Boa Midia

Em Cuiabá a igreja que era proibida aos negros

Procissão a São Benedito com a igreja aos fundos

Um dos símbolos de Cuiabá é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Construída por volta de 1730 numa elevação à margem esquerda do córrego da Prainha, onde Miguel Sutil descobriu o ouro que motivou a criação da cidade em 8 de abril de 1719.

Construída com a técnica da taipa de pilão, essa igreja é um dos marcos da típica arquitetura colonial brasileira e tem o interior barroco-rococó. Além de ser o mais antigo templo católico da capital, a Igreja de São Benedito (como é chamada na cidade) é ponto de atração turística e foi uma das roteiros da sede da Copa do Pantanal em 2014 em Mato Grosso.

Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1975, tombada pela Fundação Cultural de Mato Grosso em 1987 e incluída ao Perímetro do Centro Histórico de Cuiabá em 1993 a Igreja do Rosário e São Benedito passou por uma restauração que durou mais de dois anos e foi concluída em 2006. Essa obra custou R$ 1 milhão e foi bancada pela Monsanto, graças à intervenção do então secretário de Projetos Estratégicos de Mato Grosso, Clóves Vettorato, já falecido.

MONSANTO – Vettorato articulou junto a empresas, a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa) e o Banco do Brasil para que custeassem reformas e restaurações de igrejas e prédios públicos que abrigam museus e outros locais de visitação.

Na relação dos prédios que precisavam de recursos para  reforma Vettorato incluiu a Igreja do Rosário e São Benedito e foi juntamente com representantes da Monsanto discutir o assunto com o padre Roque Pedro Follmann, que respondia pelo templo. O sacerdote demonstrou alegria ao saber que sua igreja seria reformada, mas botou os dois pés atrás. “Com dinheiro da Monsanto, a multinacional dos transgênicos?” questionou e antes que os visitantes dissessem algo, emendou, “Da Monsanto não quero nada, não!”. Vettorato reagiu com firmeza: “Da Monsanto o senhor não quer nada, mas enquanto esteve em liberdade o Comendador João Arcanjo teve banco exclusivo em sua igreja para assistir missas e doava dinheiro para sua igreja. Vamos passar essa conversa a limpo na imprensa!”, o desafiou.

A igreja dos brancos com a capelinha dos negros ao lado
A igreja dos brancos com a capelinha dos negros ao lado

O diálogo entre o padre e o secretário começou azedo, mas terminou em sorrisos, abraços e o desembolso de R$ 1 milhão pela Monsanto, o que permitiu deixar a Igreja do Rosário e São Benedito nos trinques.

BICHEIRO – Arcanjo foi bicheiro e dono de cassinos em Mato Grosso. O Comendador João Arcanjo Ribeiro foi preso no Uruguai em abril de 2003 e extraditado ao Brasil, onde foi condenado por uma série de crimes; agora cumpre pena em liberdade.

RACISMO – O tema é tabu, mas a Igreja do Rosário foi um templo racista em Cuiabá. Negros não cruzavam suas portas. Para contemporizar com os negros católicos, a Santa Madre permitiu a construção da capela de São Benedito ao lado da igreja que era exclusiva para os brancos. Assim a denominação virou Igreja do Rosário e São Benedito.

Santo cultuado por cuiabanos, São Benedito recebe homenagens diárias, mas a maior de todas é uma procissão anual que percorre ruas centrais, durante uma festa a ele consagrada, que inclui rezas, quermesse, leilões e praça de alimentação.

 

Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 – Fablício Rodrigues em arquivo

2 – Guilherme Filho em arquivo

 

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