Desafios para Max e o que 20 líderes fazem (ou fizeram) por seus municípios
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com

BR-364. Km 278. Município de Jaciara. A rodovia, duplicada antes e depois daquele trecho ganha formato de funil voltando ao tempo de sua pavimentação nos anos 1970, pelo presidente Emílio Garrastazu Médici. Reduzo bem a velocidade. Carretas sobem lançando fumaça sobre o morro à direita de quem segue para Cuiabá; na direção oposta, descendo, escuta-se o ranger das lonas de freio dos pesadões deixando no ar o impregnado cheiro de produto químico queimado. A região é caminho da minha roça há meio século – antes mesmo do asfalto – mas, não pela familiaridade que sempre desmotiva a observação, continuo rumo a Rondonópolis, tendo em mente meu colega de Comunicação e ex-vizinho na rua Jaime Fernandes Costa, Hermínio Barreto, que entrou para a política, foi vereador, prefeito rondonopolitano e deputado estadual em incontáveis legislaturas. Em 9 de maio de 2018 Barreto e seu cunhado Ailton Pereira dos Santos, o Ita, viajavam num Jeep Renegade para Rondonópolis e uma carreta desgovernada passou sobre o veículo deles e ambos morreram no local. O cenário naquele ponto leva-me à Max Russi, o principal líder político de Jaciara em todos os tempos; leva-me, também, a outras lideranças Mato Grosso afora.
Entendo que jornalista precisa cobrar, sugerir, criticar. Porém, a Imprensa mato-grossense adota uma postura complacente com seus anunciantes que dominam os poderes políticos. Assim, o leitor recebe informação de que tudo vai bem e ainda é obrigado a engolir desmedidos elogios aos donos do poder. Isso resulta no descrédito da profissão e em alguns casos ajuda a moldar angelicalmente figuras papudáveis. Agindo dessa forma o jornalismo é engolido pelas redes sociais, que mesmo moderadas sobre assuntos locais, costuma mostrar fatos que nos idos da vergonha na cara deixariam redações distantes do espelho.
Focalizando Max e outros líderes, vejamos o que cada um fez (e faz) ou deixa de fazer por seu município. A intenção não é municipalizá-los, mas estampar como eles se relacionam com seu berço. Que ninguém venha argumentando que o político tem que manter visão de estado e não pode se deixar levar por sentimentos menores, em benefício de sua terra. A milenar sabedoria popular nos ensina: Mateus, primeiro os teus. Quem não tem o olhar voltado para sua cidade, bairro e rua caminha na contramão do sentimento humano. Aleatoriamente e sem prevalência, o desempenho de 20 políticos com dimensão estadual, eleitos após a divisão territorial que criou Mato Grosso do Sul – e os que exerceram mandato antes daquele fato, mas que permanecem na vida pública, e excluindo os governadores biônicos.
A eles:
Jaciara – Max Russi (PSB) – Vereador campeão de votos, presidente da Câmara, duas vezes prefeito, deputado em terceiro mandato, ex-secretário de Estado em duas áreas no governo de Pedro Taques e presidente da Assembleia, Max é um dos principais líderes políticos estaduais. Não se pode descartar sua candidatura para governador, com reais chances de eleição. Porém, avalio que o deputado deve muito a Jaciara e ao Vale do São Lourenço, onde se situa.
A duplicação da BR-364 (é trecho coincidente com a BR-163) no KM 278 está inserida na obra nunca iniciada do contorno de Jaciara. É o único trecho entre Cuiabá e a divisa com Mato Grosso do Sul em pista simples. Todos sabem que Max é o líder na região e de igual modo os mesmos podem pensar: ele não tem prestígio ou força política para duplicar, ou segura o projeto para manter o trânsito de longa distância em sua cidade, como comerciantes da avenida Ministro João Alberto fizeram por mais de 30 anos em Barra do Garças, travando a construção do anel viário Barra/Pontal do Araguaia/Aragarças (GO)?
Max tem que botar a faca no peito do presidente Lula e cobrar o contorno. Se não conseguir, será demonstração de fraqueza. Espero que a obra saia.
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Jaciara, Dom Aquino, São Pedro da Cipa e Juscimeira compõem o Vale do São Lourenço. Dentre os 52.211 moradores na área, os pacientes regulados pelo SUS, quando necessitam de atendimento médico de alta complexidade são levados para o Hospital Regional e a Santa Casa de Maternidade, ambos em Rondonópolis. É o turismo de saúde que impera em Mato Grosso, e que em algumas regiões percorrem centenas de quilômetros entre o domicílio e o leito hospitalar. É preciso virar esta página. Max tem que exigir a construção do Hospital Regional do Vale do São Lourenço Dr. Arnildo Helmut Sulzbacher (torço por este nome), obra modular para receber ampliações de acordo com o aumento populacional.
Os altos e baixos dos demais
Paranatinga é o berço do clã Bezerra.
Carlos Bezerra (MDB) acumulou mandatos, inclusive de governador, além de comandar regionalmente o MDB, partido que sempre esteve grudado no poder. Mesmo assim, Bezerra não resolveu as duas maiores demandas de Paranatinga: a pavimentação da MT-130 no trecho de 140 km entre aquela cidade e a BR-070 em Primavera do Leste; e também não conseguiu sequer amenizar o cenário agrário de terra arrasada naquele município maior do que Sergipe, por falta de regularização fundiária pelo Incra e o Intermat.
Uma lástima a relação de Bezerra com Paranatinga, município com mais de 26 mil habitantes, na região central do Estado, e que está a um passo de ser o elo rodoviário entre o Nortão e a ferrovia Rumo, que em breve terá um terminal para embarque de commodities perto de Campo Verde e Primavera do Leste.
Bezerra nasceu em Chapada dos Guimarães, município ao qual Paranatinga pertencia. Porém, seu governo passou distante de seu berço natal.

Rosário Oeste – Pedro Taques nasceu em Cuiabá pois à época de seu parto não havia maternidade em Rosário Oeste, a cidade de sua família. Ele é o que se chama rosariense ausente.
Senador e governador, Pedro Taques não voltou seu olhar para Rosário Oeste. Não deixou sua marca parlamentar nem sua atuação administrativa por lá.
Rosário Oeste dista 100 km de Cuiabá, é um dos municípios da chamada Baixada Cuiabana, e registra péssimos indicadores econômicos e sociais. Com o mínimo de sensibilidade por parte do governante seria possível melhorar a qualidade de vida da população, agora com pouco mais de 15 mil habitantes.

Cáceres, pantanal – Márcio Lacerda é corumbaense e portanto não nasceu em Cáceres, mas é cacerense desde criança. Márcio exerceu diversos cargos eletivos e presidiu a Funai.
Quando senador foi ao presidente José Sarney e exigiu que seu município estivesse entre os que seriam contemplados com a criação de Zona de Processamento de Exportação (ZPE). Em 7 de março de 1990, Sarney botou o jamegão dando vida formal à ZPE de Cáceres, num ato na presença do vitorioso senador pantaneiro.
Márcio não tem culpa pela demora na instalação da ZPE, que acontece 35 anos depois.
Juína – Ságuas Moraes antecipou o desenvolvimento de Juína, até então um município territorialmente grande, centro de extração de diamante comercial e que originalmente foi um polo cafeeiro. No entanto, Ságuas nunca admite o que fez, pois o bom cabrito não berra.
Ságuas é médico pela UFMT, foi prefeito de Juína em dois mandatos, ocupou os cargos de deputado estadual, deputado federal e secretário de Estado de Educação, sempre pelo PT. Todos em sua cidade sabem que foi ele quem levou o Instituto Federal de Educação (IFMT) e a agência da Caixa Econômica Federal para lá, mas não é de domínio público sua maior conquista.
Blairo Maggi assumiu o governo em janeiro de 2003 debaixo de críticas do PT nacional. Blairo precisa acalmar o lulismo, tanto em defesa de Mato Grosso quanto de seus negócios. Ságuas era deputado estadual entrou em cena. Juína não tinha acesso pavimentado, o que atravancava seu crescimento e desenvolvimento. Na conversa com Blairo seu município foi incluído ao programa Estradeiro, que basicamente pavimentava rodovias em parceria com associações de produtores rurais. Porém, o perfil dos proprietários ao longo do trajeto de 350 km até Campo Novo do Parecis não era animador para levá-los a participar do custeio da obra. Mesmo assim, Blairo deu o sinal verde para retirar Juína do isolamento, e o anunciou numa visita àquele município, à frente de uma expedição chamada Estradeiro. Ságuas, colado no governante, sorriu vitorioso.
O asfalto chegou. Juína passou a respirar progresso. Blairo e Lula começaram a viver uma lua de mel política que nunca teve fim.
Ságuas jura que aposentou politicamente. Exerce a medicina em Juína.
Nossa Senhora do Livramento – Embaixador Roberto Campos foi uma das referências mundiais em economia. Papa banana de Livramento, Roberto de Oliveira Campos foi embaixador, membro da Academia Brasileira de Letras, articulista, ministro do Planejamento de Castelo Branco, um dos fundadores do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), criou e presidiu o BNDES. Idealizou o FGTS, o Banco Central e o Estatuto da Terra, que vigorou até 2012 quando foi sancionada a lei do Código Florestal.
Em 1982 se elegeu senador por Mato Grosso e após o Senado, por duas vezes foi deputado federal pelo Rio de Janeiro.
Graças ao embaixador Roberto Campos Mato Grosso conseguiu o financiamento internacional que permitiu seu grande salto desenvolvimentista implementando os programas Cyborg e Carga Pesada; com o primeiro levou pavimentação a todas as regiões; e com o outro construiu linhões para transmissão de energia elétrica de Cachoeira Dourada (GO) para Cuiabá e dezenas de outras cidades.
Rondonópolis – Wellington Fagundes (PL) nasceu naquela cidade. Cumpriu seis mandatos consecutivos de deputado federal, por curto tempo foi secretário de Estado e exerce o segundo mandato no Senado. Sua carreira política começou na Prefetura de Rondonópolis, onde exerceu o cargo de secretário, nomeado pelo prefeito e seu primo Hermínio Barreto.
Considerado político municipalista, Wellington não destinou recursos significativos nem canalizou obras para Rondonópolis, muito embora teime em se apresentar enquanto pai da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), que é uma conquista coletiva, que movimento a cidade durante décadas, e que foi criada pelo presidente Michel Temer, em parte pela importância do município e de seu polo de influência.
Várzea Grande – Júlio Campos (União). Em 1973 Várzea Grande tinha 22 mil habitantes e a cidade era considerada dormitório de Cuiabá. Júlio Campos se elegeu prefeito e criou o ambicioso título de Cidade Industrial para atrair investidores. Da prefeitura para a Câmara dos Deputados e para o Palácio Paiaguás foi um pulo.
Município pequeno territorialmente para os padrões mato-grossenses, Várzea Grande tem 939,887 km² e acanhada atividade agropecuária. Mesmo assim, por sua atuação política Júlio Campos convenceu a Sadia a instalar seu frigorífico de aves em sua cidade, enquanto as granjas que o abastecem localizam-se no município de Campo Verde, distante 140 km. A Sadia globalizou, virou Marfrig Global Foods, líder mundial em hambúrgueres sendo que sua planta várzea-grandense produz a carne do hamburger vendido pela rede McDonalds no mundo inteiro.
O líder tem que ir além do convencional em defesa de sua terra. O boom industrial impulsionou o desenvolvimento de Várzea Grande, ora com 315 mil habitantes e importante centro comercial de veículos, máquinas agrícolas, construção civil, autopeças e insumos para o agronegócio.
Em obras rodoviárias de abrangência estaduais, Júlio Campos interligou Várzea Grande a Sinop e Colíder (BR-163 e MT-320), e a Cáceres, Pontes e Lacerda, Comodoro e Vilhena (RO) pela BR-070/174/364.
Júlio Campos, o homem que impulsionou a transformação econômica se elegeu deputado estadual pelo União Brasil, em 2022 e exerce a vice-presidência da Assembleia.
Barra do Garças – Valdon Varjão foi cartorário e escritor imortal das academias Mato-grossense de Letras e Maçônica de Letras. Exerceu vários mandatos. Idealizou a construção de um discoporto no topo da Serra Azul, diante de sua cidade, argumentando que nele pousariam naves interplanetárias tripuladas por ETs.
A ideia do discoporto foi incentivada pelo empresário e dirigente sindical barra-garcense Vasco Mil-Homens Arantes. O anúncio do discoporto ganhou manchetes nacionais na Folha de S. Paulo, Veja, Estadão, Jornal do Brasil e o O Globo; Valdon e Vasco participaram do Programa do Jô.
O discoporto, no entanto, nunca mereceu destaque e sempre foi deixado à margem pela prefeitura. Revistas e jornais regiamente contratados para a divulgação da Barra, ao invés de levá-lo para a capa, dão destaque ao prefeito, ao secretário curuscuba e às primeiras-damas.
Assim, o misticismo da cidade com os melhores roteiros turísticos de Mato Grosso é mantido debaixo do tapete sem aproveitar seu misticismo e o desaparecimento do coronel inglês Percy Harrison Fawcett, em 1925, na região da Serra do Roncador.
Lucas do Rio Verde – Carlos Fávaro (PSD) não nasceu em Lucas, mas passou a maior parte de sua vida naquela cidade, de onde saiu de um assentamento e chegou ao cargo de ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Ex-vice-governador e cumprindo o segundo mandato de senador (ora licenciado) Fávaro é a grande ausência política em Lucas.
Na vice-governadoria e no Senado, Fávaro não tomou conhecimento de Lucas. No ministério continua na mesma toada. Na semana passada, Fávaro acompanhou o presidente Lula no lançamento do programa Solo Vivo, para a agricultura familiar. O ato aconteceu no assentamento Santo Antônio da Fartura, onde Lula destinou 40,8 milhões para agricultores familiares em 10 municípios, sem incluir Lucas e os municípios em seu entorno.
Juara – José Riva foi prefeito do município e por 20 anos controlou a Assembleia Legislativa ora em sua Presidência ora na 1ª Secretaria e a Imprensa o chamava de Maior Ficha Suja do Brasil. Alcançado pela Lei Ficha Limpa Riva não disputou a eleição em 2014.
Preso algumas vezes Riva fez delação premiada homologada pelo desembargador Marcos Machado (TJ); assumiu que liderou um rombo de 175 milhões nos cofres da Assembleia, devolveu 92 milhões e recebeu pena de 4 anos em prisão domiciliar.
No longo ciclo no poder, Riva elegeu seus irmãos Priminho Riva e Paulo Rogério Riva, respectivamente prefeito de Juara e Tabaporã, por duas vezes, cada. Seu ritmo de presença na Assembleia era intenso: costumava chegar às 6 horas e permanecia até 21 ou 22 horas. Era elogiado porque atendia todas as ligações, e quando não podia fazê-lo, as retornava.
Porém sua força política não contribuiu para o desenvolvimento de Juara. Um dos maiores rebanhos bovinos do Brasil pasta em Juara, o que torna o município dependente da viação executiva, mas Riva não conseguiu pavimentar a pista do campo de pouso da cidade – o que aconteceu após sua saída do poder, mas ainda não há balizamento nem iluminação noturna. Coincidentemente, no período de Riva, Mato Grosso ganhou pistas pavimentadas em Nova Mutum, Porto Alegre do Norte, Sorriso, Pontes e Lacerda, Campo Verde, Lucas do Rio Verde, Matupá, Água Boa e outras cidades.
No setor de transporte, a MT-220 e a Estrada da Baiana, que dão acesso à Juara, não tiveram sua pavimentação concluída enquanto Riva esteve no poder.
Na área da Educação Riva não teve bom desempenho em seu município. No ciclo de seu poder Mato Grosso recebeu vários institutos federais de Educação (IFMT), mas Juara não foi contemplada, por falta de alguém para reivindicar em seu nome. Em suma: os mandatos de Riva passaram ao largo em Juara.

Barra do Garças – Wilmar Peres de Farias nasceu na Barra, filho de pioneiro do lugar, foi vereador, prefeito e dois mandatos, deputado estadual, deputado federal, vice-governador e governador substituindo o titular Júlio Campos que deixou o cargo para se candidatar e vencer a eleição para deputado federal.
Wilmar passou pela vida pública sem deixar sua marca na Barra, quando prefeito e governador.
Na Câmara dos Deputados, Wilmar acompanhou a maioria da bancada federal mato-grossense que votou pela cassação do presidente Fernando Collor; sete foram favoráveis e somente João Teixeira (PL) não compareceu, porque havia assumido compromisso com Collor de apoiá-lo.
Wilmar morreu na Barra, em 15 de março de 2006, aos 66 anos, vítima de um infarto. Sua viúva, Cândida Farias (MDB) ocupa a única suplência do senador Jayme Campos (União). Beto Farias, filho de Wilmar, por duas vezes foi prefeito daquele município.
Lucas do Rio Verde – Otaviano Pivetta (Republicanos) é governador reeleito, foi deputado estadual, secretário de Estado de Desenvolvimento Rural e por três mandatos prefeito de Lucas. No governo Pivetta não realizou nada significativo para sua cidade; todos os programas do governo dirigidos para lá foram entregues pelo governador Mauro Mendes (União), na tentativa de desqualificá-lo politicamente. No entanto, na prefeitura, Pivetta realizou administrações positivas.
As escolas municipais de Lucas inspiraram Blairo Maggi quando governador a criar o programa Escola Atrativa – e nenhum leva nome de político. Toda a área urbana foi pavimentada e criou-se a guarda municipal. Pivetta provocou Blairo a lançar o programa Estradeiro em parceria com produtores rurais e prefeituras, e inovou pavimentando estradas municipais que recebem o nome de Agroestrada.

Cuiabá – Dante de Oliveira foi deputado estadual, duas vezes prefeito de Cuiabá – onde nasceu – deputado federal, ministro de Estado e duas vezes governador. Ganhou dimensão nacional pela autoria da emenda que pedia eleição direta para presidente, a famosa Diretas Já.
Na prefeitura teve administrações apagadas. No governo, construiu o gasoduto Bolívia-Mato Grosso, que transporta o gás natural boliviano para Cuiabá, mas não permitiu a instalação de um city gate em Cáceres, que é o ponto de entrada no Brasil. Com o gasoduto Mato Grosso ganhou a termelétrica Mário Covas, construída por um grupo americano e mais tarde vendida aos irmãos Batista da JBS. Também no governo Dante construiu a ponte estaiada Sérgio Motta, sobre o rio Cuiabá, ligando a capital a Várzea Grande; essa obra foi incluída ao programa de Perenização de Travessias, financiado junto ao banco italiano Sanpaolo.
O governo de Dante criou programas de abrangência estadual e instituiu uma vigorosa fonte de receita extraorçamentária, o Fethab, fundo originalmente criado para financiar o transporte e a habitação, mas que foi desfigurado e direcionado para outras áreas. Porém, especificamente para Cuiabá não houve forte presença administrativa.

Várzea Grande – Jayme Campos (União) é várzea-grandense e foi prefeito em três mandatos que somam 14 anos. Por quatro anos Jayme governou Mato Grosso. Ao todo são 18 anos administrando diretamente com sua cidade, mas nesse período Jayme não resolveu a maior demanda do município: o abastecimento de água; além disso, também não conseguiu dar em concessão uma rodoviária para a segunda maior cidade mato-grossense, com mais de 315 mil habitantes.
Jayme executou importantes obras em Várzea Grande, que sob sua administração avançou na regularização fundiária, na saúde, na segurança com a criação da guarda municipal e em outras áreas, mas a falta d’água permanece como a maior dor de cabeça coletiva em Mato Grosso.
Senador no segundo mandato alternado, Jayme também não conseguiu junto ao governo federal a duplicação da Rodovia dos Imigrantes (BR-070) no trecho urbano e suburbano de 28 km entre Cuiabá e Várzea Grande. Esta rodovia permanece como uma cunha a dividir Várzea Grande.
O governo de Jayme é bem avaliado. Nele houve avanço em todas as áreas, sobretudo no ensino superior, com a criação da Universidade do Estado (Unemat); no transporte, com a pavimentação ligando Colíder a Alta Floresta, o que exigiu a construção de uma ponte sobre o rio Teles Pires; na segurança, com o aumento do efetivo policial e a construção do Quartel General da Polícia Militar chamado de Forte Apache; e a contratação da implantação do linhão de transmissão de energia que interligou Alta Floresta e cidades da região ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Sapezal – Blairo Maggi residia em Rondonópolis quando se elegeu governador em 2002. Porém, Sapezal é considerada a cidade da família Maggi, uma vez que o lugar foi fundado pelo pai de Blairo, o empresário André Antônio Maggi, que foi o primeiro prefeito daquele município.
Blairo foi governador dedicado a Sapezal, que antes de seu primeiro mandato no Palácio Paiaguás (Blairo foi reeleito em 2006) era isolado por falta de acesso pavimentado. Blairo moveu céus e terra em Brasília, onde conseguiu federalizar a malha rodoviária de acesso àquele lugar. Com isso as estradas estaduais viraram BR-364. A mudança foi boa para a região e também para o grupo empresarial Amaggi, da família Maggi. Isso, porque a mudança permitiu a consolidação de um corredor pavimentando ligando o Chapadão do Parecis ao porto da Amaggi em Porto Velho (RO) num trajeto de 900 km, por onde a Amaggi escoa soja e outras commodities para a Hidrovia Madeira-Amazonas, que liga Porto Velho a Itacoatiara (AM), onde acontece o transbordo ao largo para navio Panamax, e parte dos grãos é esmagada pela indústria de óleo da mesma empresa.
Sapezal ganhou não somente um acesso pavimentado a partir de Cuiabá e uma saída para Campos de Júlio, Comodoro e Rondônia, mas também a Rodovia do Índio, que cruza a terra indígena dos Parecis e faz a ligação de Sapezal com Campo Novo do Parecis (108 km ). Essa malha viária tem o dedo de Blairo, que também destinou grandes investimentos em obras estaduais para seu município.
Situada no Chapadão do Parecis numa área agricultável, Sapezal é um dos polos do agronegócio brasileiro e sua população ultrapassa 29 mil habitantes. A cidade é bem planejada, tem modernas construções, um comércio intenso e oferece boa qualidade de vida. O município é um bom exemplo de urbanismo.
Santo Antônio de Leverger – Jonas Pinheiro era veterinário do governo estadual e ligado ao meio rural. Em 1982, 1986 e 1990 se elegeu deputado federal e passou a ser considerado porta-voz da agropecuária na Câmara. Em 1994 e 2002 foi eleito senador, e virou uma espécie de padrinho do agronegócio – nova nomenclatura da agropecuária.
Jonas Pinheiro morreu numa UTI em Cuiabá no dia 19 de fevereiro de 2008, com falência múltipla de órgãos em decorrência do diabetes. Sua cadeira foi assumida pelo suplente, o empresário e engenheiro agrônomo Gilberto Flávio Goellner.
Nos meios ruralistas era comum se ouvir que todos sabiam o número do celular de Jonas Pinheiro, que sempre estendia a mão em defesa do segmento. Seu prestígio era tanto, que a seu pedido os ruralistas elegeram sua mulher, Celcita Rosa Pinheiro, deputada federal
Porém, em Leverger, onde nasceu e cresceu, a atuação dele nunca aconteceu. Não existe na cidade e na zona rural nenhuma obra ou projeto social de autoria do filho mais ilustre do lugar, Jonas Pinheiro.
Matupá – Silval Barbosa é paranaense, foi prefeito de Matupá, deputado estadual por dois mandatos e presidente da Assembleia, vice-governador e governador substituindo o titular Blairo Maggi que em março de 2010 deixou o cargo para disputar e vencer a eleição ao Senado, e sendo eleito naquele ano para um mandato de quatro anos.
Silval na prefeitura teve administração apagada, pois administrava um município pequeno e praticamente sem receita própria. No governo priorizou sua cidade, onde pavimentou a pista de pouso transformando-a em aeroporto; no transporte iniciou a pavimentação da MT-322 da malha que liga as rodovias federais BR-163 (em Matupá) e BR-158 (em Confresa). O trecho da MT-322 entre Matupá e São José do Xingu é de 285 km e sofre barreiras ambientais por cruzar área próxima ao Parque Indígena do Xingu e a Terra Indígena Capoto/Jarina, mas sem avançar por suas terras – a rodovia foi locada entre os dois territórios, mas a pressão ambiental insiste afirmando que parte do trajeto é sobre terras indígenas.
Na cidade Silval também investiu firmando parcerias e convênios com a prefeitura. Seu governo foi marcado por escândalos, com a participação de dezenas de figurões políticos de vários partidos, mas não se pode misturar as coisas. No aspecto da relação com seu município Silval tem saldo positivo.

Cuiabá – Mauro Mendes (União) é goiano, engenheiro elétrico, foi prefeito de Cuiabá e cumpre o segundo mandato consecutivo de governador; foi derrotado uma vez para prefeito e outra para o governo. Em 2016 terminou mandato de prefeito e ele não tentou a reeleição.
Na prefeitura Mauro cumpriu mandato discreto, porém foi eficiente na recuperação de ruas com asfalto danificado, mas não avançou na saúde, que permanece um verdadeiro caos. Sua administração deixou o Hospital Municipal de Cuiabá em fase adiantada de construção.
Na área do lazer o prefeito Mauro construiu o Parque das Águas Júlio Domingos de Campos – Seo Fiote, que é um dos principais pontos de lazer da capital. Em fase final de construção pelo governo, o Parque Novo Mato Grosso, numa área de 300 hectares doados pelo empresário Eraí Maggi Scheffer, tem uma pista de motocross, vaga para 15 mil veículos e contará com a maior roda gigante da América Latina, com 108 metros de altura e sua capacidade é para receber público de até 100 mil pessoas para multieventos.
No governo Mauro meteu os pés pela mão com a obra do VLT, que manteve paralisada durante antes e decidiu mudar aquela matriz de transporte transformando-a em BRT, o que para tanto levou o governo a vender para Salvador os vagões e as locomotivas do VLT que estavam num depósito em Várzea Grande. Agora, nem VLT nem BRT. A construção do segundo não cumpriu o calendário e nem mesmo a mais experiente cigana arrisca dizer quando a mesma será concluída e a que custo.
Mauro retomou a construção do Hospital Central de Cuiabá, iniciada nos anos 1980 no governo de Júlio Campos, paralisada e em parte do tempo judicializada. A construção primeiro foi retomada pelo governador anterior, Pedro Taques. Mauro promete cortar a fita em setembro, mas não há motivo para se comemorar naquele mês, pois o mesmo marcará o fim da administração do governo no Hospital Estadual Santa Casa, que será canibalizado pela nova unidade hospitalar. Ou seja, Mauro vai vestir um santo e desvestir outro.
Ainda sobre Cuiabá, Mauro concluiu uma ponte sobre o rio do mesmo nome ligando a capital a Várzea Grande, mas não avançou com a duplicação da MT-251 para Chapada dos Guimarães.
O governo de Mauro sangra em dois escândalos: o esquema fraudulento de perfuração de poços pela estatal Metamat e uma fraude que seria bilionária em operações fraudulentas em créditos consignados para mais de 65 mil servidores ativos e inativos. Ambos estão abafados na Imprensa e nenhum consegue sacudir a Assembleia Legislativa para a instalação de CPI.

Rondonópolis – Rogério Salles, paranaense, empresário do agronegócio, foi vice-governador de Dante de Oliveira, que em 2022 deixou o cargo para disputar o Senado, sem sucesso. Rogério concluiu o mandato, basicamente com o mesmo secretariado de Dante e com o governo atolado até a medula com a eleição do ex-governador. Nesse cenário, teve uma discreta administração ao longo de oito meses.
Antes do governo Rogério foi vice-prefeito de Carlos Bezerra, em Rondonópolis. Sua chapa foi eleita em 1992 e dois anos depois Bezerra deixou a prefeitura para disputar e vencer a eleição para senador. Rogério conduziu a administração com serenidade, num período marcado pela turbulência agrária em seu município e redondeza, pelas ações de invasões de propriedades promovidas pelo MST e movimentos regionais de sem terra.
Rogério foi um dos articuladores para a realização da Agrishow Cerrado, feira que aconteceu nos anos de 2002 a 2006 e que ficou na segunda posição nacional no ranking das feiras de tecnologia e volume de vendas de máquinas agrícolas, equipamentos, aviões e insumos. Com Rogério Rondonópolis entrou no processo de industrialização com foco na agroindústria.
Fotos:
1, 2, 9 e 12 – ALMT
3 e 10 – Instituto Memória do Poder Legislativo
4, 13, 14, 16, 17, 19, 20 e 21 – SECOM/MT
5 – Boamidia
6 e 15 – Agência Câmara
7 – O Globo
8 e 11 – Divulgação
18 – Agência Senado
PS – Postado em 31 de maio
Brigadeiro você é único
Boa análise.
Vi e conversei semana passada sobre o mesmo problema de Jaciara que Jangada também enfrenta. Conversando com alguns vendedores de pastéis, entendi pelas conversas, que em Jangada vão invertera as mãos para agradar alguns comerciantes e alguns proprietários de terras no entorno de Jangada, que por coincidência também fazem parte do poder estadual e federal.
Profesor Valdecy Vieira – Conselvan (de Aripuanã)