Sempre à frente de seu tempo, o empresário e colonizador André Antônio Maggi transferiu a sede de seus negócios do Paraná para Rondonópolis e os expandiu por Mato Grosso, outros estados e o exterior. Nos anos 1980 fundou Sapezal. O Grupo André Maggi (Amaggi), seu legado à família, é um dos maiores do agronegócio mundial. Nascido em Torres (RS), filho de Antônio Maggi, italiano, e Carolina Lumertz, alemã, André Maggi morreu de acidente vascular cerebral, no Hospital do Coração, em São Paulo, no dia 22 de abril de 2001, aos 73 anos. Deixou a viúva Lúcia Borges Maggi e os filhos Blairo, Fátima, Vera, Marli e Rosângela, genros e netos. Seu corpo foi sepultado em São Miguel do Iguaçu (PR) após velório em Sapezal e Rondonópolis.

Homem íntegro e acostumado a cumprir os compromissos feitos ao fio do bigode, André Maggi renunciou ao cargo de prefeito de Sapezal depois que seu vice, Aldir Schneider e os vereadores decidiram receber salários para o exercício de seus cargos.

André Maggi se elegeu para a prefeitura de Sapezal em 1996, com 869 votos, pelo PDT, em candidatura única. Antes da posse combinou com Schneider e os vereadores que todos abririam mão de seus salários em benefício do município. Vítima de acidente o prefeito licenciou-se para tratamento médico fora de Mato Grosso. Ao retornar ao cargo se deparou com a quebra de palavra empenhada pelo vice e a vereança. Desgostoso, renunciou e o vice assumiu seu lugar. Em 2000, Schneider conquistou mandato de prefeito e se manteve na função por mais quatro anos.

PS – Sobre o colonizador André Maggi escrevi em 24 de abril de 2001, no Jornal Diário de Cuiabá, o texto abaixo:

 

Arado em outras mãos

 

A saga de André Antônio Maggi em Mato Grosso não termina com a doença que o vitimou no domingo passado, em São Paulo. A cada safra, a cada novo habitante em Sapezal, a cada resultado de melhoramento genético conquistado pela Fundação de Amparo à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), a cada comboio carregado de soja que singrar os rios Madeira e Amazonas rumo a Europa e Ásia, a cada fardo de algodão descaroçado seu tino empresarial se fará presente.

A visão empresarial de André Maggi encontrou o campo ideal para ser posta em prática no cerrado mato-grossense, onde ele revolucionou os conceitos da economia agrícola. E nenhum título lhe cairia melhor do que “O último bandeirante do século XX”, que lhe foi outorgado pela Fundação MT através de seu ex-presidente Gilberto Goellner.

Bandeirante que nos anos 1980 fundou Sapezal e arrastou grandes produtores para a maior área agricultável contínua do mundo, o Chapadão do Parecis. Que estimulou a pesquisa através da Fundação MT, em Rondonópolis, para assegurar produtividade de grãos e plumas. Que estabeleceu relação de confiança entre produtor e comprador de soja. Que lançou novos cultivares de soja no mercado. Que inovou em sistema de transporte utilizando hidrovia para escoar safra em larga escala.

André Maggi foi exemplo também fora da área da iniciativa privada, onde sempre se pautou pela pontualidade nos pagamentos, pelo respeito e valorização de seus incontáveis funcionários. Na vida pública, na condição de primeiro prefeito de Sapezal, demonstrou lisura e honradez no trato das finanças de seu município, a tal ponto que se viu obrigado a renunciar ao cargo por não compactuar com o subterrâneo do poder que lamentavelmente insiste em destruir ou corromper o político avesso à corrupção.

Ao setor produtivo primário André Maggi deixa um legado ímpar, que seguramente inspirará e motivará aqueles que entoam a canção da produção lavrando a terra de Itiquira a Guarantã do Norte, de Aripuanã a Barra do Garças, de Alto Taquari a Vila Rica, de Comodoro a São Félix do Araguaia.

À classe política deixa o exemplo do respeito ao erário público, algo que ao mesmo tempo é tão irreal por parte de mandatários quanto é intensamente desejado pelo povo brasileiro.

Mato Grosso despede-se de uma das figuras mais importantes de sua economia, de um dos principais agentes de seu desenvolvimento. Sapezal perde seu fundador e patrono. Rondonópolis fica sem sua referência no agronegócio. André Maggi entra para a história e ocupa lugar de destaque na galeria dos grandes colonizadores do Estado.

O colonizador, agricultor e empresário deixa o arado com os herdeiros e seus funcionários e seu corpo volta ao pó depois de cumprir sua missão na Terra. A viúva Lúcia Borges Maggi, filhos Blairo, Fátima, Rosângela, Marli e Vera, genros e netos perdem o convívio do patriarca. Mato Grosso ganha uma lenda, aquela que narra a vida de um filho de imigrantes pobres do Rio Grande do Sul e que se tornou o maior produtor de soja do mundo: André Antônio Maggi”.

 

Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes

FOTOS: Arquivo