“Ele arrancou minha orelha…”

O Mixto jogava no Dutrinha com o praticamente invencível Clube Atlético Mato-grossense pelo Campeonato Amador de 1954. Poderoso financeiramente, o Atlético enfraquecia os adversários contratando os melhores jogadores do mercado. Teve um ano que o time atleticano chegou a ter um plantel com 52 jogadores, um melhor do que o outro – recorda o za-gueiro Totó Traçaia.
No finalzinho do 1° tempo do jogo, o juiz marcou uma falta contra o alvinegro. Para desespero dos mixtenses, e, principalmente de quem estava jogando, João Bianchi se prepara para cobrar a falta.
Bianchi tinha um chute tão potente que nos tiros diretos, mesmo de longa distância, raramente um goleiro conseguia defender a bola. E nas cobranças indiretas, quando a bola passava pela barreira, a torcida atleticana já se levantava para festejar o gol. Não tinha erro.
O jogador atleticano, que chutava forte com as duas pernas, ajeitou a bola, tomou uma distância de uns 10 metros, correu e disparou seu canhão com o pé direito.
Quando a bola passou como um foguete na direção do gol, o baixinho ponta-de-lança Xonezinho, que havia sido chamado para ficar na barreira, saiu correndo desesperado pelo campo, com a mão cobrindo o ouvido esquerdo, e gritando: “Ele arrancou minha orelha…”, “Ele arrancou minha orelha…”
Foi só um susto. Na verdade, a bola chutada por Bianchi chegou a triscar a orelha esquerda de Xonezinho, dando-lhe a impressão que tinha sido arrancada mesmo. Depois de muito custo, os mixtenses conseguiram convencer o companheiro que sua orelha continuava no lugar, bem pregadinha na sua cabeça…
Superado esse problema, os mixtenses tiveram que enfrentar um bem pior nos vestiários no intervalo do jogo: Xonezinho tirou o uniforme e não queria de jeito nenhum voltar a campo para disputar o 2º tempo, com medo do demolidor chute de Bianchi. E Xonezinho ficar na barreira em cobranças de faltas com Bianchi em campo, nunca mais. Nem por decreto de Deus…
PS – Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino
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