Boa Midia

Efeito ao contrário do congá

Mixto e Dom Bosco iam disputar um jogo de vida ou morte para ambos pelo Campeonato Cuiabano de Futebol de 1972. Na sexta-feira que precedeu o jogo, a diretoria do Mixto, presidida por Silvino Moreira da Silva, resolveu levar os jogadores para uma sessão de descarrego com um famoso macumbeiro cujo terreiro ficava num cerradão às margens de um riacho tributário do córrego Gumitá, onde fica hoje o Centro de Ressocialização do Carumbé.

O quarto zagueiro Glauco – que não acreditava que forças do além pudessem influir em resultados de futebol – não queria ir, mas acabou cedendo à pressão de companheiros que insistiam para ele dar uma força ao ma¬cumbeiro e ao alvinegro. Afinal, a vitória era muito importante para o Mixto.

Naquela época Glauco morava no Bairro Popular. Já passava das 21 horas quando Torquatinho, filho do coronel-dentista e vice-presidente do alvi¬negro Estevão Torquato da Silva, passou em sua casa para levá-lo para o descarrego, onde ia se juntar a outros grandes jogadores como Felizardo, Rômulo, Fulepa, Filinto, Darci Avelino e tantos outros para a macumba…

O autor

As horas avançavam e nada do “trabalho” começar. Só por volta da meia-noite o pai de santo Itaís Conceição, que morreu anos depois em um acidente de carro na Avenida Fernando Correa da Costa, em um carnaval, decidiu iniciar a feitiçaria para blindar o Mixto e assegurar sua vitória.

A sessão não demorou muito, porque o caboclo que o pai de santo incorporava se recusava a baixar no terreiro. Motivo: entre os jogadores ali presentes havia alguém – supostamente o próprio Glauco – com o “corpo fechado”.

Apesar do “trabalho” não ter demorado muito, os mixtenses saíram cansados do terreiro, onde rolou de tudo no despacho: vela preta, queima de pólvora, sangue de bode, costura de boca de sapo vivo com os nomes dos jogadores adversários num papel dentro do batráquio…

Chegou o dia esperado do confronto. Com os jogadores do Mixto apáticos e aparentemente cansados, o Dom Bosco foi metendo bola em suas redes. Fim do jogo e vitória por goleada do azulão pelo placar de 5×0.

Ninguém entendeu nada do que tinha acontecido com os mixtenses.

Na terça-feira seguinte, os jogadores do Mixto foram fazer um individual no campo do Colégio Estadual, hoje Liceu Cuiabano, para relaxar. De repente, surge no treino o macumbeiro Itaís da Conceição.

Claro que os jogadores correram para cima dele, exigindo uma ex¬plicação para a humilhante goleada que o Mixto havia sofrido diante do Dom Bosco. E o macumbeiro, na maior tranquilidade, disse simplesmente:
– Se não fosse a força do meu “trabalho”, seria de dez…

PS – Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino.

Comentários estão fechados.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está bem com isso, mas você pode optar por sair, se desejar. Aceitar Leia Mais

Política de privacidade e cookies