminhada para Cuiabá. Não se recuperou totalmente e permaneceu acamada até 21 de março de 2013, quando fechou os olhos para sempre numa unidade de terapia intensiva do Hospital Jardim Cuiabá.
Assim aos 81 anos, partiu para junto de Jesus Cristo. Seu corpo foi velado na Inspetoria Nossa Senhora da Paz, no bairro Coxipó, em Cuiabá e sepultado no cemitério daquele bairro.
Irmã Luiza escreveu uma bela página do verdadeiro cristianismo.

 

O adeus da Professora Arolda Dueti

 

A Professora Arolda
Sábado de adeus. Rondonópolis se despediu da educadora pioneira. A professsora aposentada e ex-vereadora Arolda Dueti Silva, 95 anos, fechou os olhos para sempre, na véspera, 21 de fevereiro de 2020, no Hospital Regional, depois de uma longa luta contra o Alzheimer, que é uma doença degenerativa.

Primeira professora de Rondonópolis, antes mesmo de sua emancipação, a Professora Arolda Dueti era baiana, a exemplo da maioria dos pioneiros do lugar. Nasceu em Jussiape, na Chapada Diamantina. Teve breve passagem pela política e escreveu importante página na Educação de gerações rondonopolitanas, com destaque para o período em que foi diretora da tradicional Escola Estadual Major Otávio Pitaluga, a EEMOP.

Descanse em paz, Professora!

FOTO do site www.marretaurgente.com.br (de Rondonópolis)

Daniel Moura vendedor do amanhã

 

O prefeito Daniel
Rondonópolis está no centro das atenções de investidores, de jovens recém-formados em busca de oportunidade no mercado e povoa os sonhos de agricultores que cultivam em outras regiões. Cidade bonita que reúne qualidade de vida com boa taxa de crescimento, com excelente localização geográfica, com boa malha rodoviária, com um aeroporto regional que atende sua demanda e privilegiada por ser o ponto mais ao norte da principal ferrovia que transporta grãos na América Latina – a Rumo ALL Um lugar assim mexe com o imaginário das pessoas. Mas em 1955? Sim, há 65 anos? O que motivaria alguém a trocar sua terra por aquela cidadezinha às margens do rio Vermelho (Poguba para os bororos), que ensaiava os primeiros passos no vazio demográfico mato-grossense? Daniel Moura sabia e acreditava que ali surgiria uma metrópole e que lhe cabia a tarefa de dar o pontapé para a arrancada ao desenvolvimento. Àquela época, ele comemorava a chegada de novos moradores e conhecia muitos deles. Mais: seu dedo político estava por trás de boa parte das mudanças que levavam pioneiros pra a Terra de Rondon.

Nascido em Porto Nacional, no antigo Norte de Goiás, e agora Tocantins, Daniel Martins de Moura deixou aquela cidade e foi pra Rondonópolis em busca do amanhã. Isso, nos anos 1940. De veia política, em 1945, ao lado de Filinto Müller participou da fundação do PSD, que nasceu com a redemocratização após o fim do Estado Novo.

Em 10 de dezembro de 1953 Rondonópolis se emancipou de Poxoréu por uma lei de autoria do deputado João Falcão, sancionada pelo governador Fernando Corrêa da Costa. À época o governante nomeava o juiz de Paz do lugar para exercer o cargo de prefeito do novo município até a realização de eleição municipal em data comum a todos os municípios. O juiz era Otacílio Fontoura, que não aceitou a função. O suplente de Otacílio, Rosalvo Fernandes Farias, foi convocado, tomou posse em 1º de janeiro de 1954 e ganhou o título de primeiro prefeito de Rondonópolis.

Em 1954 Daniel Moura foi eleito prefeito e empossado em 31 de janeiro de 1955. Rondonópolis tinha 10.400 habitantes, com a maioria na zona rural. No entorno ainda não haviam sido criados os municípios de Dom Aquino, Jaciara, São Pedro da Cipa, Juscimeira, São José do Povo, Pedra Preta, Alto Taquari, Primavera do Leste e Santo Antônio Leste. As ruas não eram calçadas; não havia galerias pluviais, esgoto, telefonia, faculdade nem acesso pavimentado e a energia era gerada por motores estacionários dos próprios consumidores.  Saúde quase zero e quem precisasse de médico procurava atendimento em Mineiros (GO) ou Guiratinga, distante 110 quilômetros.  Ninguém em Mato Grosso sabia que existia uma certa leguminosa de origem chinesa chamada glycine max, que atende pelo nome de soja.

Nos primeiros passos de Daniel Moura na prefeitura a cidade não oferecia atrativos para ganhar moradores. A economia municipal, também não. Havia garimpos de diamante, capazes de virar a cabeça de todo e qualquer aventureiro, porém esses se localizavam em Poxoréu e no Vale do Garças. Mas o prefeito tinha cartas nas mangas.

Após a eleição e antes da posse, Daniel Moura escreveu uma centena de cartas e mandou três homens de sua confiança levá-las, em mãos, aos destinatários no Norte de Goiás. Nelas descrevia Rondonópolis como verdadeiro Paraíso na Terra. O respeito que gozava em sua região natal reforçava o teor de seus textos. Convidava parentes, amigos e conhecidos para viverem em sua nova cidade. Mais: lhes oferecia terrenos urbanos em área nobre, com carta de aforamento da prefeitura, e lotes na zona rural nos projetos pouco antes lançados pelo ex-governador Arnaldo Estevão de Figueiredo.

Muitas famílias deixaram o Norte de Goiás e foram para a embrionária Rondonópolis. Invariavelmente, quando chegavam questionavam Daniel Moura, Ele as acalmava dizendo que em breve a cidade teria tudo aquilo que as cartas continham e que eles teriam que trabalhar para tanto.
Os novos rondonopolitanos acabavam se acostumando e passavam a comemorar as conquistas da cidade – uma delas foi a construção da primeira pequena central hidrelétrica (PCH) da região, no rio Ponte de Pedra, afluente do Vermelho pela margem esquerda, na cabeceira do Pantanal.
Os convidados de Daniel Moura ajudaram a impulsionar o crescimento. Se stabeleceram com armazénas, bares, restaurantes, hotéis, farmácias, armarinhos, açougues etc. De certa forma e observada as características da época, foi o primeiro fluxo migratório motivado pela economia.
Aos convidados e aos moradores de modo geral, Daniel Moura concedia cartas de aforamento,  para que construíssem residências e estabelecimentos comerciais, mas nenhuma carta contemplou membros de sua família. Viveu e morreu pobre – de cabeça erguida.
Na segunda-feira, 14 de abril de 1996, aos 90 anos, lúcido, porém debilitado pela idade, Daniel Moura fechou os olhos para sempre no Paraíso na Terra, onde seu corpo foi sepultado. Rondonópolis lhe rende algumas homenagens. A maior, é a denominação da grande escola de Vila Operária: Escola Estadual Daniel Martins de Moura.
Quatro dias após seu adeus, o senador Júlio Campos proferiu um discurso no Senado e pediu que o mesmo fosse incluído aos anais daquela Casa Legislativa. Em certo trecho, Júlio disse, “A morte é muito frágil para levar alguém como Daniel Moura. Ela só mata aqueles que não ficam nos seus exemplos”.

 

Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes

FOTO: Acervo Museu Rosa Bororo

 

Dona Zizi e o pastel famoso

 

Dona Zizi
Não adianta procurar pela dona Idalina Alves Pereira. Em Rondonópolis ninguém a conhece pelo nome e sobrenome. Porém, se alguém perguntar pela dona Zizi da pastelaria, os 232.491 moradores e até as pedras saberão de quem se trata. Afinal, ela faz o mais famoso molho e o mais apreciado pastel em Rondonópolis, a única cidade à margem do rio Poguba, dos bororos, e que chamamos de Vermelho.

Prendada e cozinheira famosa por seus pratos e temperos, a jovem baiana que a cada dia mais e mais assumia seu lado rondonopolitano, decidiu montar um negócio para garantir seu sustento. Isso, há 41 anos.Dona Zizi além de pasteleira famosa e de mão cheia, é pioneira em Rondonópolis, onde chegou no alvorecer de 1955, portanto há 65 anos, tão logo deixou a Boa Terra. A cidade ensaiava seus passos iniciais e sua população era predominantemente oriunda da Bahia. Até o primeiro prefeito do município, Rosalvo Fernandes Farias – nomeado para o cargo – era seu coestaduano. Em 31 de janeiro daquele ano Rosalvo transmitiu a prefeitura para o primeiro prefeito eleito, Daniel Martins de Moura.

Dupla irresistível

Foi assim que surgiu a banca de pastel da Zizi, em 1980, na Praça dos Carreiros, na região central, entre as avenidas Amazonas e Marechal Rondon, e as ruas Dom Pedro II e Barão do Rio Branco, onde todos os sábados havia uma feira-livre. A área não era urbanizada. Cada feirante se virava como podia enfrentando chuva, sol, poeira e barro. A feira, espremida num canto, dividia espaço com um ponto de caminhões de frete e outro de táxi. Esporadicamente o lugar ficava ainda mais apertado para as barracas, porque ali eram armados os circos e parques de diversão com suas tendas coloridas.

Ainda em 1980 a Praça dos Carreiros foi urbanizada e sua feira-livre transferida para o bairro Vila Aurora, no local onde ainda se encontra. A banca da Zizi acompanhou a mudança, mas ganhou status de empresa: Pastelaria da Zizi. Num segundo passo, acompanhando o modismo, o empreendimento foi rebatizado: Pastelaria da Tia Zizi.

A Pastelaria da Tia Zizi ocupa um galpão ao lado de outras, próximo ao alambrado que a isola da calçada na Rua Barão do Rio Branco, e funciona às sextas-feiras, dia de realização da feira-livre de Vila Aurora. Sua pastelaria, porém, é diferenciada por ser ponto de encontro das famílias de pioneiros e antigos moradores da cidade; mas além dessa freguesia fiel, entre suas mesas ao ar livre se reúnem novos rondonopolitanos, que chegaram à cidade atraídos por seu boom econômico e sua fama de lugar bom indicado para se viver bem e ganhar dinheiro, e as novas gerações ali nascidas

A pastelaria não tem cardápio variado. É o trivial: pastel com molho e, para quem pedir, suco de laranja, refrigerante e coxinha. Sua movimentação é intensa, por duas razões e nenhuma tem prevalência: seu pioneirismo, o que consolida freguesia antiga, e a crocância do pastel e o molho sem igual, cuja receita é mantida a sete chaves por dona Zizi e o reduzido número de antigas funcionárias que literalmente botam a mão na massa para sua feitura e fritura.

Pastel frito na hora tem para todos os gostos: carne, palmito, carne com palmito, queijo, queijo e presunto etc. O molho é comum a todos. Servido em copo plástico descartável, é fácil identificar a presença do tomate, da cebola branca, da cebolinha verde, mas é impossível se saber o quê do caldo agridoce que lhe rende fama.

PERSONAGEM – Dona Zizi fala pouco e em voz baixa. Ouve com atenção e não tem pressa para responder. Pergunto quantos pastéis ela avalia ter vendido nas 2.500 feiras – durante alguns anos a feira de Vila Aurora funcionava às sextas e sábados – ao longo dos 40 anos de sua atividade. Serena, com a mão esquerda sobre o rosto, como se o quisesse segurar, responde com naturalidade: “é coisa pra lá de um milhão”.

Sorrio. Agradeço e saio, não antes de manter o velho costume de comer dois pastéis com o danado do irresistível molho agridoce. Penso com meus botões: uma cidade superlativa até na movimentação de uma pastelaria de feira realmente é diferente, a começar por sua gente, a exemplo de dona Idalina Alves Pereira, quer dizer, dona Zizi, porque seu nome de batismo e registro ficou no passado, na Boa Terra, que um dia ela deixou para ajudar a construir uma cidade diferenciada, viciada em crescimento, que esbanja desenvolvimento e está sempre de nariz empinado, no solo vermelho do cerrado à margem do rio Poguba, que desce o planalto e se junta ao São Lourenço numa região que todos chamam de Pantanal.

 

Semeador da Comunicação 

 

Aroldo Marmo

Cinco pessoas a bordo. Pesado, o avião decola na curta pista no município de Paranatinga. O comandante Tinoco fez o que estava ao alcance, mas tocou numa cerca na cabeceira. A aeronave caiu. Explodiu. O piloto e dois passageiros morreram. O calendário estampava a sexta-feira, 19 de setembro de 1980. Naquela data fatídica Aroldo Marmo de Souza entrou para a história.

No final dos anos 1960 e começo da década seguinte Rondonópolis parava para ouvir e se informar com o “Homem do Plá”, na Rádio Branife AM. Aroldo era esse personagem titular de um programa jornalístico que tinha audiência absoluta na cidade e região.

O microfone tornou Aroldo conhecido e o arrastou ao mundo político. Jornalista formado pela Universidade Casper Líbero, de São Paulo – capital, onde nasceu – seu encontro com Rondonópolis não foi casual. Em 1968 chegou à cidade que o adotou e foi por ele adotada para assumir a gerência-geral da Branife – emissora que ganhou esse nome porque seu dono, certa feita, voou para os Estados Unidos num avião da Braniff e gostou da companhia aérea.

Dinâmico, com invejável capacidade de raciocínio, boa voz e excelente oratória, Aroldo passou a acumular o escritório da gerência com o estúdio.

O ano de 1970 marcou a vida de Aroldo. Casou-se com a professora Maria Janice Logrado, que incorporou o sobrenome “Souza” e fundou aquele que se tornaria um dos mais importantes jornais do Centro-Oeste, o “A Tribuna”, que também é um dos mais antigos diários em circulação nessa região.

Aroldo e Janice mal desceram do altar e mergulharam no sonho de transformar o embrionário A Tribuna no referencial da Comunicação em Rondonópolis.

Em 1972, Aroldo se candidatou a vereador por Rondonópolis, pela Aliança Renovadora Nacional (Arena), recebendo 2.337 votos. Proporcionalmente foi o mais votado do Brasil naquele pleito e somente em 1996 – 24 anos depois – esse quantitativo de votos foi superado por uma candidatura ao mesmo cargo naquele município. Desencantado com a política, renunciou.

Circulando ininterruptamente desde 7 de junho de 1970, A Tribuna alcançou um patamar maior do que aquele sonhado por Aroldo e Janice quando de sua fundação: virou patrimônio de Rondonópolis e do povo rondonopolitano incorporando-se de tal modo à cidade, que se funde e se confunde com ela. Desde o adeus do fundador, A Tribuna é dirigida por Janice e seu irmão e sócio Samuel Logrado – ele, além de jornalista é engenheiro civil.

Rondonópolis reverencia a memória do fundador do Jornal A Tribuna. Anualmente a Câmara Municipal outorga a “Medalha Aroldo Marmo de Souza” aos comunicadores que se destacam na divulgação e que prestam relevantes serviços ao município.

O Rotary Club Rondonópolis Leste também reverencia Aroldo – que pertenceu aos quadros dos associados do Rotary Club Rondonópolis – e concede o “Troféu Aroldo Marmo de Souza” aos seus membros com 100% de presença anual.

No âmbito familiar Aroldo deixou a viúva Janice e os filhos do casal: MargarethAroldo Júnior e Elizabeth. No horizonte de Rondonópolis seu legado é uma página de ousadia, coragem, luta, determinação e competência que se renova todas as manhãs, em cores, nas páginas do jornal que é porta-voz do povo da cidade que com seu nome reverencia o Patrono das Comunicações do Brasil.

PS: O acidente aéreo em Paranatinga, que custou a vida de Aroldo, também levou o comandante Odilon Tinoco e o produtor rural e fiscal da Secretaria de Estado de Fazenda, Luziano Borges Muniz. O comerciante Zildo Rodrigues Machado e o veterinário Ivo Ferreira Mendes sofreram queimaduras, mas sobreviveram; Ivo morreu posteriormente, de causas naturais.

Quando de sua fundação o jornal A Tribuna  se chamava “Tribuna do Leste”. Em 1978, após a divisão territorial para a criação de Mato Grosso do Sul, ganhou a atual denominação.

 

Em nome do Pai

 

Padre Lothar
Rondonópolis, 24 de janeiro de 1979. Chuvas fortes transbordam o rio Arareau na área urbana, onde desemboca na margem direita do rio Vermelho. As águas invadem casas e centenas de moradores ficam desabrigados. Padre Lothar Bauchrowitz se sensibiliza com a situação e consegue com o prefeito Walter Ulysséa alguns lotes da prefeitura nas vilas Ipê e Mariana, para construir moradias para os atingidos. Com essa iniciativa mais que resolver um problema o sacerdote encontrou o caminho da casa própria para desabrigados e carentes, que em 40 anos ultrapassa 3.100 moradias, que foram repassadas a necessitados.

 

Somente foi possível construir tantas casas assim, porque padre Lothar conta com apoio da Cáritas Diocesana, de órgãos governamentais e de mão de obra de mutirões com a participação dos beneficiários. O contemplado com a casa não a recebe gratuitamente, salvo os portadores de necessidades especiais, viúvas e alguns que se encaixam em outros grupos de necessitados. A chave da moradia é entregue mediante compromisso de pagamento de 10% do salário do chefe da família, durante 10 anos; em caso de doença ou desemprego as parcelas recebem quitação social. “Não podemos darrr o peixe; o serrr humano tem que saberrr pescarrr”, resume num sotaque de berço alemão que trouxe de sua terra, Königsberg, onde nasceu em 1º de julho de 1938.

Padre Lothar é uma das referências em Rondonópolis. Há 55 anos assumiu a Paróquia da Igreja São José Operário, em vila Operária, onde celebrou sua primeira missa em 15 de agosto de 1964, numa cerimônia com o bispo Dom Wunibaldo Talleur. Seu trabalho evangelizador e social começou em Rondonópolis; sua ordenação ocorreu em 28 de julho de 1963, na catedral de Mongúncia, na sua Alemanha, pelo cardeal Volk.

O sacerdote revela que ao chegar a Mato Grosso morava na sede da então prelazia, na região central, e que durante três anos, de bicicleta, fazia o percurso de ida e volta à sua igreja da qual foi vigário e depois pároco.

Rondonópolis respeita padre Lothar por sua condição de evangelizador dedicado e que responde por uma paróquia com dezenas de comunidades numas das áreas mais densamente povoadas da cidade. Porém, sua atuação no campo social é que o fez mais conhecido no município e região. Além de construir mais de três mil casas, o sacerdote mantém um guarda-chuva social: Criou o Recanto dos Idosos, administra creches, mantém Clubes de Mães e o Albergue Noturno de Vila Operária, administra o Centro Social João XXIII (criado em 1969) e o Conselho de Desenvolvimento Distrital de Vila Operária (Condivo).

A porta da casa de padre Lothar, ao lado de sua igreja, na Avenida dos Bandeirantes, está sempre aberta e a sala repleta de pessoas em busca de auxílio e de quem vai até lá para ajuda-lo direta e indiretamente. Sua rotina é estafante. Celebra missas, faz batizados e casamentos, administra sua paróquia, promove eventos para arrecadar fundos e visita paroquianos e sua obra social. Ela se torna ainda mais estafante por se tratar de um homem com 80 anos e que recentemente enfrentou sério problema de saúde. Mesmo sem tempo aparente para outros tipos de atividades, em 2009, o sacerdote escreveu o livro, “Memória de um padre alemão em terras brasileiras”.

Além do reconhecimento da população pelo trabalho social singular de padre Lothar, a classe política também o reverencia. A cidade tem um bairro e um residencial com seu nome; uma taça de futebol para jovens foi denominada Padre Lothar; a Assembleia Legislativa lhe outorgou Título de Cidadão Mato-grossense e a Câmara Municipal lhe deu a Cidadania Rondonopolitana.

FOTO: Felipe Barros

 

O legado do sonhador

 

Vettorato
Cotonicultores mato-grossenses à beira da loucura. Baixa produtividade. Produção pequena. As lavouras sob ataque. Diretor da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), Clóves Vettorato reuniu os pioneiros do algodão em escala empresarial. Dentre eles André Maggi, Inácio Mamana, os irmãos Sachetti, Orlando Polato e Gilberto Goellner. Com eles criou um núcleo de algodão na Fundação MT. Arrecadou fundos. Resolveu o problema.

 

Algodão havia. Faltava política para o setor. Vettorato criou o arcabouço do Programa de Incentivo à Lavoura do Algodão (Proalmat) e do Fundo de Apoio à Cultura do Algodão (Facual). Levou ambas as propostas ao governo. Pronto. Mato Grosso passou a responder por metade da pluma produzida no Brasil.

Mentor do Projeto Granjas de Qualidade, Vettorato também presidiu a Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat) e dirigiu o Frigorífico Agra, em Rondonópolis.

Grandes lavouras exigem sementes suficientes e de boa qualidade. A idealização da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat) tem as digitais de Vettorato, que também a presidiu.

O ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, precisava de um braço-direito que representasse Mato Grosso, o maior celeiro do Brasil. Indicado por unanimidade pelos produtores, Vettorato foi abre-alas da economia mato-grossense nos bastidores em Brasília.

Blairo Maggi se elegeu governador em 2002. Vettorato foi o primeiro nome para compor a equipe de transição. Reuniu os cacos e preparou o caminho para Blairo.

Secretário de Projetos Estratégicos e de Desenvolvimento Rural no primeiro mandato de Maggi, e de Projetos Estratégicos no governo em curso, Vettorato sempre foi peça-chave no planejamento do Estado.

Quando a fogueira da vaidade ardia em algum setor do Paiaguás, era bombeiro.
Certa tarde num fim de semana, percorrendo ruas de Cuiabá com amigos visitantes, não encontrou sequer uma porta de museu aberta. Exigiu como se deve exigir e a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa) restaurou o Palácio da Instrução. Gostou do que fez e parte do Patrimônio Histórico cuiabano foi restaurada em parcerias do governo com o Banco do Brasil e multinacionais do agronegócio.
Leal ao amigo Blairo exercia o cargo com fidelidade. Íntegro. Honrado. Jamais seu nome esteve associado a escândalo.
Caminho de sonhos. Rota terrestre preferencial para quem troca o Sul pelo horizonte que se descortina no coração do continente, a BR-163 também abriu passagem rumo a Rondonópolis ao administrador de empresas e administrador público Clóves Felício Vettorato, gaúcho de Santo Ângelo, casado com Elizabeth e pai do advogado tributarista Gustavo Vettorato.
Na vida pública Vettorato não economizou trabalho nem competência nos projetos e planejamentos. Atraiu empresas. Superou barreiras. Venceu obstáculos. Soube ‘vender’ as potencialidades mato-grossenses a investidores. Obstinado e organizado lançou raios de luz sobre as trevas do amanhã onde interesses inconfessáveis tentam enfiar Mato Grosso. Avesso aos holofotes foi ousado sonhador.
Em silêncio, construiu sua trajetória. Tão silencioso quanto viveu, partiu após uma dolorosa luta contra o câncer, no auge de sua capacidade criativa e na plenitude da maturidade. Seu legado é uma das mais importantes páginas da construção do Mato Grosso moderno, desenvolvimentista e vibrante, ao qual emprestou o máximo de sua inteligência.

 

PS – O texto acima, de minha autoria, foi publicado na edição de 20 de abril de 2008, no Jornal Diário de Cuiabá, com o indicativo “LUTO” e o título “Legado do sonhador que abriu alas ao agronegócio”, sobre a morte de Vettorato, na sexta-feira, 18 daquele mês, na UTI do Hospital Santa Rosa, em Cuiabá, por falência múltipla dos órgãos e neoplasia nos pulmões. Seu corpo foi sepultado com honras militares no Cemitério Parque Bom Jesus, em Cuiabá, após velório no saguão do Cenarium Rural do Senar.

Eduardo Gomes – Redação blogdoeduardogomes

FOTO: Édson Rodrigues no site público do Governo de Mato Grosso

 

Pedido de Deus é ordem

 

 

Marinho e seu companheiro inseparável

Sexta-feira 24 de março de 2000. No céu, serafins, arcanjos, querubins e anjos entoam cânticos de louvor diante do Senhor. E Deus, onipresente, também está na Terra e a caminho do Seu trono…

As portas do céu se abrem na madrugada daquele sábado 25 de março, de 2000 para passagem ao Senhor, precedido por uma legião de anjos. E Deus estava no céu e ali chegava, sobre os primeiros raios do sol do último dia da semana, com um filho muito querido, que fechou os olhos na véspera.

E Deus estava no céu, e numa nuvem ao céu chegou, com o filho muito querido, para tê-lo sempre Consigo no infinito celestial que reserva àqueles que O amam e são por Ele amados.

O céu se curvou aos pés de Deus para ouvi-Lo, mas o Senhor nada disse.

E o silêncio do Paraíso foi quebrado pelo som do saxofone do filho muito querido de Deus. E as melodias do instrumento musical dobravam as curvas do infinito e se espalhavam além do espaço e do tempo…

O som, lindo, desceu à Terra em forma de sorriso de criança, de paz, de amor, de crença, de esperança e de fé… Espalhou-se por corações, inundou Cassununga, Batovi, Alcantilado, Guiratinga, Coreia, Cafelândia do Leste, Tesouro, Raizinha, Alto Garças, Alto Coité, Poxoréu, Rondonópolis e por onde mais se possa imaginar que garimpeiros dos vales do Garças e do rio Vermelho viveram o ciclo do diamante que fazia fortuna da noite para o dia.

Quando o som, lindo, chegou à Terra, foi sentido por outros meios, como a doce lembrança de tantos casais apaixonados que se uniram pela força do romantismo embalado por aquele sax, nas inesquecíveis domingueiras do clube ABR em Rondonópolis, ou nos bailões dos tempos imemoriais do ciclo do diamante. 

O filho muito querido de Deus, quando entre nós, foi tomado como exemplo de dignidade pessoal, de honradez de caráter, de postura cívica e de grandeza de alma, atributos que deixou por legado em seu inventário pobre de bens materiais e rico em predicados morais. Ele foi escutado política e socialmente pela voz da consciência coletiva de Rondonópolis, que tanto lhe deve e que tão pouco lhe deu, por mais que o tenha guardado em seu coração, por mais que o imortalize com um nome de uma de suas ruas e de seu imponente aeroporto. 

Deus ouviu, até o silenciar da última nota, o sax que falava a linguagem universal da música. Depois, o Senhor abençoou aquele filho muito querido e lhe concedeu a graça da eternidade com os justos, por sua conduta na Terra.

O filho muito querido de Deus prostrou-se de joelhos diante do Senhor, para louvá-Lo. Antes que o fizesse, o lado brasileiro do anfitrião celestial falou mais alto e Ele pediu a saideira:

– Toca a ‘Mariana’, que é uma de suas músicas preferidas, maestro Marinho de Oliveira Franco. Toca, menino. Toca…

FOTO: Álbum de Família

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