Galo mascote vira obsessão
Torcedor mais fanático do que Reginaldo Pedro da Silva, o popular Barrufão, do Barra do Garças Futebol Clube, ainda está para nascer. Onde quer que seu time jogue, lá está ele, seja enfrentando calor, frio, chuva de canivetes…
Barrufão sempre sonhou com um Barra do Garças forte, valente, brigador dentro de campo. Por isso, ele adotou como símbolo desse desejo um galo, que com o passar do tempo acabou se transformando no escudo oficial do clube, com total aprovação dos torcedores barragarcenses.
Com a oficialização do penoso como escudo, o Barra do Garças passou a ser conhecido como “Galo da Serra” pelo fato do seu estádio, o Zeca Costa, ficar na Vila Santo Antonio, no pé de uma formação rochosa que enfeita Barra do Garças e Aragarças, separadas pelos rios Garças e Aragarças, e cuja junção a poucos metros abaixo das pontes que unem as duas cidades, através do município de Pontal do Araguaia, forma o lendário Araguaia.
Nem sempre, porém, o Barra do Garças se comporta dentro de campo como um galo altaneiro, valente, que briga até a morte em busca da vitória. Muito pelo contrário, de vez em quando o time mais parece um franguinho garnisé…

Mas Barrufão não desiste e tem muita fé que um dia chega a vez do “Galo da Serra” se tornar um grande conquistador de títulos. Muito confiante e esperançoso, já fez até uma promessa: no dia em que o Barra do Garças FC for campeão de futebol profissional de Mato Grosso, ele, com seus 150 quilos, vai subir andando os 1.100 degraus da escada do Cristo Redentor em Barra do Garças…
Barrufão e seus galos que simbolizam o Barra do Garças FC têm sido protagonistas de cenas e fatos que levam os torcedores do clube ao delírio. Ou também a morrer de raiva, como registra o folclore de um clube ainda novo, mas que já tem uma história rica que vai ser contada um dia…
Cantoria na madrugada
O Barra do Garças tinha um jogo importante em Cuiabá. E a torcida barragarcense resolveu fretar um ônibus para prestigiar o seu clube. Viagem penosa à noite pela BR-070 e seus buracos. Entre os torcedores, Barrufão e seu galo, claro.
Lá pelas 5 horas, quando o ônibus passava pela serra de São Vicente, o galo de Barrufão, transportado em uma gaiola, desandou a cantar, anuncian-do o romper de um novo dia. E não parava mais.
Revoltados com a cantoria desafinada do penoso, talvez assustado com o ambiente de um poleiro em que nunca tinha pousado, alguns torcedores chegaram a ameaçar jogar Barrufão e seu galo para fora do ônibus…
Galo sem pescoço
Em 2002, durante um jogo entre o Barra do Garças e o Juventude, de Primavera do Leste, no Zeca Costa, um torcedor gaúcho primaverense desafiou o grandalhão barragarcense para uma aposta: se o time da casa ganhasse, ele pagaria uma caixa de latinhas de cerveja a Barrufão. Se o Juventude vences¬se, Barrufão lhe daria o seu galo.
Fim de jogo, vitória do Juventude por 1×0. Barrufão, com dor no coração, entrega o objeto da aposta ao gaúcho, que exibe o galináceo como troféu à torcida do Juventude e, em seguida, sob aplausos dos torcedores do time de Primavera do Leste, arranca o pescoço do galo…
Barrufão ficou possesso de raiva com tanta covardia e judiação, mas não pôde fazer nada para salvar o inocente e indefeso galo que havia perdido na aposta…
Era galinha…
Final de mais um jogo do Barra do Garças no Zeca Costa, em 2003, contra o Juventude, de Primavera do Leste. Um gandula, que morava em Aragarças, aproxima-se de Barrufão e lhe propõe comprar o jovem galo que tinha sido o mascote do time naquele dia.
A transação é feita. Passado algum tempo, Barrufão encontra o gandula, que foi logo reclamando: o galo que ele havia lhe vendido na realidade era uma franguinha que até já estava com uma renca de pintinhos…
“Recolhe o galo”…
Em 1985 o Barra do Garças andava jogando uma bolinha que dava pena de ver. Inconformado com a ruindade do time, Barrufão ia até a treinos para esculhambar os jogadores para ver se eles criavam vergonha na cara para levar o Barra do Garças a conquistar algumas vitórias.
Num desses treinos Barrufão levou um galo. E nesse dia ele pegou tanto no pé dos jogadores, que Tucho, o mais xingado, toda vez que pegava na bola ou errava uma jogada, tentou pular o alambrado para pegar Barrufão…
Depois da confusão, aconselharam Barrufão a pegar seu galo e se mandar. O incidente resultou na cunhagem de uma expressão que se tornou muito conhecida entre os torcedores barragarcenses: “Recolhe o galo”.
A expressão é muito usada quando alguém comete uma gafe ou torna-se inconveniente no ambiente em que está. Na lanchonete que Barrufão tem no bairro Ouro Fino, quando alguém da família diz “Recolhe o galo” está dizendo que é para ninguém servir mais a mesa de algum freguês chato…
Pegar um gordo…
Quando Barrufão chegava com seu galo ao Zeca Costa para o jogo entre Barra do Garças e União, pelo campeonato estadual de 2002, passaram por ele três ônibus com torcedores do clube de Rondonópolis. De um dos ônibus, caiu uma bandeira do colorado, que Barrufão pegou e hasteou perto da área do estádio onde ficava a torcida barragarcense.
No decorrer do jogo, um torcedor do time da casa decidiu meter fogo na bandeira. Revoltado com o desrespeito, um torcedor do União foi arrancar a bandeira para apagar o fogo.
Formou-se uma confusão da grossa. E o torcedor rondonopolitano que foi defender o pavilhão do seu clube acabou levando umas boas pauladas com a bandeira em chamas.
Alguns dias depois, Barrufão recebeu um telefonema do delegado de Polícia de Rondonópolis, Pedro Manzano, advertindo-o: “Não pise aqui tão cedo, Barrufão, porque a torcida está louquinha para pegar um gordo…”
Luta inglória
Já era fim de tarde quando Barrufão pegou sua motocicleta e saiu por Barra do Garças feito um doido atrás de um galo. Naquela noite, o Barra do Garças ia jogar contra o Operário, de Várzea Grande, pelo Campeonato Mato-grossense de 2006 e não podia entrar em campo sem o seu mascote.
Procura aqui, procura ali, finalmente Barrufão encontrou num bairro de Barra do Garças um galão daqueles bem gordos. Comprou o penoso sem pechinchar. E saiu a toda velocidade em sua moto para o Estádio Zeca Costa.
Mas no meio do caminho, a cordinha que peiava o galo que estava pendurado no guidão da moto se rompeu e o penoso se soltou. Aí começou uma correria de um gordo atrás do outro. Depois de muito corre-corre, Barrufão conseguiu pegar o galo e se mandou para o estádio.
Chegou atrasado, para desespero da torcida, mas chegou. Só que tanto esforço e investimento – um galo feito custava à época entre R$ 10,00 e R$ 15,00 – não adiantou nada: o Operário ganhou o jogo por 2×0…
PS – Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino.
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