Boa Midia

Flip, também, para crianças

Rafael Cardoso
Agência Brasil – Rio de Janeiro

Livros em três dimensões, que são vividos por meio de diferentes sentidos: visão, tato, audição. Essa é a proposta da Companhia Costurando Histórias, que usa tecidos na hora de construir personagens e cenários em tapetes. A narrativa é acompanhada de músicas e coreografias, que prendem a atenção de crianças e adolescentes.

“A gente coloca o tapete no centro. E se forma uma roda, o que é uma forma bem intimista de contar a história. Olho no olho. Depois que as crianças e os jovens escutam as histórias, eles podem mexer nesses materiais que a gente costura, nos personagens e folhear os livros”, conta Daniela Fossaluza, atriz, artesã e diretora da companhia.

A atividade faz parte de uma programação especial do Serviço Social do Comércio (Sesc) dedicada ao público infantil na 22ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty – Flip. E converge com um dos focos da instituição para esse ano: mostrar que a literatura e a arte podem ser alternativas ao uso excessivo de telas e dispositivos eletrônicos na infância.

A Companhia Costurando Histórias é um coletivo de artistas em atuação há 25 anos. Eles visitam escolas, recebem turmas de crianças em unidades do Sesc e participam de feiras literárias. Com mais de 60 tapetes, eles costumam adequar o repertório nos espetáculos de acordo com a faixa etária. Hoje (12), Dia das Crianças, o cenário é sobre o ‘Mapa de Pindorama’, nome dado pelos povos tupis-guaranis à região que hoje é o Brasil.

“A partir do mapa vamos trazer contos e lendas do Brasil. Apresentar histórias dos povos originários, lendas populares, monstros do folclore. Fizemos um pacote que visita as regiões do Brasil, os biomas, a fauna. Tudo é representado no tapete”, diz Fossaluza.

Programação

Para os pais e outros responsáveis, estão previstas rodas de conversa com o tema “Telas e seus impactos na infância”. Paralelamente, crianças e adolescentes vão poder participar de outras atividades, como a Maratona de Histórias, que apresenta contos de diferentes tradições do Brasil e do mundo.

Outra opção é a apresentação do Palhaço Xuxu, interpretado pelo ator e diretor Luis Carlos Vasconcelos. O personagem brinca com a simplicidade do cotidiano e a delicadeza das emoções humanas. E tem ainda a BiblioSesc, biblioteca móvel que traz contação de histórias e atividades sensoriais.

“As bibliotecas móveis têm uma programação o ano inteiro dedicada à formação de leitores, lidando com o público infantil, trazendo um entretenimento de qualidade. Elas ajudam a desenvolver habilidades pedagógicas, socioemocionais e relacionais. Tudo isso se faz por meio da literatura, e dessa disponibilidade de proporcionar para a criança e para o adolescente uma experiência diferente da que se tem no uso das telas”, diz Janaina Cunha, Diretora de Programas Sociais do Departamento Nacional do Sesc.

Ainda nesse tema, a programação do Sesc já teve o lançamento ontem (11) da revista em quadrinhos da Turma da Monica intitulada “O que aconteceu no Limoeiro?”, que aborda os aspectos negativos do uso descontrolado dos dispositivos eletrônicos, e a importância de valorizar brincadeiras e interações presenciais. Para a diretora do Sesc, não se trata de proibir o uso das telas, mas de qualificar o tempo de exposição e ofertar outras experiências.

“A arte de contar histórias é importante nesse sentido. É algo que você pode acompanhar em algum lugar, por meio de um profissional das artes cênicas. Mas você pode levar isso para dentro de casa ou para uma praça. E outra coisa que é muito legal, as crianças podem ser convidadas a serem narradoras. Porque elas têm muitas histórias para contar, basta que a gente se interesse por elas. Esse movimento da não exposição às telas é um movimento bilateral, porque também não adianta só proibir, sem ter o que ofertar”, analisa Janaina.

A diretora da Companhia Costurando Histórias complementa: é possível colocar em diálogo os diferentes meios e linguagens, para que as crianças e adolescentes tenham um desenvolvimento emocional e intelectual mais saudável.

“Nós estamos imersos no mundo contemporâneo, onde nós temos muitos meios e plataformas. E o livro tem o seu lugar especial, ele é insubstituível. Quando a gente consegue fazer esse alinhava, essa costura do livro com outros meios e linguagens, valoriza a literatura”, reflete Fossaluza. “É importante considerar a realidade que crianças e jovens têm hoje das telas, sem abrir mão de apresentar para eles a artesania e a transmissão de narrativas. Acho que precisamos apostar nisso: não abandonar as tecnologias, mas costurá-las com o artesanal”.

Foto: @Flip/Divulgação

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