Boa Midia

De golpistas do segundo andar

Muito acima da falta de legitimidade da maioria das vozes que em Mato Grosso pedem o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. É assim que vejo a democracia brasileira, tão achincalhada em redes sociais por tantas vozes que não se caracterizam pela lisura democrática, pois a julgar pelo passado das mesmas – sempre atreladas e mamando no poder – não apresentam histórico de moralidade.
Entendo que o Brasil cansou de tanta sujeira, de parlamentares velhacos, de partidos de aluguel, de magistrados vulgares, da sujeira quase generalizada, que acontece exatamente pela conivência ao longo do tempo de muitos dos que ora gritam por ditadura.
Duvido – com uma exceção aqui, ali e acolá – que tais vozes mato-grossenses gritariam cara a cara contra os congressistas da bancada federal mato-grossense. Acho até, que a maioria se aproximaria deles, com o pires nas mãos, reverente, dócil e demonstrando admiração.
O furor contra a representação no plano nacional se transforma em doçura regional no trato com parlamentares e a magistratura. Quem botaria o dedo na cara do senador Jayme Campos, do deputado federal Carlos Bezerra, do desembargador Carlos Alberto Alves da Rocha ou do conselheiro Guilherme Maluf?
Quem faria isso? Essa é a questão. É cômodo se indispor contra o Congresso e o Supremo, que nesse caso se tornam praticamente figuras abstratas, mas na hora do nome aos bois – por aqui – a tradição aponta que o silêncio sepulcral continuará imperando.
Vejo figuras carimbadas do jornalismo vestindo camisa da moralidade contra o Congresso. Dá nojo!
Avalio que ao invés de bradar por um golpe de Estado, Mato Grosso deveria pressionar a bancada federal, da forma mais vigorosa possível; deveria promover manifestações contra o excesso de gasto do Judiciário, Assembleia, prefeituras, câmaras e o Tribunal de Contas do Estado. Avalio ainda que o eleitorado precisa assumir sua cidadania plena, não elegendo nem reelegendo figuras manjadas e desqualificadas. Fora disso é inconsequência cidadã.
Nunca escondi que defendi o movimento cívico-militar de 1964, que para muitos foi uma revolução e que para outro tanto não passou de golpe de Estado. Àquela época o mundo polarizado ou se alinhava aos Estados Unidos ou ao regime comunista soviético. Creio que fizemos a melhor opção, pois o lado perdedor não pregava democracia, pois se sustentava na proposta de uma república proletária e revanchista contra o sistema democrático dominante.
Jovem estudante, fiquei ao lado dos militares de 1964 e nunca neguei minha origem. Porém, agora, não sofremos nenhum tipo de ameaça comunista interna nem internacional como antes. O que nos atinge não é nenhum tipo de ideologia, mas a roubalheira, o sindicalismo desenfreado, a magistratura gorda e lenta, o compadrio do poder entre entidades e instituições, a velhacaria das emendas parlamentares e o excesso de direito adquirido. Cabe a nós mudarmos essa prática pela força do voto. Fora disso é retrocesso. Temo que os defensores do golpe vençam e que instalem no Brasil um regime ditatorial amparado em oportunistas – vejo a questão pelo ângulo mato-grossense, a julgar por figuras defensoras dessa ideia – que também são responsáveis pela república irresponsável em que o Brasil se transforma.
Muda Brasil. Mas mude democraticamente.  Que o presidente Jair Bolsonaro cumpra seu mandato, mas que não seja transformado em ditador. Caso ele entenda que diante das regras constitucionais seja impossível governar, que entregue o cargo ao vice-presidente general Hamilton Mourão. Penso assim pois ao votar em Bolsonaro de igual modo votei em Mourão sabendo que em caso de renúncia, morte ou vacância do cargo prevaleceria a linha sucessória.
Golpe não, por todos os motivos, inclusive pelo fato de em Mato Grosso o mesmo ser arquitetado por golpistas do segundo andar – os mesmos que no térreo ficam em silêncio.
Eduardo Gomes de Andrade – jornalista
eduardogomes.ega@gmail.com 
 
3 Comentários
  1. Elza Queiroz Diz

    Parabéns! Como sempre muita competência, coerência, sabedoria e humanidade em seu trabalho.
    Elza Queiroz – médica e ex-presidente do Sindicatos dos Médicos de Mato Grosso

  2. Vicente Vuolo Diz

    Belíssimo artigo, Eduardo. Entendo ser uma aula de Educação Política.

    Vicente Vuolo – assessor parlamentar no Senado, cientista político, articulista e ex-vereador por Cuiabá.

  3. Roberto Turin Diz

    Muito bom. Concordo plenamente com as conclusõe.

    Roberto Turin, promotor de Justiça

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