JURUENA – Educação Ambiental é tema de seminário

JURUENA – “A Educação Ambiental tem ações efetivas na formação das pessoas porque questiona os modelos de ocupação”. A frase, de Daniel Munduruku, doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de diversos livros sobre a temática indígena, deu o tom do III Seminário de Educação Ambiental, promovido pelo Projeto Poço de Carbono Juruena em parceria com a Universidade de Estado de Mato Grosso (Unemat), na cidade de Juara em 07 e 08 de dezembro, que contou com a participação direta de 240 pessoas.
Patrocinado pela Petrobras e pelo governo federal, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, o projeto Poço de Carbono, executado pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena (Aderjur), firmou parceria com a Unemat, para desenvolver o projeto de extensão ConTextos ambientais Juruena-Juara: formação docente de 66 professores indígenas e da rede pública em Educação Ambiental. O evento é uma das etapas desta parceria.
A partir de sua vivência e reflexões, Munduruku, que atualmente vive no interior de São Paulo, abordou vários mitos em relação aos povos indígenas. Ele lembrou que é um erro dizer que os indígenas atrapalham o desenvolvimento. Na verdade eles, além de serem resistência em relação ao modelo de ocupação, também ajudam a conservar grande parte das florestas.
Outra abordagem apresentada por Munduruku é de que a maioria dos brasileiros olha para os índios como pessoas seres do passado. “As pessoas repetem esse discurso e esquecem que somos contemporâneos, e isso afasta os não-índios de nós”, explica, afirmando que muitas e ricas trocas culturais se perdem por conta disso.
E um dos exemplos mais importantes está no modelo de Educação Indígena, em que o processo educativo não faz separação entre os saberes. Ou como ele explica: “Quando a criança está brincando, ela está aprendendo a lidar com o meio ambiente”, finaliza.
Sensibilizar adultos e conscientizar crianças
“A formação em Educação Ambiental é fundamental para o entendimento de como as proposições trazidas pelo projeto para a comunidade dialogam com muitas das questões que estão sendo trabalhadas pelos professores em sala de aula, resultando em maior empoderamento dos professores e alunos pelas atividades do projeto, seu maior alcance para as famílias e sua sustentabilidade em longo prazo”, explica Paulo Nunes, coordenador do projeto Poço de Carbono Juruena.
Já a doutora Edneuza Trugillo, da Unemat de Sinop, explicou que a Educação Ambiental precisa ter um caráter transversal e interdisciplinar e que não precisa acontecer necessariamente em sala de aula. Isso confirma as experiências dos trabalhos realizados com os professores e alunos das escolas indígenas e públicas de Juara e Juruena e que foram apresentados na programação paralela do seminário.
Em um dos trabalhos desenvolvidos ao longo do ano, por exemplo, foi apresentada uma ação de jardinagem com arte e sustentabilidade. Ao todo, foram envolvidos 150 alunos da Escola Estadual Dom Aquino Correia, em que foram feitas visitas ao viveiro de Juruena para escolhas de mudas que seriam plantadas na escola. Além disso, para trabalhar o afeto, os alunos fizeram mini-ikebanas. Ikebanas são arranjos florais com base em simbolismos. A escola foi arborizada com plantas diversas e pneus velhos foram pintados para servir de vasos.
Por fim, Reginaldo da Costa, professor do Centro de Formação e Avaliação dos Profissionais da Educação Básica de Sinop, explicou a importância de que a Educação Ambiental seja adaptável a cada realidade. Ou seja, não dá para lidar com questões como desperdício de água ou descarte de resíduos do mesmo modo em uma escola de uma grande cidade, de uma cidade do interior ou de uma escola rural ou indígena.
Estas diferenças foram trabalhadas com centenas de alunos pelos professores das escolas rurais e urbanas de Juruena, além dos professores da Terra Indígena Apiaká-Kayabi, de Juara.
Poço de Carbono Juruena
O projeto Poço de Carbono Juruena, patrocinado pela Petrobras e desenvolvido pela Aderjur, busca oferecer alternativas sustentáveis de renda aos agricultores familiares e povos indígenas.
O projeto apoia o extrativismo da castanha-do-Brasil em vários municípios do Noroeste de Mato Grosso. Promove a educação ambiental para a gestão e conservação dos recursos naturais. Também incentiva a diversificação de cultivos na recuperação de áreas por meio de sistemas agroflorestais em pequenas propriedades de Juruena. Dessa forma, os agricultores têm diversas opções de cultivos e uma renda garantida e melhor distribuída ao longo do ano. Além do benefício econômico, os sistemas agroflorestais “imitam” o comportamento da floresta, armazenando carbono e ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
André Alves com foto divulgação
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