Boa Midia

Fim da praga da lavadeira

Agora está 8×1 para a lavadeira” – esta continua sendo a provocação dos adeptos do Vila Aurora e do Rondonópolis Esporte Clube para cima dos torcedores do União depois do colorado ter conquistado, finalmente, o Campeonato Estadual da temporada de 2010, após ter perdido 8 decisões do mais importante título da antiga FMD e da atual FMF. Os dois empates por 2×2 do União contra o atual Operário Futebol Clube e a conquista do título acabaram com a praga da lavadeira, uma maldição que perseguiu o colorado rondonopolitano por muitos anos.

A história que se conta e que ganhou o mundo através da Internet é a seguinte: há muitos anos, o União, com quase 40 anos de vida, contratou uma senhora para lavar e passar o uniforme do clube. Mas nunca acertava direitinho o que havia combinado com a lavadeira. O tempo foi passando e a mulher raramente via uns trocos pelo seu trabalho. Um dia, cansada de ser enrolada, a mulher rogou uma praga contra o União: o clube nunca seria campeão estadual.

O tempo passava e nada do União ser campeão estadual. A lenda da praga foi se espalhando entre a torcida de Rondonópolis. Nos últimos anos, toda vez que o União disputava um título estadual e fatalmente o perdia, ecoava pelo estádio o grito uníssono da torcida colorada: “Paga a lavadeira!…”, “Paga a lavadeira!…”, “Paga a lavadeira!…”

Depois de tantas e fracassadas tentativas do União de ganhar um título de campeão estadual, um novo diretor do clube, de tanto ouvir falar da praga da lavadeira, foi procurar a mulher para quitar a dívida e pôr fim à maldição. Teve, porém, uma grande decepção: ela tinha morrido e ninguém da sua família quis receber o dinheiro que lhe era devido.

O velho colorado Lamartine da Nóbrega, com mais de duas décadas de ligação com o União, nunca acreditou na praga da lavadeira. E garante que durante muitos anos o uniforme do clube foi lavado e passado em sua casa, por sua mulher e suas empregadas.

Folclore ou não, a torcida do União passou a acreditar cada vez mais na praga da lavadeira toda vez que o colorado disputava um título e perdia. Desesperados, alguns torcedores mais fanáticos e que acreditavam na história passaram a colocar, disfarçadamente, bilhetes e até cheques – sem fundo, claro…– nos bolsos de parentes que iam ser sepultados, pedindo para a lavadeira “suspender” a praga para o União ser campeão.
Muitos torcedores do União levavam a praga da lavadeira tão a sé¬rio que em 2008, quando morreu Afro Stefanini, ex-deputado estadual, ex¬-secretário da Casa Civil de Mato Grosso e velho cacique da política de Rondonópolis, que antes do seu sepultamento sua filha Amélia encheu seus bolsos de dinheiro para o pai, torcedor de primeira hora do União, acertar as contas com a lavadeira no além e acabar com a sua praga. Dinheiro vivo mesmo! Só não revelou o valor para evitar que ladrões violassem o túmulo do seu pai para pegar a grana…

Na realidade, o União ganhou um campeonato estadual, sim! Foi em 1975. Na rodada final do certame, o Dom Bosco ganhava do Comercial, de Campo Grande, em Cuiabá, por 1×0, resultado que garantiria o título da temporada ao colorado se o jogo entre União e Ubiratan, de Dourados, terminasse empatado.
Faltando 30 segundos para o jogo em Rondonópolis acabar, Gílson Lira fez 1×0 para o União. Não teve mais jogo. A torcida invadiu o campo para comemorar. Teve até volta olímpica dos jogadores no Estádio Luthero Lopes, festejando o título estadual com os torcedores. A festa pelo título tomou conta da cidade, avançou pela noite e varou a madrugada.

O autor

A torcida estava ainda sob efeito da ressaca da curtição da inédita conquista, quando na terça-feira chegou a Rondonópolis a notícia que fez a numerosa tribo colorada desabar e passar a crer, mais do que nunca, na praga da lavadeira: o Dom Bosco tinha perdido os pontos no tapetão e o Comercial seria proclamado campeão.

Não adiantou o União espernear: o Comercial provou que o jogador Mário Márcio, do Dom Bosco, tinha sido inscrito irregularmente e não poderia ter atuado.

O que se soube depois é que houve um trambique danado na FMD, com o preenchimento de uma nova ficha de inscrição do jogador dombosqui¬no para beneficiar o Comercial. Na lambança, teve gente que ganhou muita grana às custas da desgraça do União e do sofrimento dos seus torcedores…

Folclore ou não, o fato é que dois anos depois da partida de Afro Stefanini para outra vida, o União foi campeão estadual. Mas a gozação sobre a maldição da lavadeira certamente vai continuar. Pelo menos até o União virar o elástico placar de 8×1 favorável à lavadeira…

PS – Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino

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