Especial UFR – Padre Lothar, evangelizador e semeador de moradias
Padre Lothar Bauchrowitz é uma abençoada mão evangelizadora que está sempre estendida no campo social. Há 53 anos a população carente encontra nele o amparo para prosseguir na jornada da vida
Rondonópolis, janeiro de 1979. Chuvas fortes transbordaram o rio Arareau na área urbana, onde desemboca na margem direita do rio Vermelho. As águas invadem casas e centenas de moradores ficam desabrigados. Padre Lothar Bauchrowitz se sensibiliza com a situação e consegue com o prefeito Walter Ulysséa alguns lotes da prefeitura nas vilas Ipê e Mariana, para construir moradias para os atingidos. Com essa iniciativa mais que resolver um problema o sacerdote encontrou o caminho da casa própria para desabrigados e carentes, que em 40 anos ultrapassa 3.100 moradias, que foram repassadas a necessitados.
Somente foi possível construir tantas casas assim, porque padre Lothar conta com apoio da Cáritas Diocesana, de órgãos governamentais e de mão de obra de mutirões com a participação dos beneficiários. O contemplado com a casa não a recebe gratuitamente, salvo os portadores de necessidades especiais, viúvas e alguns que se encaixam em outros grupos de necessitados. A chave da moradia é entregue mediante compromisso de pagamento de 10% do salário do chefe da família, durante 10 anos; em caso de doença ou desemprego as parcelas recebem quitação social. “Não podemos darrr o peixe; o serrr humano tem que saberrr pescarrr”, resume num sotaque de berço alemão que trouxe de sua terra, Königsberg, onde nasceu em 1º de julho de 1938.
Padre Lothar é uma das referências em Rondonópolis. Há 53 anos é pároco da Igreja São José Operário, em vila Operária, onde celebrou sua primeira missa em 15 de agosto de 1964, numa cerimônia com o bispo Dom Wunibaldo Talleur. Seu trabalho evangelizador e social começou em Rondonópolis; sua ordenação ocorreu em 28 de julho de 1963, na catedral de Mongúncia, na sua Alemanhã, pelo cardeal Volk.
O sacerdote revela que ao chegar a Mato Grosso morava na sede da então prelazia, na região central, e que durante três anos, de bicicleta, fazia o percurso de ida e volta à sua igreja da qual foi vigário e depois pároco.
Rondonópolis respeita padre Lothar por sua condição de evangelizador dedicado e que responde por uma paróquia com dezenas de comunidades numas das áreas mais densamente povoadas da cidade. Porém, sua atuação no campo social é que o fez mais conhecido no município e região. Além de construir mais de três mil casas, o sacerdote mantém um guarda-chuva social: Criou o Recanto dos Idosos, administra creches, mantém Clubes de Mães e o Albergue Noturno de Vila Operária, administra o Centro Social João XXIII (criado em 1969) e o Conselho de Desenvolvimento Distrital de Vila Operária (Condivo).
A porta da casa de padre Lothar, ao lado de sua igreja, na Avenida dos Bandeirantes, está sempre aberta e a sala repleta de pessoas em busca de auxílio e de quem vai até lá para ajuda-lo direta e indiretamente. Sua rotina é estafante. Celebra missas, faz batizados e casamentos, administra sua paróquia, promove eventos para arrecadar fundos e visita paroquianos e sua obra social. Ela se torna ainda mais estafante por se tratar de um homem com 79 anos e que recentemente enfrentou sério problema de saúde. Mesmo sem tempo aparente para outros tipos de atividades, em 2009, o sacerdote escreveu o livro, “Memória de um padre alemão em terras brasileiras”.
Além do reconhecimento da população pelo trabalho social singular de padre Lothar, a classe política também o reverencia. A cidade tem um bairro e um residencial com seu nome; uma taça de futebol para jovens foi denominada Padre Lothar; a Assembleia Legislativa lhe outorgou Título de Cidadão Mato-grossense e a Câmara Municipal lhe deu a Cidadania Rondonopolitana.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTO: Felipe Barros
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